Capítulo DOIS

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Acordo, mas não abro os olhos na tentativa de manter o sonho vivo. Nele, corro na floresta com meu irmão, enquanto ele tenta me ensinar como desviar rapidamente dos obstáculos. Sou pequena demais para aprender e minha mãe, que nos observa, se diverte com o empenho de Julio.

– Ela é muito pequena, meu amor – diz minha mãe ao se aproximar e beijar a bochecha do meu irmão.

– Ela precisa aprender. Precisa ser forte!

– Ela será! Como você, como o papai.

Minha mãe me pega no colo e me beija no rosto.

Não é um sonho, é uma lembrança. Lembro-me desse dia. Meus pais ainda eram vivos e cuidavam de mim. Foi antes de nosso pai nos trair. Foi antes de eu ver minha mãe levar um tiro na testa.

A imagem vem na minha mente: minha mãe sussurrando para que eu aguente firme e sua cabeça indo para trás de repente, com o impacto do tiro.

Me levanto em um pulo, fazendo força para que a imagem saia da minha cabeça, mas ela permanece. Vejo repetidamente a morte de minha mãe diante dos meus olhos. Começo a suar e escuto gritos. Uma garota grita desesperadamente, como se sentisse uma dor enorme. Temo que estejamos sendo atacados.

– Celine! Celine! – escuto a voz de Max e sinto seus braços me sacudirem.

Abro os olhos e vejo seu rosto preocupado olhando para mim. Logo em seguida, Darion entra no quarto com uma faca na mão.

Ainda não sei por que todas as vezes que eu tenho esse pesadelo Darion aparece armado, pressupondo que eu esteja sendo atacada. Max fazia isso no começo. Hoje ele já sabe que se trata apenas de um pesadelo e que eu grito enquanto ainda estou dormindo.

Max acaricia meu rosto e Darion respira aliviado. Ele realmente achou que eu estava sendo atacada. Afasto a mão de Max e me levanto rápido, usando a barra da camiseta para enxugar meu rosto molhado de suor. Darion me olha em expectativa.

– Estou bem.

Ele concorda e sai do quarto. Olho pela janela e percebo que ainda é noite. Não devo ter dormido nem duas horas, mas já estou a todo vapor.

Vou em direção à porta do meu quarto, quando sinto algo leve atingir minhas costas. Me viro e vejo que Max jogou seu moletom em mim. Olho para o traje preto, característico da fortaleza.

– Tá frio pra caralho – ele diz, antes de passar por mim bocejando, voltando para seu quarto.

Visto o moletom e me dirijo lentamente até o portão do alojamento. José abre caminho assim que me vê. Sorrio de maneira falsa e ele finge não perceber, sorrindo docemente de volta.

Incrível como meus guerreiros me conhecem. Eles sabem quando devem ficar de boca fechada e não me aborrecer com perguntas idiotas. Gostaria que o restante de meu povo tivesse a mesma postura. Mas eles não me conhecem tão bem.

Acho que só conhecemos uma pessoa de verdade quando passamos por momentos de sobrevivência ao lado dela. São nessas ocasiões que mostramos quem realmente somos. Quando a possibilidade de morrer é grande, nenhum mentiroso mantém sua farsa. Nenhum traidor continua fingindo lealdade. Nessas situações, vemos quem está do nosso lado de verdade. Quem morreria pelo outro.

Continuo caminhando até que a adrenalina passe. Começo a me sentir um pouco cansada, sonolenta. Isso é muito raro. Deve ser porque não durmo direito desde que meu irmão foi até a fortaleza.

Será que foi uma boa ideia? Quando meu irmão me disse que iria, eu fui contra, claro. Principalmente por ele querer ir sozinho e desarmado.

O objetivo da viagem era esclarecer à fortaleza que não iniciamos mais uma guerra. O que mais queremos é paz. Mas tivemos que ajudar os aligortes, senão o povo da areia acabaria com todos. Meu irmão deu a ordem para intervirmos. A missão era diminuir as mortes, mas o povo da areia não nos deixou pacificar a luta e fomos atacados também. Tivemos que matar alguns.

2323 - Sobreviventes do Caos (Distopia)Onde histórias criam vida. Descubra agora