um

420 40 23
                                    

Neblina matinal ondeava baixa, se dissipando lentamente enquanto o sol surgia tímido no horizonte, lançando raios de luz rósea na maré baixa.

Havia chovido na noite anterior, como indicado pelo ar limpo, permeado de orvalho, e as poças no campo de grama borrachuda que ficava antes da areia. Jungkook se abaixou, sabendo que danificaria sua calça de tecido nobre, e se encarou em uma delas. A água estava mais abundante do que seria comum, e tão parada que poderia ser um espelho. Seus olhos de roxo vivo cintilaram, encarando á si mesmo do reflexo.

Mas ele não lembrava de ter olhos dessa cor. Nem de como tinha ido parar nessa praia que desconhecia. Certamente, o filho do Conde Jeon morava em uma colina reclusa, de clima chuvoso, em meio á matas muito, muito, longe do litoral. Sua mão pálida de estendeu até a água, mas esta, era agora gasolina, o odor forte fazendo o garoto se afastar a tempo de não se queimar na labareda azul que se levantou.

Ele foi para trás sentado, carregando seu peso com as mãos, a respiração entrecortada. Algo estava muito errado. Seu corpo começou a tremer violentamente, em um ritmo controlado, partindo do ombro e do cotovelo esquerdo. Como... Alguém o balançando.

- Ei.

- Jovem mestre?

Jungkook abriu os olhos lentamente, se adaptando à luz fria e fraca que vinha das janelas. A criada baixa que sempre o acordava abria as cortinas pesadas como um robô, cantarolando uma melodia boba.

- Que horas... - engoliu em seco, procurando melhorar a voz matinal - Que horas são?

- Oito e meia, jovem mestre - a criada, por sua vez, tinha a voz clara. - Mas logo chega o inverno. Nesta época o sol nos ilumina em diagonal, e especialmente aqui em cima, as manhãs demoram a vir.

Soou um baque reverberante e o barulho de molas do colchão. Jungkook encarou o teto, soltando um suspiro. Ele tinha tido um sono turbulento, repleto de sonhos que não entendia e que lentamente escapavam de sua memória. Seria impossível seguir com suas atividades hoje, e isso era fato. O menino de cabelos escuros não via problema nas responsabilidades que ser nobre causavam, se esforçava nas milhares de classes inúteis que tinha, e evitava as faltar. Mas naquele dia, uma agonia apertou seu peito pensando em todas as horas de tédio a vir.

- Não, não, não. - a criada se aproximou dele e o encarou de cima - Vamos acordar. Você só tem uma aula de manhã hoje. Depois volta a dormir. O resto é só de tarde

- É esgrima?

- Você vai ficar desejando, garoto. Madame Meira exigiu uma hora com você.

Então ela riu baixinho em vista da expressão exasperada dele.

»

A sala decorada em tecidos caros e tons de roxo e vermelho estava especialmente escura aquele dia. As janelas estavam fechadas e lâmpadas á óleo queimavam nas paredes cor creme.

- Você continua com peito de pombo. Reto, Jungkook, reto.

Madame Meira não tinha nem levantado os olhos quando disse isso, estando estes focados em um livro pesado deitado em seu colo. A professora de etiqueta deveria ter sido linda um dia. Seus olhos de um tom castanho quente - agora transmitindo nada além de severidade, eram grandes e decorados por cílios longos, mas a velhice, e provavelmente, seus olhares rabugentos, os deformaram. O cabelo, agora ralo em alguns pontos, era ruivo cobre (o garoto tinha a teoria que ela tinha olhos escondidos ali, por isso via tudo toda hora).

- Se sente logo.

Ele concordou com a cabeça e se sentou na poltrona de tecido púrpura em frente á ela. O livro foi posto na mesinha e com suas mãos enrugadas seus óculos foram empurrados para o lugar certo.

- Então, Jeon Jungkook, com andas? Suas olheiras estão terrivelmente visíveis.

Os olhos de jabuticaba dele rodaram a sala, procurando em meio ao embaraço não a encarar. Uma ruga se formou entre suas sobrancelhas. Ele não tinha visto olheira alguma.

- Eu.. Uhm...

- Deus. - Madame Meira suspirou pesado, ainda mantendo a postura perfeita, mas emanando exaustão - Não deixe seus olhos vagarem assim. Você parece patético e ingênuo. Não contorça sua expressão assim, parece que nunca teve aulas de etiqueta! Como espera se tornar conde com hábitos de criança das ruas? E como posso começar a criticar sua fala? Tudo começa na sílaba que você...

Jungkook relaxou o rosto e fingiu escutar atentamente a palestra sobre fala que Madame dava, caminhando em círculos e gesticulando ocasionalmente. Sua atenção, entretanto, estava virada para a xícara cheia de chá dourado á sua frente. Era perfeitamente redonda, de um tom muito pálido de verde e repleta de orquídeas rosadas estilo aquarela.

Em algum ponto de sua vida, ele havia começado a fantasiar sobre aquele que escolhia a louça do castelo. Não saberia dizer quando, nem como certas coisas se definiram, como o fato de ser um homem, pouco bronzeado, de porte esguio e leve como uma fada, mas essas coisas haviam acontecido. E ele conseguia ver perfeitamente essa figura escutando alguma música sutil com uma taça pomposa de vinho nas mãos, cantarolando e encarando salas e salas repletas de louça linda. Conseguia quase sentir o toque de seus dedos longos na porcelana e o odor fresco do seu hálito. Sim, ele seria uma músico prodígio, e teria um piano de cauda em sua casa elegante, mas não conseguiria cantar por nada sorrindo enquanto o fazia mesmo assim.

- Eu quero uma redação sobre fala, setenta linhas no mínimo. E se eu notar qualquer besteira escrita apenas para chegar nesse limite, tomarei o horário de sua aula de canto para mim, ouviu?

Jungkook certamente havia ouvido, e um pânico crescia dentro dele lentamente.

- Para... - ele pigarreou, tentando seguir os padrões de fala perfeita dela - Para quando?

- Amanhã.

- Amanhã será. Com licença.

Então, ele saiu em passos curtos e rápidos, como uma corrida reprimida.

- Ande direito!

Assim que se intrincou o suficiente nos corredores espaçosos do castelo, certo de que seus passos não alcançaram os ouvidos da Madame, Jungkook transformou sua caminhada em uma corrida nervosa.

Ele se lembrava de correr assim, recentemente. Correr entre ruelas e becos de uma cidade grande, repleta de fumaça e carruagens. Conseguia recordar os sons perfeitamente.

Mas ele nunca tinha saído daquela colina. Não deveria ter a menor idéia de como a cidade grande soa.

VOLTEEEEI
E COM MIL E POUCAS PALAVRAS!
Vou fazer o melhor para atualizar essa fic, mas não posso prometer nasa além de esforço, infelizmente. Eu espero que vocês possam dar bastante amor para night wings, okay?

❤️❤️

NIGHT WINGS | JJK+MYGOnde histórias criam vida. Descubra agora