Não estava conseguindo dormir. Revirava de um lado pro outro na cama, mas o sono não vinha. Estava com uma sensação estranha que não conseguia distinguir até então. Levantei-me e segui para fora do quarto. Suor escorria pelo meu corpo e uma adrenalina escorria pelas minhas veias. Uma vontade de descontar minha frustação em algo surge.
Sinto o vento frio da madrugada passar pela minha face. As folhas da árvore balançam em todas as direções, como se uma força as impedissem de seguirem o mesmo ritmo. Ando sem rumo pelo bosque, algo me chama. Não sei se é coisa do meu subconsciente, mas vou em direção a voz.
Henry venha, meu amor. Todos estão aguardando a sua presença.
Parece a voz doce da minha mãe. Minha doce mãe. Vou vingar sua morte Helena. Seja quem for que tenha acabado com a sua vida, vai pagar. Eu quero vingança.
Vou pela trilha, piso nos cascalhos que estão espalhados pelo chão, o cheiro de terra invade minhas narinas. Sigo em frente, passo às mãos pelo rosto para secar o suor que desce pela minha testa. Não sei porque estou assim.
Então a vejo. Minha mãe. Seus cabelos longos e seu vestido branco voam de acordo com o vento. Está linda. Uma luz está a sua volta. Coloco a mão nos olhos para vê-la melhor, pois a luz forte me impede disso.
- Mãe é você? - grito. - Mãe...
- Querido, tome cuidado. Não seja como eles.
- Mãe... O que está acontecendo? - pergunto confuso. - Me diga.
- Não seja como eles Henry. - repete novamente e desaparece como uma nuvem de poeira.
- Por quê mãe? Não me deixe. - peço e levanto as mãos na direção que ela estava agora a pouco. - Não era para ser assim.
E choro, choro compulsivamente como uma criança. Sei isso é muito estranho para um homem de quase dezoito anos, mas não ligo. A angústia e o sentimento de abandono me pega em cheio. Ajoelhado naquele chão, percebo que não sou nada.
Não sei quanto tempo permaneço ali, quando sigo de volta para minha casa. Aliás do meu tio, com quem moro desde que minha mãe morreu.
Abro a porta e o cheiro de mofo e madeira vem até mim. Agora me sinto bem. Até que enfim no aconchego do lar. Não tem nada melhor que isso.
- Onde você estava Henry? - meu tio Karl me pergunta.
- Lá fora. - aponto para o bosque. -Estava sem sono.
- Sei. - diz apenas e segue para a cozinha e eu o acompanho. - Conversando com quem?
Abre a geladeira e pega uma garrafa de água. Com a garrafa em mãos segue para o armário e alcança o copo. Serve-se e toma o líquido calmamente esperando a minha resposta.
- Com ninguém. - minto na maior cara de pau.
- Sabia que ela apareceria. - fala enquanto leva a garrafa novamente na geladeira e lava o copo que acabara de usar.
- Como assim? - me aproximo dele. - Mas eu não te disse nada.
Karl se cala e parece pensar em algo. Perdido em pensamentos ele encara o nada. Logo depois quebra o silêncio que se instalara.
- Um dia você saberá. - diz misterioso. - Agora vá dormir, já está tarde.
***
Acordo mais tarde de que o previsto. Ainda bem que hoje não tem aula por conta do feriado, senão com certeza eu me atrasaria . E por sinal, hoje é o meu aniversário. Dezoitos anos.
Vou em direção ao banheiro e tomo um banho. Me olho pelo espelho depositado acima da pia. Nada mudou. Cabelos escuros caídos na testa e olhos cor de mel. Rosto oval, um nariz mais fino que o normal e uma boca levemente carnuda.
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Meia-Noite
RandomHá sempre dois lados da moeda. Há sempre duas versões para uma história. E é você quem escolhe qual lado quer ficar. Você pode estar certo, mas também pode estar muito errado. E o final? Espere e verá! Henry aceitou o lado mais perigoso e por sinal...