Denver, Colorado
2016Quando eu era criança, passava horas na rua brincando de esconde-esconde com os filhos dos vizinhos. Eu realmente gostei da brincadeira por um tempo, depois percebi o quanto ela é idiota. Uma vez, me escondi dentro de um armário. Eu era tão bom que, quando o garoto abriu a porta para ver se eu estava lá, não me viu – eu estava sob uma grande pilha de paletós e, naquela época, eu não era muito grande. Ninguém veio me procurar depois disso. Passei horas dentro de um armário, pensando que ainda estavam procurando por mim, mas ninguém se importou em ver se eu estava bem ou ao menos em gritar que o jogo havia acabado. Alguma coisa me dizia que eu deveria continuar lá.
Nunca mais brinquei disso outra vez. Fiquei com muita raiva. Os filhos do vizinho nunca mais falaram comigo depois disso. Lembro que papai gritou comigo neste dia por ter feito algo contra eles, mas eu jurava que não havia feito nada. Eu não fiz nada. Eles apenas fugiram de mim.
Correndo pelos corredores da escola ao lado de Calum e Ashton enquanto procuro por Luke, sinto-me novamente brincando de esconde-esconde. Preciso encontrá-lo. Não sei onde ele pode estar ou por qual motivo desapareceu assim, sem nos dizer nada, mas sei que preciso vê-lo e pedir desculpas. Provavelmente é tudo culpa minha. Não, eu sei que é minha culpa. Luke estava com ciúmes de mim e Casey e ele tem razão, eu não deveria ficar pensando nesse garoto quando Luke é meu namorado.
Vou parar de falar com Casey. As coisas que quero descobrir não importam. Na verdade, Gerard White já me contou há muito tempo qual o meu problema, eu apenas não quis aceitar. Ainda não aceito. Sei que tem mais coisa. Sei que ele está errado. Mas não preciso dessas informações se isto significar ter a amizade de Casey e destruir meu namoro com Luke.
Luke Hemmings é como o ar que sopra em meus pulmões. Não consigo viver sem tê-lo. Sinto-me sufocado pela ideia de perdê-lo. Ele é a única coisa que me prende na Terra.
– Nós vamos procurar aqui embaixo, você procura lá em cima nos dormitórios, ok? – diz Calum depois de rodarmos todos os corredores e pescocearmos todas as salas para ver se avistávamos Luke. Nada. Nenhum sinal dele. – Vamos ver nos banheiros e no jardim.
– Ótimo – concordo, pois no fundo tenho esperanças de chegar a nosso dormitório e encontrá-lo lá, deitado na cama com os olhos fechados em uma expressão serena, um livro inacabado sobre seu peito que sobe e desce devagar por estar dormindo e óculos na mesinha de estudos.
Dou as costas a meus amigos e subo as escadas correndo. O sinal bate, soando irritante e insistente em meus ouvidos. Olho para trás a tempo de ver os corredores sendo inundados por um mar de alunos nos mais diferentes humores. Continuo a subir os degraus antes que outra pessoa tenha a mesma ideia.
Passo por várias portas abertas e fechadas e não vejo nada de Luke. Quando chego ao nosso dormitório, encontro-o completamente vazio. Não há nada sobre a cama. Não há óculos algum sobre a mesinha ou um livro em qualquer lugar. O vento é soprado da janela e bate diretamente contra meu rosto. Está frio. Fecho as cortinas, tentando pará-lo, mas ele continua a ser soprado. As bregas cortinas laranja vão de encontro a minha cara e eu sinto que estou ficando cada vez mais estressado.
Fecho a janela com dificuldade, sentindo as lágrimas rolarem em meu rosto. Choro de raiva. Choro de tristeza. Choro por Luke. Luke. Luke. Sempre Luke. Choro pelo meu amor por ele todos os dias, assim como fiz durante os longos anos de rejeição que apenas chegaram ao fim no ano passado. Choro pelos meus problemas. Choro pelos meus pais. Choro por tudo.
Sinto meus olhos arderem quando as lágrimas são derramadas como incansáveis cachoeiras. Choro por tudo, mas também choro por nada. Sento-me na cama de Luke e tento aspirar seu cheiro, mas ele não alcança minhas narinas. Seu cheiro não está no travesseiro ou no cobertor bagunçado, porque Luke não dorme aqui há dias. Sinto que estou o perdendo. Sinto como se Luke estivesse escapando por entre meus dedos e eu não pudesse fazer nada além de assisti-lo se esvair como areia. Puxo meus cabelos para baixo, sentindo alguns fios se soltarem de meu couro cabeludo. Não ligo. Estou soluçando de forma descontrolável e não sei como cheguei a este ponto. Sinto como se o ar em meus pulmões estivesse acabando. É difícil respirar.
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blurry • muke
FanfictionMichael aparentemente estuda em um internato em Denver, Colorado. Seus pais morreram em um acidente de carro e, logo depois, seus amigos desapareceram misteriosamente, reaparecendo semanas depois do primeiro dia de Michael no colégio interno, agindo...