Hope

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Acordei com um barulho esurdecerdo  de um cortador de gramas a todo vapor as seis da manhã, olhei pela janela e vi o cretino do meu vizinho cortando a grama. Este tipo de situação é muito complicada de se entender. Afinal o que leva alguém a acordar as seis horas para cortar grama.

Quando consegui parar de desejar todo mau do mundo para aquele cara, me encaminhei para o banheiro, mais um dia de aula. Assim que liguei o chuveiro senti aquela água gelada tomar conta do meu corpo como se estivesse lavando minha alma. Fazia muito frio, já que estavamos no inverno mas eu não me importava. Fiquei ali, sentindo a água cair em minha pele como agulhas por quase meia hora, quando me dei conta de que se ficasse mais um segundo lá, chegaria atrasada a "escola", o que não facilitaria em nada as coisas.

Sai do banho me enrolando na tolha e fui pro quarto, abri o meu guarda roupa e peguei a primeira roupa que eu achei, pentiei o cabelo e olhei no espelho. Usava uma calça preta de jeans, uma blusa branca e uma jaqueta de couro e um cuturno mal amarrado, meu cabelo extremamente preto entrava em contraste com minha pele muito clara, eu me sentia um lixo, eu me achava bonita mas pelos nomes que levava na escola me sentia horrivel quando estava em público.

Deixei aquele pensamento para trás, pegando minha mochila e uma maça saindo e trancando a porta. Caminhei 20 minutos até chegar ao portão da escola, entrei pelo mesmo e senti todos os olhares em cima de mim. Cheguei até a sala de aula e todos se viraram para a porta para me olhar, sentei no meu lugar de costume, última carteira da sala lá no fundo, onde quase não era vista. Olhei para a mesa do professor e percebi que ele ainda não tinha chego, senti meu corpo todo se arrepiar e sabia que meu inferno cotidiano iria começar a qualquer momento.

Abri meu livro "10 formas de dizer adeus", coloquei meus fones e começei a ler. Não chegue nem a terminar a primeira frase da minha leitura quando senti alguem puxar meus fones, olhei pra cima e pude ver o capeta, mais conhecido por aqui como Ana Clara, ela era a menina mais "perfeita" da escola, loira, rica, patricinha, olhos azuis, namorada do capitão do time e lider de torcida, quer coisa mais clichê que isso? Essa menina é uma derrota

- Oi querida, como está o lixo da sua vida hoje? - ouvi ela dizer e continuei calada, desviei o olhar dela e continuei a ler meu livro, até que senti sua mão puxar meu rosto.

-Pesta a atenção em mim vadia enquanto eu falo com você, - ela riu ao ver a minha cara de medo. É claro que eu tinha medo dela, a última vez que a ignorei, fiquei quase uma semana em casa sem poder levantar de tanta dor, depois que ela mandou alguns garotos me baterem na saida.

- O que você quer garota?- perguntei.

-Eu quero que você seja a pessoa mais infeliz deste mundo sua nojenta. Olha em volta ninguem te quer aqui, todo mundo te detesa, você é feia, chata e nojenta, porque você não simplifica tudo e morre? - senti minha pele toda ficar quente de raiva daquela rata maguela, mas não disse nada, então ela continuou.

-Olha para você garota, nem sua mãe quer ficar perto de você, você é digna de pena- a sala toda começou a rir, quando já não aguentava o barulho das risadas, vi o professor entar na sala e todo mundo se calou.

Eu me sentia destruida por dentro. Talvez Ana tivesse razão, mas eu nunca deixaria que ela visse em minha face que eu concordava com ela e pior que eu estava triste. Jamais!

Continuei a olhar para frente como antes e o professor me olhava como se sentisse que eu não estava bem, porém nada disse e começou a aula.Quando me dei conta, já estava na hora de ir embora e eu não via a hora de sair daquele lugar. Segui o enorme corredor, até chegar na porta de saida. Já me sentia livre, caminhei de volta a minha casa pensando em como as pessoas eram más, e não conseguia enxergar esperança, que ia se esvaindo a cada dia de aula. As pessoas sentiam prazer em fazer o mal, em humilhar e maltratar.

Cheguei em casa e vi minha mãe com um sorriso largo sentada no sofá, me senti feliz ao ver que ela veio ao meu encontro e me deu um grande abraço. Por mais que ela não esteja comigo todo dia e que eu sinta muita falta de sua companhia, não posso deixar de perceber que ela passa todo esse tempo fora para me proporcionar um conforto que ela não teve.

Depois do longo abraço, me sentei ao seu lado no sofá e ela rapidamente mudou sua expressão, me olhado de um jeito que mais tarde entendi como: não tenho boas noticias. Esperei que ela começa-se a falar

-Queria, eu sei que você já está acostumada a viver aqui e isso não vai fácil para você, deixar seus amigos e tudo que você conhece aqui - ela fez uma pequena pausa e continuou- a gente vai ter que se mudar mais uma vez- É claro que eu nunca havia comentado nada com a minha mãe sobre o que acontecia na escola.  Raramente tínhamos momentos juntas e eu nunca quis destruí-los com o que eu considerava besteira de adolescente. Afinal, eu não era a única naquela situação na escola.

-Pra onde nós iremos?

-Nós teremos que partir ainda hoje, iremos para Oregon.

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