Capítulo XVIII - Resgate

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  Não fazia ideia de quanto tempo havia se passado depois que a sala ficou em um completo silêncio. Imaginei que Petter estaria se segurando para não bater em Pedro, tanto por tê-lo traído quanto por ter usado Elisa.

  Ela havia sido sincera quando me pediu desculpas. Elisa realmente me via como uma amiga e claro que eu a via também. Minha melhor amiga humana.

   Se eu tivesse meus poderes de volta certamente sairia desse lugar em questão de segundos.

-Isso pode ser reversível, não pode? - perguntei a Petter.

  Ele me olhou por um instante.

-Eu não sei. - disse ele - Saberia isso com você após alguns dias. Talvez seja, talvez não.

Olhei para Pedro, lembrando de algo que eu queria muito saber.

-Porque estava me seguindo a alguns dias atrás? - perguntei.

-Precisava saber se era a pessoa certa. - ele respondeu - Conhecer minha futura melhor cobaia.

-Eu deveria ter adivinhado. - eu disse, olhando pelo vidro para a outra sala - Tem outra chave aqui? - perguntei a Petter que pensou um pouco e em seguida negou com a cabeça.

  Fiquei quieta, pensando. Eu sabia que precisava de um plano, tinha certeza que qualquer coisa que eu fizesse poderia resultar na minha morte definitiva,mas precisava tentar fazer algo.

-O que será que vão fazer com a gente? - Petter perguntou, baixinho.

-Provavelmente beber nosso sangue. - Pedro respondeu - Essas coisas que vampiros fazem.

-Olha aqui seu idiota, isso é tudo culpa sua. - Petter vociferou, quase voando no antigo funcionário.

-Deixem a briga pra depois. - eu disse, encarando-os - Temos coisas mais importantes pra agora. Vamos focar, está bem?

-E quem você é? - Petter perguntou - Uma espécie de líder?

-Digamos que sim. - eu disse - Alguém está com o celular?

   Os dois tatearam os bolsos a procura do aparelho. Petter encontrou o dele dentro do jaleco.

-Parece que não são tão inteligentes assim afinal. - Petter disse - Vou ligar para Elisa.

-Não. - eu disse, tentando, sem sucesso, pegar o celular - Preciso ligar para meus amigos. Eles virão nos ajudar.

-Antes eu preciso saber se minha filha está a salvo. - disse Petter, se afastando de mim com o aparelho no ouvido. Alguns segundos depois ele esmurrou a parede e se virou para nós de novo, frustrado - Ela não atende. Se eles fizerem alguma coisa com ela...

  Ele foi interrompido pelo som da porta se abrindo e rapidamente escondeu o celular.

   Richard e Carl entraram e nos olharam, atentos.

-Onde Elisa está? - Richard perguntou - podia jurar ter ouvido Petter suspirar de alívio, aquilo significava que eles não a haviam encontrado.

-Não faço ideia. - Petter respondeu - O que querem de nós?

-Isso não é óbvio? - Carl respondeu - Matar vocês.

  Os dois riram e então um alarme alto soou e as luzes começaram a piscar. Os dois se entreolharam e percebi que aquilo não fazia parte dos seus planos. Sorri. Significava que Daniel e os outros havia chegado.

-Tem algo errado. - Carl comentou.

-Vamos checar. - Richard disse - Vocês não se mexam.

  Os dois saíram, nos deixando sozinhos. Pedi o celular de Petter novamente, mas antes de ele me entregar a porta se abriu de novo e Elisa passou por ela.

-Vou tirar vocês daqui. - ela disse, apressada.

-Você não deveria estar aqui, filha. - disse Petter.

-É claro que deveria. - ela disse - Devo isso a Rosy. Ela salvou minha vida.

  Petter pareceu surpreso olhando de mim para ela.

-Do que estão falando? - perguntou.

-Você não me deixou explicar, - Elisa começou - Mas na nossa viagem, Rosy me salvou contra os vampiros e quero salva-la agora, contra os humanos.

-Richard e os outros não são humanos, querida - Petter falou, Elisa olhou para mim, surpresa e sorri para ela.

-Onde está a chave? - Elisa perguntou.

-Com Richard. - Pedro respondeu, parecia mais ativo que alguns minutos atrás. - Onde os outros estão, Elisa? - perguntei.

-Estão todos aqui. - ela disse e foi minha vez de suspirar de alívio. - Vou pegar a chave.

  Ela alcançou a maçaneta, mas a porta abriu e Richard apareceu, empurrando Elisa contra a parede.

-Sua menina estúpida. - vociferou Richard - Você já me causou problemas demais.

  Richard avançou para cima dela, que estava quase inconsciente enquanto Petter gritava para ele parar e não machuca-la. Meu mundo parou e meus amigos não chegariam a tempo, ninguém chegaria a tempo e eu era única que podia salva-la, mas isso estava longe das minhas mãos.

  Quanto mais perto ele chegava de Elisa, mais eu sentia algo crescendo em mim. Na medida que ele se aproximava, algo voltava para mim, eu estava sentindo, tinha certeza.

  Eu precisava salvar minha amiga, eu precisava sair dali e eu precisava dos meus poderes de volta.

   Minha super visão, minha super audição, minha super força, minhas habilidades mentais. Tudo estava voltando. Ajoelhei com as mãos na cabeça e em seguida mirei o olhar na maçaneta da porta que me separava de Richard e Elisa. Rapidamente levantei e sem nenhuma dificuldade a arranquei abrindo a porta com um chute que a tirou do lugar.

-Estou de volta. - eu disse, paralisando Richard com a mente - Me sinto até mais forte. Saiam todos aqui, isso é entre mim e esse miserável.

   Sem muita demora Petter passou por mim e chegou a Elisa a ajudando a levantar. Pedro os seguiu.

-Não. - Elisa disse, lutando contra a força do pai de a levar para fora - Eu quero ajudar.

-Vai ajudar se salvando. - eu disse.

  Relutante, ela deixou que o pai a ajudasse a sair dali e parei de brincar com a mente de Richard, mas para minha completa surpresa ele riu assim que se recuperou.

-Só por que é a vampira mais poderosa acha que pode me vencer?

Então ele avançou em mim, com um chute na barriga ele quase me derrubou, era mais forte do que pensei, tentei socar seu rosto, mas era ágil também, eu queria uma luta justa e limpa, sem poderes.

   Ele acertou minha perna, me fazendo cair,tentei levantar, mas ele estava em cima de mim, socando meu rosto. Fiz um ágil movimento e soquei suas partes baixas. Não causou tanto efeito, mas foi tempo suficiente para eu conseguir levantar e pular em cima dele, socando seu rosto até o deixar quase inconsciente e então lancei meu golpe final.

   Fazia tempos que eu não a chamava, mas eu sabia que ela estava lá sempre que eu precisasse.
   Minha espada apareceu, saia sangue por cada parte dele.

-Sim, - falei - Eu acho. - e a enfiei no peito de Richard, em poucos segundos ele havia virado cinzas. 

  Fiz a espada desaparecer e continuei ajoelhada onde estava até ouvir uma voz maravilhosamente familiar atrás de mim.

-Graças aos céus! - Daniel correu até mim e me abraçou. - Você está bem?

  Não respondi, apenas o apertei forte contra meu corpo. Eu queria muito aquele abraço, não só para me lembrar o que eu era, mas para me sentir segura. Eu não podia voltar no tempo e escolher a opção de ir para casa no dia que descobri minha verdadeira origem. Não podia esquecer todos os meus amigos e o que fizeram por mim durante todo o tempo, nem se eu quisesse e ali, abraçada a Daniel, eu realmente não queria.

Meus poderes haviam voltado, eu era uma vampira, eu estava segura, estava a salvo, ficaria bem e era tudo que importava. Por hora.

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