Capítulo SEIS

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Minha mãe está nervosa. Ela segura minha mão e posso sentir que treme. Continuo andando, apesar do cansaço. Mamãe disse que não temos tempo. Papai está mais a frente, abrindo caminho pela mata fechada.

Não vejo de onde sai o guerreiro que o derruba. Minha mãe grita e me puxa para mais perto. Sinto mãos me carregando, me afastando de minha mãe. Grito e me debato. Mas é em vão, sou levada com facilidade.

– Celine! – mamãe grita por mim.

Mas não posso vê-la, apenas escuto seus gritos. Um tiro faz com que eles cessem.

Sou colocada no chão e vejo um homem enorme apontando uma arma para cima. Mamãe é colocada ao meu lado e ela me abraça, sussurrando para que eu fique calma. Promete que dará tudo certo. Meu pai está ajoelhado à nossa frente, e ele nos observa com horror nos olhos.

– Jorge, Jorge, Jorge... – diz o homem que atirou para cima – Onde estão minhas armas, Jorge?

– Eu vou consegui-las, Pietro. Não é fácil conquistar a confiança da fortaleza.

– E para onde você estava indo com tanta pressa, acompanhado de sua família? A confiança da fortaleza fica naquela direção? – o homem aponta para onde estávamos indo.

Meu pai suspira e minha mãe me aperta em seus braços.

– Por favor, Pietro, não as machuque. São inocentes.

Pietro olha para nós. Minha mãe beija minha cabeça, sem olhar o que acontece à nossa frente.

– Inocentes... – Pietro repete, ainda olhando para nós – Sabe o tipo de pessoa que eu mais odeio, Jorge? – meu pai não responde, apenas o encara assustado – Traidores. Você é um traidor, Jorge. Traiu a confiança da sua família e de seu povo ao fazer uma aliança conosco. Talvez elas sejam inocentes, mas sua traição custará suas vidas.

– Não! – meu pai grita e se levanta.

Pietro atira duas vezes em seu peito. Tomo um susto, mas não grito. Minha mãe me levanta rápido pelos braços, e me lança para frente.

– Corra! – ela grita.

Desobedeço sua ordem e me viro para ela. Alguém me puxa pela camiseta e me segura. Começo a chorar. Minha mãe grita, enquanto se debate contra um homem grande que segura seus braços. Ela chora também.

– Mamãe... – choramingo.

Ela olha para mim e vejo o quanto ela está assustada.

Minha mãe é colocada de joelhos e Pietro se aproxima. Meu coração bate muito rápido. Minhas mãos estão suadas.

Pietro levanta a arma em direção ao rosto da minha mãe. Ela controla o choro e respira fundo, antes de olhar para mim.

– Aguente firme – ela sussurra.

Vejo quando sua cabeça vai para trás com força.

Acordo e abro os olhos. Não estou tão assustada como costuma acontecer quando sonho com minha mãe. Olho ao redor. Savana dorme e Luke esta sentado ao seu lado, olhando para a porta do galpão.

Ele está sem moletom agora e posso ver seus braços torneados. Começo a me levantar e percebo que sua blusa me servia de travesseiro. Ele me escuta e olha para mim.

Sento-me e me apoio na parede. Meu braço está enfaixado com a barra da minha camiseta. Ainda dói, mas não tanto. É suportável.

Olho ao redor novamente. Ainda estamos sozinhos. Observo Luke. Quem é ele? De onde veio? Preciso conhecê-lo melhor, saber com quem estou lidando. Talvez precise de sua ajuda para sair daqui. Ele seguiria Savana de qualquer maneira e eu não planejo deixá-la para morrer.

2323 - Sobreviventes do Caos (Distopia)Onde histórias criam vida. Descubra agora