A Mulher do Pastor

IV

      Haviam chegado em casa, a volta pareceu a Ruth bem mais rápida que a ida ao supermercado. Quando desceu da moto não conseguia conter o sorriso, tinha sido muito bom apesar do medo, muito bom mesmo. Vivian notou o contentamento de Ruth.

___Parece que já se acostumou com o passeio. Foi legal né?

___Se você não tivesse corrido tanto, até que seria.

___Eu não corri, é você que não esta acostumada, mas vejo pela sua cara que gostou.

___Eu gostei mesmo, nunca pensei que andar de moto fosse tão divertido.

      Então Ruth para de falar e se da conta que havia sido divertido não só pela moto, mas por tudo, pela companhia de Vivian, pelas compras que fizeram juntas, por ter ido abraçada a cintura da outra. Sentiu um mal estar súbito nesse momento, isso não podia estar acontecendo, não podia sentir o que sentia por Vivian, As mãos começaram a ficar frias e úmidas, nessa hora achou que ia desfalecer.

___Ruth. Você esta bem? O que foi? Tá tão pálida, vem cá, o que esta sentindo?

      Vivian se aproxima para apoiar Ruth, segura ela pelos ombros e pega na mão gelada.

___Caramba, tua mão tá muito fria. Você precisa sentar, quer que te leve em casa?

___Não, por favor, não quero ficar sozinha agora.

___Vem comigo, vamos pra minha casa.

       Entraram na casa de Vivian, e ela deitou no sofá, a cabeça rodava, a constatação de que poderia estar sentido algo mais que amizade por Vivian a deixou totalmente abalada.

      Além de ser casada. que chances ela teria com uma mulher como Vivian, linda, independente e talvez cheia de rapazes interessados. Estava tão absorta nesses pensamentos que não viu quando Vivian voltou com um copo de agua.

___Aqui Ruth, bebe tudo devagar. Como se sente? O que aconteceu?

      Não aconteceu nada, só acho que estou apaixonada por você. Pensou, mas lógico que não poderia dizer isso.

___Acho que minha pressão deve ter caído, isso acontece as vezes.

___Nossa Ruth por que não me avisou, você podia mesmo ter caído do moto.

___Já passou Vivian, obrigada pela sua preocupação. Acho que já posso levantar.

___Não mesmo, fica mais um pouco, você ainda esta pálida. Vou buscar algo para comer. Não levante, ok?

      Se encostou ainda mais no sofá, estava se sentindo um pouco melhor, pelo menos fisicamente, mas emocionalmente estava a beira do caos, como se estivesse perto de um abismo e qualquer passo errado a fizesse cair. Fechou os olhos com desespero.

      Vivian tinha voltado e trazido com ela um sanduíche de queijo e tomate. Comeu mesmo por insistência dela, a comida parecia não ter nenhum gosto. Por fim se levantou, não podia ficar o dia todo ali deitada.

___Tem certeza que esta bem?

___Estou sim Vivian, não se preocupe, foi só uma queda de pressão, mas estou melhor.

___Posso te levar até o hospital se quiser.

___Não, estou bem. Vamos fazer suas panquecas?

       O olhar preocupado de Vivian acabou tocando fundo no coração de Ruth, Quando havia sido a ultima vez que alguém tinha se preocupado assim com ela? Nem lembrava mais.

___Podemos deixar para outro dia.

___Não Vivian, você vai ter sua aula de panquecas hoje.

___Haha, você dura na queda em heim?! Então vamos lá, mas qualquer coisa e nos paramos , certo?

      Foram até a cozinha, Ruth não precisava de nenhuma receita escrita, sabia fazer muitas coisas de cabeça. Começou a dar instruções.

___Pegue seu liquidificador, vamos jogar os ingredientes ali dentro... Assim não Viviam, você nunca joga os ovos diretos na receita, eles podem estar estragados...menos sal, senão isso vai ficar uma salmora...calma, cuidado com essa farinha...

      Nesse momento Vivian começa uma guerra de farinha com Ruth, que revida enchendo o cabelo da outra com aquele pó branco, por fim a cozinha estava uma zona, mas as panquecas feitas.

     Deram muitas risadas, principalmente pela falta de jeito que Vivian tinha para cozinhar.

___Você nunca cozinhou? Que desastre você é.

___Meu nível de culinária se resume a pegar algo congelado no freezer e jogar no microondas, mas quando morava com minha avó eu comia algo mais saudável e tinha panquecas toda semana.

____Você visita sempre a sua avó?

      Aquela sombra de tristeza que tinha visto no rosto de Vivian outro dia, apareceu dessa vez também.

___Não tanto quanto gostaria. Eu amo ela, mas temos algumas desavenças sobre alguns assuntos.

___Sinto muito Vivian.

      E ela sentia mesmo, sua família também era muito distante, quase nunca visitava os pais e eles nunca vinham até sua casa.

___Tudo bem Rutinha. Vem comigo na sala, vou te contar um pouco sobre minha vida. Sabe de uma coisa? Preciso tomar cuidado com você, esse seu olhar tranquilo e meigo me leva a falar coisas que nunca contei a ninguém, mas acho que vai ser bom desabafar.

      Foi para sala segurando a mão de Vivian e aquele calor acolhedor se espalhando por todo corpo. Estava atordoada, desesperada e por incrível que pareça, feliz.