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Era época de morangos.

Foi a segunda coisa que a criada lhe disse, logo antes de perguntar porque havia acordado cedo. Ele apenas lhe dirigiu um sorriso charmoso e disse que havia tido um ótima noite. "Dia bonito, né?" Ela concordou. Era mesmo um lindo dia.

- Bem, jovem mestre, hoje sua primeira aula é esgrima. Vamos, vamos lhe vestir.

Jungkook imaginava que, no mundo de fora, fosse muito mais rápido colocar as roupas. Plebeus não tem dinheiro nem tempo pra extravagâncias como as dele. Ali, entretanto, existiam camadas demais de seda, algodão e veludo. Aquele dia, ele vestia um terno de veludo azul marinho-turquesa, com calças, casaco e colete florais combinando por cima de uma camisa branca - as cores de sua família. Ele só usaria essas roupas para o café da manhã - a esgrima exigia uma troca de roupas - mas a vida de nobre é construída a partir de costumes e aparências.

- Vamos ao café da manhã - a criada disse. Jungkook assentiu. Um estranha sensação pinicava por baixo de sua pele, como se algum tecido incômodo tivesse sido colocado entre sua derme e epiderme.

A criada o seguiu pelos corredores do castelo, como sempre fazia, com seus passos de felino. Se tentasse formar o rosto dela em sua mente, ele não conseguiria. Criados não olham nos olhos de seus mestres. Mas seu passo silencioso e rápido, menos uma corrida, e mais o jeito de quem flutua, este estava sempre fresco na memória.

Eles pegaram a grande escadaria oeste e desceram até a sala de jantar. Para a surpresa dele, haviam dois lugares postos a mesa.

- Seu pai se juntará a você hoje, Jovem Mestre - ela disse, e, com uma reverência, começou a se afastar.

- E...Espera.

Ela voltou a olhar para ele, e, por um momento, seus olhos se cruzaram. Ela era uma mulher bonita, que deveria estar em seus tardios vinte anos, e tinha cabelos castanhos claros, olhos azuis e face de boneca. Por um momento, ela achou que sentia uma aura estranha ao seu redor, um murmuro constante, como se ela chamasse e fosse chamada por algo, como se seus contornos fossem puxados em todas as direções, como se...

- Sim, Jovem Mestre?

- Não... não é nada. Me desculpa.

Ela fez uma reverência e se foi.

Jungkook estremeceu o corpo e tentou afastar a sensação pulsante que atravessava seu corpo. O mundo todo lhe parecia mais diferente. Quase como se ele pudesse ver as forças do universo em ação. A gravidade parecia mais forte. A conexão das coisas umas com as outras pareciam visíveis, palpáveis... alteráveis. Ele conseguia ver a relação da mesa com a cumbuca cheia de mirtilos, a relação dos mirtilos um com os outros, e, além disso, a relação de todas essas coisas com a gravidade.

Não era bem ver, ele notou. Era mais como um sentido extra. Uma antena a mais. Ele sentiu a relação do mirtilo com a gravidade vibrar, como a corda de um violão. Então, a frutinha azul escuro começou a subir no ar. Tropegamente, lentamente, e a custo de muito esforço, mas estava. Ele subiu alguns centímetros no ar. Então, passos soaram perto dali. O mirtilo voltou para a cumbuca em queda livre.

NIGHT WINGS | JJK+MYGOnde histórias criam vida. Descubra agora