O I T O

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Stella

Eu ganhei o meu dia quando vi Nate entrar pela porta da sala todo sorridente. Eu com minhas intuições sabia que aquilo era muito mais do que parecia ser. Então quando tive a oportunidade perguntei ao Nate ao real motivo dele não ir para escola, a cara do Nate quando eu falei sobre ir para casa do avós entregou toda a situação. Assim que saí do bairro deles, passei em um shopping e comprei o par de tênis que qualquer garoto da idade dele iria amar. Pelo pouco que vi do Eric, ele era orgulhoso, fiquei com muito medo dele não aceitar por isso nem sequer assinei nada. E quando vi Nate conversando com os amiguinhos fiquei muito feliz por ele ter vencido o orgulho pelo filho.

– Tia! Tia! – ouvi a voz da Mel me chamar. 
– Oi, querida – respondi. 
– Pierre está fazendo Nate chorar – ela disse meio brava. 
– Nate é um bebê chorão – Pierre disse empinando seu nariz. 
– Você que é um chato, Pierre! Nate é muito legal – Luna rebateu, defendendo o amiguinho.

Olhei para o fundo da sala e Nate estava sentado lá, abraçado com seu Batman que ele não soltava por nada. Respirei fundo, me aproximei, agachando em sua frente.

– O que aconteceu, campeão? – peguntei, alisando seu cabelo. 
– Ele disse que não tenho mãe e que o papai dele disse que papai vai me deixar num orfanato – disse cabisbaixo. – O que é orfanato? 
– Vem cá – o peguei no colo. – Ele não sabe o que diz, seu pai te ama muito e nunca faria isso. 
– Eu vou ficar com papai pra sempre? 
– Sim, campeão – afirmei, deixando um beijo em sua bochecha. – Pierre pede desculpa ao Nate.

Ele resmungou, mas no final pediu desculpas e o clima estava em paz novamente. O dia passou de forma agradável e no final do dia, como sempre, eu estava na porta esperando os pais dos alunos para entrada.

– Papai! – Nate correu na direção do Eric e ele o recebeu de braços abertos.

Lembrei de algo e me aproximei de ambos, Eric me olhou com a sobrancelha erguida.

– Quatro reais, quer dizer varia de marcas e lugares, mas essa é a média — falei e Eric me olhou sem entender do que eu estava falando. – O preço do leite.

Ele riu fraco e ajeitou Nate nos braços.

– Era para você descobrir sozinha e não perguntar a alguém.
– E eu descobri sozinha, ok? Fui em um mercado e vi.

Ele assentiu, fez um aceno com a cabeça e saiu andando. Eu realmente não sabia quanto custava um litro de leite, não tinha a menor ideia. Ele estava certo quando disse que eu comprava coisas e não olhava os preços porque isso não me importava, não interessava se desse dez ou cem reais, eu pagaria de qualquer forma. Então entrei em um supermercado determinada a saber o preço de todas as coisas que eu comprei e principalmente do leite.

***

– Você está tão ridícula que estou quase pedindo sua miopia emprestada – Nina riu, quando entrei na cozinha para tomar um copo d’água. – Por que você está indo nesse jantar mesmo?
– O vestido não é tão ruim assim – murmurei, passando a mão no vestido rodado que eu era forçada a vestir toda vez que tinha um evento familiar. – Se eu não for você sabe.

Patético, né?! Mas minha mãe era assim, rígida e antiquada. Se ela me visse com as roupas que Nina me ajudava a comprar acho que ela teria um infarto na hora. Era ridículo o fato de eu ter vinte e dois anos e ainda ser obediente a esse ponto a minha mãe. Mas eu já gastei toda minha rebeldia quando bati o pé e entrei para faculdade de pedagogia. Ela odiava minha profissão. Odiava principalmente o jeito que eu a exercia. Meu pai era mais tranquilo, mas apoiava todas as loucuras da esposa. Nina se irritava com tudo isso, ela achava que agora que eu estava independente as coisas iriam mudar, mas não mudaram. Minha mãe nunca iria mudar, ela foi criada assim e achava eu devia ser também.

Sol que faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora