Capítulo quatro.

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Trice

Impecável. É a única palavra que encontro para descrever o almoço que tive, Gustav é o melhor namorado do mundo, chego em casa e me desfaço de minhas roupas, e entro no banho ao som de "Oceano-Djavan"

Enfim, de tudo o que há na terra não há

Nada em lugar nenhum que vá crescer sem você chegar

Longe de ti, tudo parou, ninguém sabe o que eu sofri

Amar é um deserto e seus temores

Vida vai na sela dessas dores não sabe voltar, me dá teu calor

A cada verso lembro-me dos toques, do carinho...

Vem me fazer feliz porque eu te amo

Você deságua em mim, e eu, oceano

Me esqueço que amar é quase uma dor

Só sei viver se for por você...

Taylor

Pela primeira vez em anos estamos nos falando normalmente, ultimamente só brigamos e nosso casamento parece desfalecido.

—Tyler, vamos viajar?

—Tenho uma conferência em Florianópolis, não vai dar.

—Tyler, eu estou cansado! Cansado das suas desculpas para não sair comigo e com a Trice, é tudo o que você tem feito ultimamente, Trice não está bem pois teve que crescer vendo nossas brigas, e em nenhum momento você fez algo para mudar isso. Em nenhum momento você fez algo para mudar isso! Em nenhum momento você foi pai, mas tudo bem, acabo de lembrar que quem insistiu para adotar a nossa filha fui eu. Vou busca-la, voltaremos daqui a um mês.

—Tem certeza que vão ficar bem? —Tyler aperta forte meu braço e por um momento penso em ceder e me entregar, mas afasto a ideia e me afasto dele.

—Tenho certeza.

—Tudo bem.

Trice

Bate a primeira campa da manhã, arrasto Andy para a sala, e Gustav senta nos fundos com o grupo de amigos, a maioria pessoas arrogantes e incrivelmente egocêntricos.

Ao longo da aula eu e Andy trocamos olhares quando ouvimos as gargalhadas sonoras de Gustav ou de Castiel, não muito tempo depois, durante a aula de física, Andy abaixa a cabeça na carteira, dormiu, deduzi, mas ele vira levemente de lado, e vejo seus olhos marejados de lágrimas contidas.

Bate a segunda campa, puxo Andy pelo braço para o corredor escuro da limpeza, sentamos ali, naquele chão um tanto empoeirado em silêncio, e antes mesmo de perguntar o vejo desabar em meu ombro, não me contenho e sinto meus olhos marejados, envolvo-o e deito sua cabeça em minhas pernas, e ele se encolhe enquanto chora e soluça sem parar, meu coração aperta ao vê-lo tão vulnerável.

—O que te fizeram, meu amor? —Ele não diz nada, apenas me mostra o celular, na tela o que vejo me faz desabar em lágrimas. Mensagens de ódio e homofobia espalhadas por toda a parte, nos comentários das fotos no facebook, mensagens no whatsapp, twitter, instagram, de números desconhecidos, e ameaças de todos os tipos, mas uma me chamou atenção.

"Seu saco de aids, eu vou te pegar e te dar um trato e te descartar, veado nojento, VIRA HOMEM! Homem gosta de mulher! Vou te pegar, segunda-feira as 17;00 no coreto do bosque, esteja lá ou irei na sua casa. Serei obrigado a isso. Melhor levar Castiel também, do contrário vai morrer, frango! Te prepara, colabora com a limpeza mundial de vermes igual a tu que sujam a imagem de homens como nós."

No nome de usuário aparecia apenas "GUERREIRO OPRESSOR"

—Andy, você compartilhou isso com alguém?

—Você acha que é simples Trice? Eles irão me matar!

—Eles não vão fazer nada Andy, confia em mim.

—Não faça nada, deixe eu me virar, você já salvou minha pele muitas vezes.

—Não vou simplesmente deixar você se virar, não é assim que funciona, eu te amo e vou cuidar de você, queira ou não.

O que mais me dói é saber que o remetente daquelas mensagens estava ali, todos os dias, a poucos metros, pois sabia de tudo, sabia de Castiel, sabia o horário que saíamos.

—Olha, olha quem vem ali Gustav!! —E o deixo falando sozinho quando disparo na direção do carro de Taylor, que sai do carro e me dá um abraço apertado, me penduro em seu pescoço.

—Pronta para um banho de shopping, minha pequena sereia? —Taylor fala com animação no tom, me chama assim pois quando menor, tinha fissura pela princesa Aryel.

—Shopping? Sim, meu pai! —Digo, animada. —Posso levar o Gustav? —Falo com manha.

—Claro, filha.

Arrasto Gustav, que entra no carro.

Saímos do shopping cheios de compras mas algo me chama atenção, Gustav está desconfortável, não disse nada relevante para um primeiro encontro com meu pai, começo a pensar o pior quando estou conversando e rindo com Taylor e ele nos interrompe.

—Para onde vão agora, Sr. Vazn? —É perceptível o stress no tom de voz de Gustav.

—Iremos para Florianópolis, se quiser vir, é muito bem vin....—Gustav corta Taylor bem no meio da palavra.

—Se for possível, por favor, me deixe em casa. —Em pouquíssimo tempo o clima se tornou tão denso que é possível cortá-lo com uma lâmina.

Alpha Ville, condomínio do Gustav, Desço do carro e o acompanho.

—O que foi isso Gustav?

—Por que você não me disse? —Fala, rosnando.

—Seja mais específico, não estou entendendo.

—O seu pai... —Respira fundo. —O seu pai é vea... —Balança a cabeça e passa a mão no rosto, começa a suar e gaguejar. —Por que não me disse sobre o seu pai ser homossexual?

—Qual seu problema com essa condição? —Começo a ligar os pontos e não quero acreditar que Gustav seja o remetente das mensagens. —Seu melhor amigo é homossexual, e aliás, tem algum babaca o ameaçando de morte, olha pra mim Gustav, não é você, é?

—Opa, errado, Seu amigo, falo com ele porque não sou nenhum homofóbico, mas diga ao seu amiguinho para tomar cuidado.

—Andy diria que é melhor que VOCÊ tome cuidado. Falei pra você que fui adotada.

—Mas não falou que foi por dois veados.

—Qual seu problema, seu babaca? —Eu o empurro, mas ele parece uma fortaleza. —Não estou te reconhecendo Gustav... —Meus olhos marejam, minha voz embarga. —Você não... —Começo a ligar os pontos, ele me interrompe, cabisbaixo, e com um sombrio.

—Eu sou o Guerreiro. —Começo a tremer inesperadamente, e coloco as mãos na boca, as lágrimas escorrem pelo meu rosto, ele prossegue.

—Eu não estou sozinho... —Ele anda em círculos com as mãos para trás, a única luz é a de um poste distante.

—Então o Castiel, sabia...—Ele me interrompe. —Castiel não tem nada a ver com isso, pois realmente AMA o Andy, se é que me entende, aquele canalha nos abandonou para nos trocar por um veadinho qualquer.

—Castiel estava certo quando fez isso, porque não fazer o mesmo? —Digo, soluçando.

—CALA A BOCA! Você não sabe o que está falando. —Ele rosna as palavras.

—Eu tenho nojo de você Gustav, e eu nunca imaginei que diria isso. —Sinto uma mão pousar em meu ombro, viro quase que instantaneamente e me deparo com Taylor que simplesmente me puxa pela mão para junto dele e me abraça, então me leva para o carro.


Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora