0.5 | cerimônia de poesia

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Inverno, 2025

Cerimônia de poesia, tradicionalmente peculiar na comunidade de Argos. Alunos, corpo docente, familiares e convidados se reúnem, de ano em ano, para prestigiar os em breve formandos em artes cênicas pelo Conservatório MontClaire. Aclamado no país, quiçá no mundo. MontClaire e Argos se unem para atrair os mais talentosos, brilhantes, ricos e belos jovens. Suas atrações principais: desejo, poder, luxúria, e barras de ouro em excesso.

Na virada pontual da tarde para noite, os convidados marcam presença no pavilhão central, mais precisamente, no salão teatral onde ocorre a cerimônia. Trajes formais para os moradores da vistosa província é praticamente pijama, esbanjando da mais nova coleção de ternos Hermès, sapatos Louis Vuitton, bolsas Prada e acessórios Cartier e Rolex.

Entre o grupo de amigos, Lauren é a primeira a chegar. Em suas formosas vestes, calça de alfaiataria marrom, camisa de seda quadriculada entre o preto e o branco, casaco de veludo bege claro e o cachecol combinando com a peça de baixo.

No encalço da filha, Nikoleta, esbanjando o corpo invejável de uma mulher na beira dos 50 anos, vestida de Dior, marcada pelo vestido longo verde-escuro, simples, caído, sem muitos detalhes ou cortes extravagantes, exaltando a cor natural de seus olhos.

Na entrada, Lauren retira o casaco e o acessório de algodão. Sua mãe também entrega o sobretudo e as duas atravessam o ambiente juntas.

— Qual o horário da sua apresentação, pestinha?

— Perto das 20:00. A senhora pode ir com calma na degustação de vinhos até lá.

— Quem vê parece que você é a mãe aqui. — A mulher mais velha entrelaça seu braço no da filha. O lugar exala espaços vazios a serem preenchidos em breve, bistrôs para o suporte para taças e aperitivos, não há mesas ou cadeiras, sequer luzes extremamente reflexivas. — Sua namorada já chegou? Gostaria de trocar uma palavra com ela e lhe relembrar o significado de limites novamente. Vocês duas extravasam na madrugada, pestinha.

— Camila não é minha namorada, mãe. Bem sabe disso. — Clarifica. — E ela chegará em instantes. Possivelmente está a espera de Ditri e sua demora genuína em se arrumar e sempre estar irritantemente igual com aquele cabelo lambido dele.

— Se é assim, te faço companhia.

Lauren assente.

As mulheres Mayhew avistam os convidados mais pontuais. Garçons servem generosas taças de champanhe, dançando pelo cômodo grandioso, oval, inspirado na arquitetura barroca dos séculos XVII e XVII vindo da Itália, esbaldando das colunas e arcos, pinturas no teto e obras de arte de talentosos e renomados artistas formadas no Conservatório.

De longe, Achilles avista Lauren, igual uma águia a espera de sua presa nas margens dos rios e mares, caminhando tranquilamente entre os ricos e poderosos de Argos, nariz empinado, postura engessada como aprendido tão nova, roupas alinhadas e maquiagem perfeita.

Ele penteia com as mãos os fios de cabelo, cada um em seu devido lugar. Descarta a falação de seu pai com seus amigos igualmente entediantes ao seu lado, discutindo soluções para o eventual problema da força policial em Argos.

Kavanaugh Cavendish, o alemão de cabelos loiros curtos e ombros largos, desabotoa o smoking.

— É um alerta o que houve com você, Achilles. Esses garotos, essa faculdade, essa cidade.  — Balança a cabeça. — Podemos ir para longe, América, Ásia.

— Pai, Munique foi uma fuga, não funcionou. Estamos bem aqui e devemos permanecer por mais um tempo.

Kavanaugh agarra o braço do filho.

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