Capítulo SETE

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Tito busca um banco e o coloca na frente de nossa cela. Jafar se aproxima e se senta. Max permanece em pé, ao seu lado.

– Boa noite, Celine – é a voz de Jafar e está carregada de falsa gentileza.

Mas, não olho para ele. Meus olhos estão grudados em Max, que me olha impassível.

Não sei como está minha expressão. Imagino que reflita a tristeza que sinto ao olhar para uma das pessoas em quem eu mais confio no mundo. Talvez seja uma idiotice minha, afinal nos conhecemos há apenas um ano. Mas eu sempre senti como se nos conhecêssemos a vida inteira.

– Como se sente? – Jafar insiste.

Não consigo desgrudar os olhos de Max, então não respondo. Ele veste uma calça cinza e uma camiseta preta. Não é muito justa, mas posso ver seu corpo musculoso através do tecido fino.

A tristeza aumenta no meu peito e eu mordo meu lábio inferior para reprimir o choro que começa a me sufocar. Acho que Max percebe minha reação, pois aperta o punho direto, apesar de seu rosto não mostrar qualquer sentimento.

– Eu sabia que a presença dele te desestabilizaria, mas não a esse ponto. Nunca te vi chorar, querida. Hoje terei esse prazer? – sinto pelas palavras de Jafar o quanto ele está gostando deste momento.

Mas, ele tem razão. Nunca deixei que ninguém me visse chorar, com exceção de meu irmão e Darion.

Paro de olhar para Max e o encaro. Preciso me concentrar, pensar nas pessoas que amo e que dependem de mim. Noto que ele está desarmado.

Ele espera que eu diga algo, mas permaneço em silêncio. Sei que minha expressão de tristeza já se transformou em raiva. Jafar sorri pra mim.

– Peço desculpas pelo meu filho. Não estava em nossos planos atirar em você, Celine. Mas não se preocupe, Mario virá em breve cuidar do seu ferimento.

Por que ele me concederia essa gentileza? Só consigo pensar que ele quer algo em troca.

Permaneço imóvel, olhando para Jafar, que está sentado com as pernas cruzadas. Agora, percebo como a idade marca sua pele. Ele está velho. Meu pai teria a idade dele, se estivesse vivo.

– Às vezes, as coisas saem do controle. Você deve saber disso, como a boa estrategista que seu irmão lhe ensinou a ser – pensar em meu irmão aumenta minha raiva e eu passo a respirar pesadamente. Sinto quando Luke se aproxima de mim e para a um passo de distância. Max olha para ele, sem demonstrar nada – eu não pretendia tomar o poder do seu povo tão cedo, mas a saída de Julio me obrigou a improvisar – o nome do meu irmão na boca desse desgraçado me faz ficar enjoada. Posso escutar minha respiração – ora, não fique tão irritada. Seu irmão ficou no passado. É melhor você se preocupar com outras coisas. Ele já está morto.

A ira dentro de mim explode e eu me jogo contra a grade violentamente. Jafar se assusta e se levanta. Ao sacudir a grade meu braço dói, mas eu não ligo. Esse filho da puta não vai me dizer que matou meu irmão!

– Mentiroso desgraçado! – vocifero – Você nunca seria capaz de encostar um dedo no meu irmão! – sinto o sangue do meu ferimento se espalhar pelo meu braço, mas não paro. Sacudo a grade com toda a minha força – Eu vou matar você!

Tito tira o facão das costas e se aproxima. Escuto Savana gritar e sinto os braços de Luke me puxando pela cintura. Mas eu não largo as grades, meus dedos a seguram com toda a força. Luke me imobiliza e aproxima o rosto do meu ouvido.

– É exatamente o que ele quer: te ver assim. Veja a satisfação no sorriso dele – ele sussurra e sei que ninguém mais além de mim pode ouvir.

2323 - Sobreviventes do Caos (Distopia)Onde histórias criam vida. Descubra agora