O bolo da mamãe

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Fiquei no piano por mais alguns minutos depois que aquela menina foi embora.
Ela parecia tão triste quanto eu. Com toda certeza os problemas que ela tinha não chegavam nem aos pés dos meus.

Como  pessoas podem apostar os filhos assim?

Precisava esfriar a cabeça, me distrair.

A PRAIA.

Eu sempre amei praia. O mar me deixava mais calmo. Então eu estava sempre lá.

Saí da sala e agradeci a recepcionista que me lançou um sorriso atrevida. Já ficamos antes mas nada fixo.

Entrei no carro e fui em alta velocidade até a praia. Eu gostava de sentir o vento no meu rosto enquanto dirigia.

O MAR ESTAVA LINDO...

Aquela espuma branca e o barulho das ondas. Era o meu tranquilizante.

Me sentei na areia e percebi que alguém sentou ao meu lado.

- O que um gato desses está fazendo aqui tão sozinho?-Perguntou a garota loira que havia sentado ao meu lado.

Ela era bonita.
Mas igual a todas, vazia.

- Apenas observando. Tentando esquecer dos problemas. - Abaixei minha cabeça.

- Eu posso te ajudar. - Ela estendeu a mão. - Marry Jane, prazer.- Apertei gentil.

-Prazer Mary, Shawn. Shawn Mendes. E eu espero que você consiga, tenho muitos problemas.

Nós fomos para um motel perto e transamos, mas ainda assim me sentia vazio.

Saber que eu ia casar com uma garota que eu nem ao menos conhecia, era triste e deplorável demais.

Cheguei em casa e estava chuviscando.

- Shawn! - Lala veio em minha direção com os braços abertos. Eu sentia que minha irmã mais nova era a única pessoa que não enfiaria um punhal nas costas.

- Oi minha lindona, como você está? - Passei a mão em seus cabelos.

- Eu tirei 10 na aula de inglês. - Ela jogou o seu cabelo pra trás de forma convencida.

- Que bom.- A abracei.

- Sabe o que a mamãe falou? Que vamos dar um jantar depois de amanhã, para conhecermos a menina que você vai casar.- Meu rosto foi se desfazendo aos poucos. - Mano, você ficou pálido. Quer que eu chame a mamãe?- Balancei a cabeça positivamente e Lala subiu as escadas em disparada.

Me sentei no sofá estático, eu só consegui piscar alguns segundos depois.

-Filho, você está bem? Sua irmã disse que você ficou pálido do nada.- Minha mãe segurou o meu rosto com as duas mãos.

- Eu queria saber porque o meu pai me apostou.- Olhei nos seus olhos.

- Meu menino, ninguém sabe. Eu também estou bem chateada com seu pai.- Ela me afagou em seus braços curtos, eu quase não cabia mais ali, que aquele era o melhor lugar do mundo.

- Ele não podia fazer isso comigo mãe, isso é tão injusto. Eu quero esquecer isso. Ainda tem aquele bolo que a senhora fez hoje de manhã?

- Claro, nada que o bolo dos Mendes não resolvam.- Disse me puxando para a cozinha.

Ela cortou um pedaço grande do bolo de chocolate e eu me sentei na bancada, como quando eu era um garotinho.

- Eu estava conversando com a Stace, a mãe da menina. Ela me falou várias coisas sobre sua futura esposa. Ela... -Interrompi ela com meu olhar.

- Não quero saber nada sobre essa menina. Deve ser uma baranga toda estranha.- Minha mãe riu e deu um tapinha no meu braço.

- Ah meu filho, eu vou sentir sua falta. Já que você quer surpresa. - Ela deu nos ombros.- Quer um conselho de mãe? Não se precipite sobre a Abigail.- Ela pôs as duas mãos na boca.

- O nome dela é Abigail? A mãe dela tem péssimo gosto pra nomes. Parece que ela tem 86 anos com um nome desses.

- De acordo com ela, era o nome da avó da menina que venceu um câncer e queria que a menina fosse forte como a mãe.- Ela enfiou o dedo no meu bolo.

- Quantas horas vocês ficaram conversando?

- Uma hora e meia. Mas falamos mais sobre o casamento. - Deus, que matraca!

- Resolveram muitas coisas?

- Sim, inclusive a data.- Engoli seco. Aquilo só derrubava minha tese de que tudo aquilo era um sonho muito louco.

- Sério?- Tentei me fazer de imparcial. - Pra quando?

- Daqui a um mês.- Disse animada. -Já vimos tantas coisas. Amanhã vamos ver o seu terno, quero que ele seja perfeito e alinhado. Ah, eu queria que você fosse na degustação semana que vem. Você pode?

- Ah, posso, claro, porque não?- Comer é sempre bom.

- Temos que ver o jantar, os salgadinhos, os doces e o bolo.

- Eu já estou cansado só de imaginar. - Dei uma risada tentando desfarsar. Minha mãe me abraçou de lado e sorriu pra mim. Eu sentia que podia contar tudo para ela bem naquele momento.

- Eu tenho medo de me decepcionar outra vez. Acontecer como da primeira vez.- Ela acariciou o meu  rosto.

- Não vai acontecer de novo filho, eu prometo.- Me encolhi nos seus braços mesmo sendo mais alto que ela.

NO DIA SEGUINTE...

- SHAWN, ACORDA, VAMOS PERDER A HORA.- Minha mãe  gritava de um lado pro outro no corredor me fazendo cair, literalmente, da cama.

Tomei um banho rápido e me vesti. Desci e tomei café e fomos para a loja de ternos.

A atendente ficou dando em cima de mim e trocamos telefones. Até que ela dava pro gasto.

Escolhemos um terno preto com uma blusa preta por baixo. Tinha um flor azul marinho no bolso que ficava do lado esquerdo. Minha mãe havia escolhido o do meu pai também.

Queria que isso tudo  fosse de um pesadelo e que logo minha mãe estaria gritando para me acordar.

♥·♥·♥·♥

A ApostaOnde histórias criam vida. Descubra agora