Capítulo XIV - A troca

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     Estava com tanta saudade dos meus pais que sonhei com eles. Eu não sonhava a tempos, imaginei que fosse a demonstração de cansaço.

    Uma hora eu estava no carro com Elisa, Andrew e Daniel e logo depois estava com meus pais assistindo um filme com uma bacia de pipoca do lado, rindo como nunca, totalmente despreocupados, por um momento acreditei que nada do que tinha acontecido nos últimos 2 anos fosse real.

   A viagem de volta foi tranquila, nenhum vampiro assassino, nenhum humano armado, nada de inimigos por perto e realmente conseguimos descansar.

  Percebi que Elisa passou a viagem inteira muito calada, ela nem sequer sorria. Lembrei que no ataque dos vampiros no caminho para Houston, ela havia me pedido desculpas, mas por qual motivo? Eu perguntaria a ela assim que possível. Contei aos meus amigos o que Salazar havia dito e todos concordamos que não fazia sentido nenhum.

Profecia. Fadas. Humanos. Sangue. Parentes de fada. Cura.

Ou seja, foi uma viagem totalmente perdida e sem resultados, eu me odiava por isso, corremos perigo três vezes totalmente a toa.

  Profecia. Fadas. Humanos. Sangue. Parentes de fada. Cura. 

  Aquilo poderia fazer sentido? 

-Lar doce lar! - disse Andrew assim que passamos pela porta do apartamento.

-Ainda bem. - eu disse - Preciso de um banho.

-Vamos descansar por aqui e ir embora quando anoitecer novamente. - disse Daniel.

-Rosy. - Elisa me chamou para a cozinha enquanto os outros se jogavam no sofá ou iam em direção aos quartos - Eu preciso ir. Tenho uma coisa pra resolver, mas quero que saiba que me arrependo de tudo que fiz. Obrigada por tudo. - e então me abraçou.

-Não, - eu disse - Do que está falando? Tem que me explicar. E precisa descansar.

-Não posso - ela disse - Tenho que ir antes que seja tarde.

  Então ela se afastou de mim e se despediu rápido das meninas que estavam na sala.

Eu ligaria para ela depois e ela me explicaria tudo aquilo que tinha dito.

  Fui tomar um banho, comer alguma coisa e deitei na cama, estava quase pegando no sono quando ouvi meu celular tocar.

-Mãe? - estranhei ao ler seu nome no identificador de chamadas e atender.

-Ro... - sua voz era de desespero, mas alguém não a deixou terminar de falar.

-Olá, querida. - eu conhecia aquela voz masculina. - Como está?

-Richard? - eu disse, não era possível que ele estivesse com minha mãe. Não!

-Sua mãe não parece disposta a colaborar conosco e nos dizer onde seu pai está, mas acho que ela vai servir. - ele disse.

-Não, Rosy. - ouvi ela gritando do outro lado da linha.

-O que você quer? - perguntei.

-Nós dois sabemos o que eu quero. - ele disse - Por mais que sua mãe seja um doce de pessoa, não é dela que eu preciso.

-Onde? - eu disse, com raiva.

-Parece que temos alguém disposto a se entregar aqui. - ele disse.

-Onde, seu desgraçado? - quase gritei, mas não queria chamar a atenção dos meus amigos.

- Está mesmo implorando para vir até mim? - ele disse, não respondi - Acho bom você não comunicar a seus amigos ou ela morre bem rapidinho. Venha sozinha para o velho galpão abandonado ao lado do shopping. Ouça bem, sozinha. Vamos trocar sua mãe por você.

-Está bem. - eu disse, já colocando uma jaqueta e calçando as botas. - Estou a caminho.

   Depois de desligar o telefone, abri a porta do meu quarto devagar e, na sala, encontrei as meninas dormindo. Lentamente saí porta a fora do apartamento e corri para fora do prédio.

   Peguei um táxi e disse a ele para onde ir.

  Como tinham encontrado meus pais? Não tinha como eles saberem. A única razão para eu não ter ido até eles foi exatamente essa, poderiam me rastrear, mas não poderiam rastreá-los.

A não ser que soubessem exatamente onde procurar e a única pessoa que sabia isso, além dos meus amigos era...

Não. Não era possível.

   O sol já havia nascido. Assim que derem por minha falta, não será legal e se eu sair viva dessa, levarei uma bronca terrível. O problema é que não poderiam sair antes de o sol se pôr e ele tinha acabado de nascer. Seria um longo dia.

   Assim que o táxi parou, corri para o tal galpão.

  Era realmente abandonado, antes poderia ser um lugar de descarregamento de caminhões, mas agora não passava de velho. Andei devagar até o grande portão, que se abriu sozinho. Lá dentro encontrei minha mãe amarrada a uma cadeira e corri até ela, soltando-a.

-Você não deveria ter vindo, filha. - ela me abraçou e a apertei - Eu sei que é uma vampira, mas esses homens não estão de brincadeira.

-Não sou mais vampira, mamãe. - eu disse e ela se afastou por um instante para olhar em meus olhos.

-Como? - ela perguntou.

-Exatamente. - era Richard, saindo das sombras. - Agora irá conosco e deixaremos sua mãe ir. Eu disse que iria implorar para vir. - não respondi. - Zoo, Carl e Celt, podem aparecer.

   Olhei para os lados e os capangas de sempre também apareceram das sombras, estavam escondidos.

-Sim, Rick. - disse um dos morenos, um pouco mais baixo que o outro.

-Celt, já disse que odeio que me chamem assim. - disse Richard - Você e Carl amarrem a nossa vampira curada. Zoo, leve essa mulher para longe daqui.

  E então os homens se mexeram, mas antes de Carl e Celt me amarrarem, coloquei uma mão no bolso da jaqueta e tirei de lá um pedaço de papel, que entreguei a minha mãe discretamente.

-Amo você. - sussurrei e então me afastaram dela - Vou ficar bem. - disse mais alto.

-Não vai não. - disse Carl antes de me dar uma pancada na cabeça e então apaguei com as palavras em minha mente.

  Profecia. Fadas. Humanos. Sangue. Parentes de fada. Cura.  

  Eu não sabia se sairia viva disso, mas fiquei muito contente de ter dado um último abraço em minha mãe, eu estava mesmo precisando daquilo, precisando de um lugar familiar antes de cair no abismo profundo da inconsciência, onde nada mais tinha a não ser escuridão.

  Tenho certeza que Srt. Simony estaria orgulhosa de mim, onde quer que ela estivesse e esperava encontra-la em um lugar de sossego onde eu pudesse cuidar de todos os que amo, principalmente de meus pais, que eu tinha certeza que estavam torcendo por mim.

  Eu esperava que minha mãe compreendesse a mensagem que deixei no papel. Escrevi dentro do táxi logo depois de perceber que tinha sido burra o suficiente em confiar em alguém de novo, como tinha acontecido com Karla.

   No papel tinha o endereço do meu apartamento e nome da pessoa que eles deveriam procurar assim que anoitecesse. O nome da pessoa que me traiu.

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