Quando chegaram ao supermercado, e Ruth desceu da moto, suas pernas estavam bambas, mas não sabia dizer se era o medo da viagem ou se era por ter estado tão próxima a Vivian, praticamente grudada em suas costas.
___Então, foi tão ruim assim andar de moto?
___Você me prometeu que não ia correr.
___Mas não corri, em situações normais ando muito mais rápido que isso.
Vivian só podia estar de brincadeira, ninguém anda tão rápido assim de moto pela cidade ne?! Ou será que andam? Se fosse assim teria que dar uns puxões de orelha nela. aquilo era perigoso.
Foram até a entrada do supermercado e pegaram um carrinho. Ruth também tinha que pegar umas poucas coisas, mas seria rápido.
___Vamos pegar sua coisas primeiro. Já vou dizendo o que vai na receita.
Foram caminhando entre as prateleiras, pegaram leite, ovos,óleo e farinha, depois passaram na area dos laticinios, pegaram queijo e requeijão para o recheio. Vivian era viciada em todo tipo de queijo, queria panquecas desse sabor.
Estava passando pela área onde fica os achocolatados, quando Vivian parou por ali e ficou olhando.
___Hey Ruth, dá para fazer panqueca de chocolate?
___Não sei, nunca tentei, mas podemos testar.
___Ahhh que perfeito, testes culinários na minha cozinha. Estou eufórica.
E estava mesmo, era possível perceber a alegria só de olhar naqueles olhos cor de mel que parecia maiores quando ela ficava feliz.
Já havia pegado tudo, Vivian até aproveitou para levar algumas coisas a mais pra casa, umas barras de cereais, uma garrafa de vinho e comida congelada.
No momento que se dirigiam até o caixa, Ruth lembrou das batatas que precisava pegar, avisou Vivian.
___Preciso ir pegar algumas batatas, pode me esperar?
Ficou totalmente surpresa, quando Vivian falou num tom meio cantado e meio brincalhão.
___E se você não demorar muito, posso espera-la por toda a minha vida.
Quando notou a completa confusão no rosto de Ruth, se adiantou em esclarecer.
___É uma frase de Oscar Wilde.
Sem saber o que dizer de imediato, correu para pegar as batatas, Vivian ainda não havia passado no caixa, estava esperando por ela.
___Por que ainda não passou, Vivian?
___Porque disse que ia te esperar.
Passar no caixa demorou bem mais do que a paciência costuma suportar, mas por fim estavam lá fora. Apesar de já ser quase inverno, as tarde eram ainda bem quentes.
___Vamos tomar um sorvete? Tem uma barraquinha ali perto.
___Estou morrendo de calor. Mas acho que meu dinheiro não vai dar para o sorvete.
___Deixa disso Ruth, eu pago, é só um palito, não precisa se preocupar.
Deixaram a moto no estacionamento do mercado e foram comprar o sorvete, Vivian quis de abacaxi e Ruth de chocolate, sentaram em um banco que ficava debaixo de um grande ipê amarelo que fazia uma sombra deliciosa naquele calor infernal. Ruth queria saber mais sobre a frase.
___Aquela frase que você disse antes, quem é o autor mesmo?
___Oscar Wilde.Conhece?
Tentou puxar pela memória, aquele nome não era cem por cento estranho, então se lembrou havia começado a ler um livro desse autor ainda quando ainda estudava, mas não chegou a terminar.
___Eu me lembro de ter começado ler um livro dele, mas não terminei, lamentei ficar sem saber o final.
___Consegue lembrar qual livro era?
___O nome não, mas lembra que era sobre um rapaz que ganhou um quadro e depois não envelhecia mais.
___Nossa, eu sei que livro é esse, O retrato de Dorian Gray. Adoro esse livro. Você lê bastante, Ruth?
Deu um suspiro, nossa como ela adoraria poder ler mais, sem tem que esconder os livros, ela adorava ler.
___Quase não leio nada Vivian, na mente de Ezequiel tudo é pecado. As vezes leio escondido algum livro que pego na biblioteca, mas tem sido bem raro.
Vivian pega na mão de Ruth e tentar conforta-la.
___Isso não é justo Ruth, você deveria poder ler o que quisesse.
O toque da mão quente de Vivian sobre a sua parecia queimar, mandar ondas de carinho direto para alma dela, não queria soltar aquela mão nunca mais, mas precisou, o sorvete começa a escorrer do palito.
___Então, gostaria de acabar de ler o Retrato de Dorian Gray?
___Gostaria muito, mas não quero correr mais o risco dele se zangar.
A outra se manteve calada por alguns minutos e então disse de forma triunfante,
___Eu tive uma ideia, Ruth. Você pode ler na minha casa, todas as tardes, tenho vários livros e tenho esse do Oscar Wilde também. Eu saio para trabalhar e deixo a chave extra com você, é só entrar e aproveitar.
___Mas Vivian, eu ficaria sozinha na sua casa.
Um sorriso deslumbrante se abriu no rosto de Vivian, antes dela responder.
___Eu confio em você, pode entrar em mim casa a hora que quiser.
Pegou o chaveiro e tirou uma chave extra dele e entregou para Ruth
___Aqui esta. Agora Mi casa, su casa. Aproveite. Agora vamos, estou morrendo de vontade de comer essas panquecas logo.
E lá foram as duas de moto para casa, mais uma vez com Ruth grudada as costas de Vivian, mas dessa vez aproveitando a sensação boa que aquela proximidade causava.

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A Mulher do Pastor
RomansaRuth Viana casou se muito nova e vivia uma vida infeliz, com um marido dominador e fanático. Mas tudo começa mudar com a chegada da nova vizinha, Vivian Kampman. Duas pessoas tão diferentes que se aproximam e se completam.