A Mulher do Pastor

II

      No sábado Ezequiel acabou notando a inquietação de Ruth no café da manhã, antes de ir para o trabalho.

___Que é isso mulher? Por que não para de mexer as pernas, chega a balançar a mesa desse jeito. Parece até que esta ansiosa com alguma coisa.

___Não é nada.  Estaria ansiosa com que? Aqui nunca acontece nada.

      Acabou respondendo de um jeito um pouco mais brusco do que pretendia, lógico que isso também não passou despercebido por Ezequiel.

___Controle esse tom Ruth, sabe que não gosto de impertinências comigo né?

     Ruth não respondeu nada, mas sentiu a revolta por dentro, nem havia falado tão  alto assim, estranho que antes ficava chateada, mas não tão revoltada como agora, alguma coisa nela estava mudando e ainda não sabia dizer se era algo que faria bem para sua vida ou não.

      Não respondeu nada, e foi até o fogão preparar a marmita que ele levaria, as vezes se sentia culpada por provocar a raiva dele, Ezequiel trabalhava todos os dias sem folga, talvez por isso fosse tão bruto e mau humorado.

     Quando ele saiu ela foi mexer no jardim, precisava arrancar algumas ervas daninhas que tinham aparecido perto da roseira.Levou o celular junto, Vivian ainda não tinha mandando nenhuma mensagem de bom dia. Será que ainda estava dormindo? Será que já tinha enjoado de mandar mensagem para ela? Será...será...ficava passando mil coisas pela sua cabeça, todas pessimistas.

____Heyyyy Ruuuuth!!!!Helloooo!!!

      Com o susto, mais uma vez Ruth caiu de bunda no chão, não esperando aquela aparição brusca de Vivian, pulando em cima do muro do jardim.

___Nossa, eu achei que você já não se assustava comigo.

___Eu não assusto Vivian, desde que você aja como alguém normal. Credo que susto.

___Desculpa Baby, mas de sábado essa é minha marcha mais lenta.

___Sério, não quero ver sua marcha máxima. Nesse dias você faz como, da cambalhotas quando vai cumprimentar alguém?

___Hahaha ! Mais ou menos isso sim. E então a aula de panquecas ainda esta de pé?

      Se levantou limpando o excesso de terra que tinha nas mãos, passando pelo vestido.

 ___Está sim, mas você não disse a hora, pensei que fosse mais tarde.

____Você não me disse as lista de ingredientes, preciso ir no mercado comprar.

___Vou ali dentro anotar pra você. Espera ou levo na sua casa?

___Tenho uma ideia melhor. Vamos comigo ao supermercado, ai você ajuda com as compras e eu não vou ter como errar.

      Aquela não era uma pergunta, a outra não queria saber se Ruth podia ir ou não, era meio que uma intimação, não tinha nada urgente para fazer mesmo, então iria com ela, já começaria a aula ali, mostrando o que tinha que comprar.

___Vou lavar aos mãos.

___Enquanto isso pego a moto.

       Estancou no lugar. Como assim ela ia pegar a moto? Nunca tinha andando de moto em toda sua vida e sentia um medo terrível de cair,  um prima tinha caído e ficado paraplégico. Não tinha como irem de moto, ela não conseguiria.Mas antes mesmo dela reclamar Vivian já tinha saído correndo para a casa.

      Alguns segundo depois já estava parada em frente a casa de Ruth com a moto ligada. Mas ela não havia conseguido sair do lugar nem para lavar as mãos, não podia andar de moto.

___E então, pronta?

___Vivian, eu não sei se é uma boa ideia ir de moto.

___Qual problema? Vou tem medo de moto ou do que os vizinhos vão dizer?

      Não se incomodava tanto com os vizinhos, nenhum deles era amigo, nenhum ia na igreja ou era conhecido de Ezequiel, era o medo de cair da moto que gelava e paralisava casa músculo no corpo de Ruth.

___Eu...eu ...tenho medo de cair.

      Baixou o rosto para os pés envergonhada. Vivian desligou a moto e foi até onde ela estava.

___Olha só, eu prometo que vou bem devagar e se você entrar em pânico é só me pedir para parar. Combinado? Quer tentar? Senão vamos de táxi mesmo.

      Sim ela queria tentar, o medo era forte, mas a vontade de provar como era a sensação se tornou mais forte ainda.

___Ok, eu quero tentar.Mas promete não correr?

___Prometo.

      Vivian ajeita o capacete em Ruth, coloca seu próprio capacete, liga a moto, quando Ruth sobe, não sabe onde segurar, então ouve Vivian dizer de forma abafada.

___Segura firme na minha cintura ok. Lá vamos nós. Um...dois...três...

      Mal teve tempo de pensar e a moto já estava em movimento, o corpo de Ruth completamente colado as costas de Vivian e o vento passando rápido pelas duas.