0.6 | uma rosa deslumbrante e perigosa

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Inverno, 2025

As manhãs de finais de semana são sagradas para Lauren. Inevitavelmente acorda perto do despertar do sol, fuma um cigarro na varanda, toma seu desjejum com a mãe e passa horas e horas presa em sua estufa privada.

A estrutura com paredes de tijolos e vidraças laterais, pé direito de cinco metros e teto retrátil fora construída em 2022 como presente de aniversário de Nikoleta a filha primogênita, quem desde criança nutre um profundo e verdadeiro apego a flores e plantas. E todas a partir daquele momento foram plantadas e cultivadas pela herdeira Mayhew.

Lauren entra na estufa de calor atípico acompanhada de uma boa xícara de chá para lhe fazer companhia no aperfeiçoamento de suas responsabilidades favoritas. Tudo ali é programado perfeitamente para reger a maior variedade de espécies: o clima, a luz, a irrigação calculada e particular.

Há dois corredores extensos no ambiente, nos quais dividem três bancadas de terra mexida e assentada. Margaridas, lírios, rosas, girassóis, bordo, hera, sabugueiro, tulipas, calêndulas.

O clima costumeiro da Inglaterra a impede de plantar qualquer coisa nos solos ingleses abertos, principalmente no inverno, e independente do frio lá fora, Lauren pode se afugentar para dentro da estufa, como tem feito cada vez mais e mais desde a perda de seu pai alguns meses atrás.

Não neva, mas o dia de domingo é congelante e nublado, típico de Argos. A herdeira Mayhew veste um de seus casacos de lã bege, calça escura de alfaiataria e se faz necessário arregaçar as mangas para tomar os devidos cuidados em não se sujar enquanto cuida de suas rosas, arrancando alguns espinhos vez ou outra.

Tudo o que se procura será descoberto; e aquilo de que descuramos, nos escapa.

Estar próxima da flora acalma a alma de Lauren. É visível a distração e fuga dos mais maldosos e incessantes pensamentos nos quais percorrem a mente da garota e o quanto acalentar algo íntimo e apenas seu, intocado por estranhos, a leva a uma diferente realidade.

Por vezes Lauren se imagina distante de Argos, nascida em uma família comum, pais ordinários e criação monótona. Dias aconchegantes em uma casa de 50m², quem sabe irmãos, um cachorro, uma gata, um futuro sem palpites e idealizações ambiciosas.

Parentes próximos, confraternizações calorosas, assistir sua mãe cozinhar um bolo de café da tarde ou passar as madrugadas vendo filme e comendo pipoca no sofá da sala.

Entretida em sua tarefa, intercalando goles de seu chá, Lauren deixa de ouvir a porta de vidro da estufa ser aberta. A visitante prefere o caminho silencioso pelo corredor do ambiente, observa as costas eretas da morena, olhar fixo na rosa-vermelha e seu caule limpo.

Muitas manhãs tem ele sido visto nesse bosque, a aumentar com suas lágrimas o orvalho matutino e acrescentando com seus suspiros fundos novas nuvens às nuvens existentes. — Camila proclama um trecho da peça de Romeu e Julieta para chamar a atenção de Lauren.

Ela ergue o queixo e sua testa forma um vínculo sutil. Lauren interrompe a atividade e se desfaz do uso do descascador de haste verde, o deixando na bancada de serviço.

— Ora, ora, me visitando em plena luz do dia? Está febril, heartless? — Inclina a cabeça para a direita. — A que devo a honra da sua presença?

A linha da boca de Camila forma um sorriso sem mostrar os dentes.

— Nunca viera aqui antes. Sei que invadi seu espaço particular, mas é lindo, Lauren. — Responde. — E sua mãe quem me indicou o caminho. Ah, tivemos também uma conversa adorável. Ela me chamou pra almoçar, pediu pra não demorarmos aqui e ainda me deu isso. Aqui. — Joga o pacotinho dourado na bancada em frente a Lauren, surge um vinco em sua testa com a cena. — Camisinhas de presente.

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