Capítulo QUATRO

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Passo pelas mulheres que estão preparando a carcaça dos animais que serviram para nos alimentar na última refeição. Elas separam ossos, dentes e nervos para usarmos nas pontas das flechas e nas facas. As peles servirão de cobertores, quando o frio de verdade chegar.

Aproximo-me das crianças brincando em volta dos galões onde a garapa fermenta para virar pinga. Sento-me perto delas, fingindo participar de alguma brincadeira. Observo os aligortes reunidos a alguns metros. Procuro Jafar, mas não o vejo.

Três guerreiros estão afastados da maioria e estudam atentos o alojamento. Um deles olha para mim. Por não pensar em outra coisa, sorrio. Ele sorri de volta e continua olhando ao redor.

É como se eles estivessem nos vigiando. Para quê?

O filho de Jafar, Maison, passa apressado pelos três guerreiros que fazem a vigília e vai em direção à maioria aglomerada, mas passa direto e entra pela porta do galpão onde acredito que se encontra Jafar.

Eles estão na parte final do alojamento e atrás deles está a floresta. Decido não passar pelos guerreiros e dar a volta na mata.

Passo pelo portão do alojamento e não vejo Max ou Líria. Penso em perguntar a César se ele os viu, mas não tenho tempo. Não quero perder o que Maison tem a dizer para Jafar. Pela sua pressa, imagino que seja algo importante.

Corro, mas diminuo o passo quando me aproximo do meu destino. Não quero que ninguém me veja ou ouça. Não acredito que tenha algum guerreiro aligorte vigiando esta parte da floresta, mas não posso arriscar.

Quando estou quase chegando, avisto Jonas na árvore mais próxima desta parte do alojamento. Ele olha para mim e eu faço sinal de silêncio, levando o indicador à boca. Ele assente, me pede que espere e sobe mais alguns galhos na árvore. Ele já entendeu que quero me aproximar dos aligortes. O que mais eu estaria fazendo ali, sorrateira?

Mais do alto ele me dá sinal livre, o que significa que realmente não existe nenhum guerreiro aligorte vigiando por aqui. Pisco para ele e continuo avançando.

Chego à nossa cerca de proteção e não avisto ninguém. Nenhum guerreiro passaria ileso por essa cerca, cheia de espinhos, alguns venenosos. Mas eu sou menor que um guerreiro comum e começo a cavar a terra. Quando acho que tem espaço suficiente para meu corpo, tiro o moletom de Max e passo por baixo da cerca.

O galpão em que se encontram os aligortes tem apenas uma janela e é grande. Era onde guardávamos alguns mantimentos, colchões, sacos de dormir, roupas pesadas e outras heranças do mundo antes da catástrofe que acabou com tudo. Meu povo encontrou um alojamento subterrâneo décadas atrás. Dizem que as pessoas que viviam lá embaixo ficaram presas e morreram de sede muito antes de seus ossos serem encontrados. Sinceramente, não sei se isso é verdade ou apenas uma lenda. De qualquer maneira, o que me interessa é a utilidade das coisas que foram descobertas. Como as pessoas que a usavam morreram não faz diferença.

Me aproximo da janela devagar e, para minha sorte, ela está destrancada. Espero um momento. Quando não escuto nada, abro um pouco, bem devagar. Espero mais. Nada. Me aproximo e observo lá dentro.

Jafar conversa com Maison, mas eles estão muito longe e não posso ouvi-los. Maison parece um pouco nervoso, ao contrário de Jafar, que parece tranquilo e... alegre.

É impossível escutá-los e tenho dificuldade em enxergar seus lábios para tentar lê-los. Estão muito longe, o galpão é enorme.

Começo a observar o lugar e fico intrigada. Os colchões onde os aligortes deveriam estar dormindo não estão espalhados pelo chão, mas enfileirados em um canto. Eles fazem isso todo dia de manhã e os arrumam para dormir novamente à noite? Duvido!

2323 - Sobreviventes do Caos (Distopia)Onde histórias criam vida. Descubra agora