0.8 | vingança se come quente

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Inverno, 2025

Em Argos, a forte presença de butiques é notada com clareza.

Sentada no banco de trás do Rolls Royce acompanhada de Camila e Cal, And, como prefere ser chamada, observa pela janela a porção de lojas de marcas de grife quando o carro estaciona para elas descerem. Jamais vira nada parecido em Boston. Muito por não frequentar lugares como esse na cidade ou por não ter o dinheiro suficiente para sequer saber da existência de um espaço dedicado a vestimentas de luxo por lá.

Quer dizer, quem em sã consciência paga mais de mil dólares em uma bolsa na qual malemá se é usada?

Libras, ela se corrige. Tudo se é gasto em libras na nova cidade onde se faz seu novo lar.

O motorista particular de Cal abre a porta para a garota e ela quem desce primeiro. A novata nem nota a movimentação das colegas e ainda na janela, mantém o semblante boquiaberto com as luzes chamativas das lojas de nomes complicados. Essas lojas sempre existiram fora de sua realidade. Camila revira os olhos com a cena.

— Você vem? — Ela pergunta. — Chegamos.

A ruiva franze o cenho.

— Ah, sim. — Coça a garganta. — Claro. Vamos.

As duas saem do carro mais caro do mundo com uma naturalidade fantástica. O vento gelado as atinge, não chega a ser cortante, mas And pede silenciosamente por um casaco mais grosso ou um bom aquecimento dentro da butique. Desejava estar em uma cidade quente, ver o sol ao acordar, cansada das nuvens carregadas e dias cinzentos, a garoa fina e o frio. Para ela, o frio carregava sua própria atmosfera enlutada.

Embaixo do toldo, as três se enfileiram no início da passarela de lojas, um extenso corredor de butiques, pouco movimento entre os espaços. Mulheres desfilando sorridentes com sorriso esbranquiçados e falta de expressões nas peles firmes, sem rugas e bem tratadas. Acompanhada delas, motoristas têm a tarefa de levar as sacolas em seus encalços.

And, hesitante, pergunta.

— Em qual vamos primeiro?

— Andrômeda, é você quem escolhe. — Cal enlaça seu braço direito com o da ruiva.

— Podem me chamar de And. E... não sei. — Solta um riso sem graça. — Não tenho ideia por onde começar. Onde vocês costumam ir primeiro?

— Camila ama as bolsas, já eu prefiro os sapatos. — Explica. — Mas por que não vemos algumas roupas antes, hã?

A novata assente.

— Pode ser.

And segue suas mais novas amigas. Cal quem guia o bando. A britânica entra na segunda loja à direita, a placa sinaliza em caixa alta e luz esbranquiçada, moderna, especializada em roupa, acessórios de luxo, perfumes, óculos de sol e cosméticos, nas quais a ruiva jamais imaginou usar ou sequer experimentar.

Elas entram na Burberry.

A atriz de Boston gostaria de não demonstrar falta de costume, mas os lábios rosados de gloss a traíram. Seu queixo cai e ela toma seu tempo para assimilar a loja, na qual sua fachada entregava pouca coisa, mas por dentro é uma verdadeira fortaleza luxuosa de luzes amareladas, espaçosa, piso claro com manchas suaves de bege.

O pé direito de cerca de 10 metros, três andares expandidos, um dedicado a uma especialização: roupas, acessórios e perfumes. No térreo, uma bolsa grandiosa preta com a logo da marca ocupa boa parte do salão, é uma atração e tanto o manequim maior do que os humanos. No seu lado direito, bolsas, óculos de sol e sapatos em nichos brancos.

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⏰ Última atualização: Oct 26 ⏰

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