1. O Nascer do Sol

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Uma risada estrondosa a fez abrir os olhos repentinamente.
Tess Jordan estava acordada e se sentia triste por isso. Virou o corpo preguiçosamente para o lado e enrroscou-se no cobertor.

Ela revirou-se mais uma vez buscando uma posição confortável em sua cama. Encarou o teto e a lâmpada suja a encarava de volta. As risadas altas ecoavam pelos corredores até chegar aos seus ouvidos. A garota já havia se acostumado com os encontros de sua tia Francine com os amigos asquerosos que duravam até altas horas da madrugada, mas nunca entendera o que era tão engraçado e o que fazia eles se divertirem tanto.

Eram quatro da manhã. Foi o que o relógio velho em cima de sua estante lhe dissera. Nem se tentasse Tess Jordan não conseguiria voltar a dormir. As noites sempre eram conturbadas e aos poucos foi aprendendo a se acostumar com as poucas horas de sono que tinha. As olheiras pronfudas gritavam isso toda vez que ia ao espelho.

Frio. Seu cérebro reclamou. O inverno cinzento deixava o seu quarto gelado e o aquecedor estava quebrado, há muitas estações, por sinal.

Tess Jordan era uma órfã. E adicionando mais rótulos, solitária, esquisita e antisocial. Na verdade, ela perdera sua mãe assim que veio ao mundo, quanto ao seu pai um acidente de carro o levou para longe, nunca teve animais de estimação e tinha dificuldade de se relacionar com pessoas. Desde a morte do pai, a garota morava com uma tia distante. Francine era uma mulher solitária, talvez tivesse mais que quarenta anos, embora não aparentasse. Desde que a garota chegara ali, a casa de corredores escuros e longos e que exalava um cheiro de vinho não se mostrou muito aconchegante, Francine nunca estava presente e a garota não se lembrava de um único momento que a tia demonstrara carinho ou afeto. Com o passar do tempo ela percebeu que a mulher guardava bastante amargura dentro de si, e o jeito que ela encontrara de lidar com tudo eram os encontros com amigos superficiais e o consolo, era encontrado nas adegas.

Tess levantou-se da cama, caminhando pela madeira gelada até o banheiro, encarou o espelho por breves segundos. Seu cabelo curto e escuro estava cortado de forma desigual (ela não tinha habilidade com tesouras) sua pele era pálida e seus olhos eram azuis, mas ás vezes ela enxergava a cor cinza neles.
Minutos se passaram e a garota agora observava pela janela do quarto uma réstia tímida e brilhante invadir o cômodo vagarosamente. Ela se aproximou do vidro ao ponto de sua respiração manchá-lo. O nascer do sol era belo.

A neve era um cobertor que forrava a paisagem lá fora, e os raios do sol à fazia brilhar. De alguma forma aquilo era belo para ela. Era suficiente.

Tess passava tanto tempo sozinha que seus pensamentos pareciam conversar com ela. Esquecia o som da própria voz. Escutava o som das outras coisas.

Baixinho, o rádio antigo e pequeno, que antes pertencia ao seu pai, tocava o noturno op. 9 no. 2 de Chopin. Seu pai era um amante de música clássica, desde que ele se fora ela passou a escutar e acabou se apaixonando também. Talvez ela sentia seu pai mais próximo quando ouvia. Ele flutuava a cada nota. Juntos eles caminhavam pelos prelúdios de Bach, os balés de Thaicovisky, as sonatas de Beethoven. Tudo aquilo era belo.

- Jordan - a tia abriu a porta. E tudo pareceu voltar á velocidade normal. O belo era tímido e logo saiu do seu campo de visão, a música teve sua magia quebrada e os pensamentos foram interrompidos enquanto ainda falavam, chateados eles foram embora.

A garota virou-se, mas não muito.

- Abaixa essa merda, eu tenho visita - Ela retrucou enquanto bebia um gole do vinho que carregava nas mãos.

- Não está alto - Tess disse acostumada com a atitude grosseira que a mulher tomava quando bebia.

A tia passou a mão pelos cabelos grisalhos irritada.

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