A Mulher do Pastor

I

    Por um instante Vivian não soube bem o que fazer ou dizer. Ruth estava num estado lastimável, a pele dela estava pálida, o olhar meio perdido e sonolento. Então tentou falar com ela.

___Ruth, é você?

     A outra não respondeu nada, mas se encolheu ainda mais, então Vivian percebeu que o farol da moto ligado provavelmente não deixava que ela enxergasse direito quem estava ali, correu até a moto e desligou, então tentou falar com ela novamente.

___Ruth, olha, sou eu, Vivian.

___É ...você ..mesmoo, não...estou sonhando?

    Percebeu a fala lenta e tremida de Ruth, e  ela falava tão baixo que quase não conseguia ouvir.

___Sou eu sim. O que aconteceu? Você brigou com seu marido e resolveu ficar fora de casa?

___Elee,...é mauu.

      Queria muito entender o que estava acontecendo, mas parecia que Ruth estava confusa demais para explicar algo, temeu que estivesse com um começo de hipotermia, tinha que tirar ela dai já.

___Tudo bem Ruth, ele é mau, mas agora é melhor eu te levar para casa, ok? Amanhã você resolve essa briga com ele.

___Não.. posso...ir pra...casa.

___Eu entendo que vocês brigaram, mas você podia ao menos ter pego uma blusa de frio quando saiu né? Agora o que você não pode é ficar aqui.

___Não tenho escolhaaa.

      Ficou sem saber o que dizer para convencer Ruth a sair desse frio.

___Então vamos até minha casa, ou um hotel, ou onde você quiser, ok? Só não da pra ficar aqui.

___Se eu... for ele... vai saber.

___Ele não vai saber droga nenhuma, é quase 23:00hrs ele deve estar dormindo na cama bem quentinha enquanto você congela aqui fora.

       Começou a sentir um começo de irritação, tinham que sair logo dali, mas Ruth estava mais empacada que mula em areia fofa. Então resolveu jogar baixo. Sem se aproximar muito dela, tirou o casado e cobriu o corpo de Ruth, logo na primeira rajada de vento frio, já se arrependeu disso, mas Ruth precisava mais do casaco do que ela. Ficou só com uma camiseta curta.

____Toma meu casaco.

      Ruth se embrulhou nele como se fosse a coisa mais preciosa do mundo e naquele momento de frio congelante, com certeza era.

___Agora presta atenção, Ruth. Você tem duas escolhas, ou vai comigo para algum lugar, sua casa, a minha, um hotel, ou vamos ficar as duas aqui nesse frio até congelar, porque não vou sair daqui até que você saia também.

      Pensou que Ruth não ia dizer nada e as duas iam mesmo congelar ali, já sentia o efeito do frio no corpo todo que começou a tremer. Então a outra se decidiu.

___Ok...Vivian... vaamos... para suaaa, casa.

     Deu um suspiro de alivio e ajudou Ruth a levantar e vestir o casaco, enrolou o cachecol em volta do pescoço dela e colocou o capacete, só havia levado um, por ser perto ela mesma iria sem capacete.

    Subiu na moto e ligou, Ruth montou na garupa e sem que Vivian precisasse dizer nada, abraçou a sua cintura. Ao invés disso ajudar Vivian a se esquentar, só piorou o frio. Ruth estava parecendo um defunto de tão fria. Acelerou a moto para chegar logo em casa, sentia os dedos endurecendo no guidão da moto.

     Tudo que queria nesse momento era algo bem quentinho.