Denver, Colorado
2015Sinto como se a minha própria alma estivesse deixando meu corpo; quase posso vê-la flutuando pelo ar, abandonando-me sem aviso prévio. Chacoalho o corpo de Arzaylea, não!, chacoalho Arzaylea. Não vou reduzi-la a apenas um corpo morto. Ela é mais do que isso. Arzaylea ainda está viva, posso sentir. Seu peito ainda se mexe, mesmo que quase minimamente.
Tento me acalmar antes que seja tarde demais. Preciso pensar com clareza. Ouço Ashton e Calum gritarem com Michael, mas nada disso importa agora. Tenho que salvá-la.
Ajeito seu corpo com firmeza, deitando-a de barriga para cima, e afrouxo a parte de cima de seu biquíni, tentando me lembrar de quando um salva-vidas foi até a escola nos ensinar a fazer respirações boca-boca. Não sabia que um dia eu teria mesmo que saber disso para salvar a vida da minha namorada. Estico o pescoço dela para trás, levantando seu queixo e abrindo sua boca; encosto minha boca na boca dela e jogo o ar para fora. Repito isso por alguns minutos sem me cansar. Em algum momento, escuto Ashton dizer que Michael desmaiou, mas sua voz soa ao longe. Tudo é apenas um borrão – meus amigos, a praia, o vento que toca meu rosto; parece tudo tão... surreal. Sinto que estou sonhando. Desejo estar sonhando. Só existe eu, Arzaylea e a possibilidade de sua morte ali.
Minha namorada, morta por Michael Clifford, o meu melhor amigo.
Não é tarde demais. Não posso desistir! Não vou desistir. Ela ainda não está morta e não vai estar.
Não sei quanto tempo ao certo permaneço naquele processo, talvez quinze ou vinte minutos, mas não me sinto cansado. Só percebo que estou chorando desde o início quando noto que minhas lágrimas já estão molhando seu rosto. Choro pela possibilidade de perdê-la. Se algo acontecer, se alguma coisa der errado... vou me culpar pelo resto de minha vida.
E então ela acorda, sentando-se e respirando de forma desesperada e falha, tentando falar algo que nunca sai de sua boca. Peço que ela se acalme. Estou chorando ainda mais enquanto um enorme sorriso não abandona meus lábios. Minhas lágrimas agora são de felicidade. Meu coração dispara quando olho para ela e só agora noto a quantidade de medo que eu sentia. Nunca me senti tão assustado quanto me senti hoje.
Ashton e Calum me abraçam, deixando a recente rivalidade de lado e permitindo que eu chore em seus braços. Arzaylea ainda está no chão, se recompondo do que foi uma experiência traumática para todos nós.
Olho de relance para Michael. Inconsciente, desacordado. Encaro seu rosto por segundos que parecem prolongar-se exatamente como horas. Não demonstro reação nenhuma durante esse tempo. Não consigo fazer nada além de encará-lo, sequer consigo pensar em alguma coisa depois de tudo o que aconteceu. Mal consigo raciocinar, quando me dou conta já estou em cima de Michael, chacoalhando-o pelo que me parece ser menos do que um minuto. Então ele acorda, imediatamente me olhando com um olhar tão perdido que chega a beirar a inocência.
Michael olha a sua volta. Ele observa meu rosto e o de nossos amigos ao redor. Seu olhar recai sobre Arzaylea, tremendo no chão, ainda encharcada, enquanto abraça suas próprias pernas. Ao vê-lo, Arzaylea grita, tentando se afastar, mas está fraca demais para fazer alguma coisa com sucesso. Ashton tenta ajudá-la, porém Calum continua ao meu lado, tocando suavemente meu ombro com uma de suas mãos. Esperamos juntos que Michael abra a boca.
– Co-como eu vim parar aqui? – ele gagueja, tenso sob nossos olhares.
Sua fala me irrita. Sua voz me irrita. Seu jeito cínico, seu olhar inocente, seus cabelos bagunçados como se ele apenas tivesse tirado um cochilo na areia, sua pele molhada. Tudo em Michael me irrita. Tudo me leva a dar um soco em seu rosto. E outro. Até que sinto o sangue que escorre de seu nariz sujar os meus dedos. Não paro. Nem mesmo quando Calum precisa chamar Ashton para que ambos tentem nos afastar. Michael tenta me empurrar, mas não tenta me bater. Estou chorando. As lágrimas queimam meu rosto, mas apenas consigo pensar na cena em que vi minutos antes. A imagem de Michael afogando Arzaylea me consome, me dá forças para machucar ainda mais seu rosto. Quando o acerto, sinto que estou retirando o peso de anos de mágoa de sobre os meus ombros.
Quando os dois conseguem me afastar e me conter, posso finalmente olhar para Michael. Inconsciente pela segunda vez no dia. O sangue escorre de pontos aleatórios de seu rosto. O anel que uso parece tê-lo arranhado mais do que o necessário. Os lábios mais inchados do que o comum parecem agora combinar com os olhos que estão da mesma forma. Não sinto remorso algum ao vê-lo assim.
– Você passou dos limites, Luke – diz Calum atrás de mim, ainda segurando meus braços.
Me solto de Calum e Ashton, virando-me bruscamente para o moreno, que precisa se afastar um pouco. Ainda estou com raiva.
– Eu passei dos limites? – rio ironicamente; meu riso soa quase sádico. – Ele tentou matar a minha namorada e eu passei dos limites por quebrar a cara dele?!
Calum não me responde. Dou as costas a ele, direcionando-me até Arzaylea, que ainda abraça suas próprias pernas numa tentativa de autoproteção. Ela tem um olhar vago, encarando a água que se mexe devagar. Agacho na frente dela, finalmente analisando seu belo rosto.
Lembro-me do medo que senti ao pensar que a estava perdendo. Olhando para ela agora, sinto-me completamente aliviado. Acho que você só se dá conta do quanto ama alguém quando já é tarde demais.
– Ei – toco em seu ombro. Minha mão parece queimá-la, pois Arzaylea sai de seu estado de transe imediatamente, levantando-se num pulo e se afastando vários passos de mim. Não entendo. Levanto-me.
– Fique longe de mim! – ela diz, erguendo suas mãos como se pudesse realmente me manter longe apenas com este movimento. Avanço dois passos. – É sério, Luke – ela vira o rosto, tentando esconder as lágrimas que sei que estão caindo apenas por ouvir o peso em suas palavras. – Não posso mais fazer isso.
– Mas eu te salvei! – digo, porque é a primeira coisa que vem à minha mente. Pareço uma criança birrenta discutindo com uma mãe impaciente. Tento novamente me aproximar dela, que apenas se afasta ainda mais.
– Eu sei – ela responde, passando a mão pelo seu rosto para limpar as lágrimas. – Mas não dá. Luke, eu quase morri hoje! Agradeço muito a você e sempre vou agradecer, mas não posso continuar correndo risco de vida.
Entendo o que ela está dizendo e o motivo pelo qual está terminando comigo. É óbvio. Ela nunca continuaria comigo após sofrer uma tentativa de assassinato pelas mãos do meu melhor amigo. Nosso melhor amigo. Entendo, mas não quero deixá-la ir. Estou chorando novamente, o que é quase patético.
– Você não pode se afastar de mim assim – tento. – Eu te amo, Arzaylea! Não faça isso comigo – estou implorando. Não importa se estou sendo ridículo e realmente patético, mas é a verdade.
Arzaylea balança a cabeça em negação.
– Não diga isso, só vai tornar as coisas piores para nós dois.
Sua voz soa calma, mas o tremor em suas mãos e as lágrimas que escorrem de seus olhos sem parar dizem o contrário. Sei que ela também me ama.
– Podemos conversar melhor mais tarde – sugiro. – Você não está pensando muito bem agora e... é isso.
– Não, Luke. Não me procure mais, por favor – ela diz. – Olha, podíamos ter dado certo, mas as coisas têm de ser assim agora.
E ela continuou falando enquanto eu apenas assentia, mas sem realmente ouvir. Suas palavras pareciam ser direcionadas ao vento. Ela não me encarava quando as pronunciava. A dor em meu peito parecia crescer cada vez mais, aumentando de tamanho e tomando conta de todo o meu corpo.
O dia, que era para ser um dos mais felizes do ano, terminou com Ashton levando Arzaylea para casa, ao mesmo tempo em que Calum dirigia meu carro num completo silêncio. Michael, ainda desacordado, ocupava todo o banco traseiro.
Quanto a mim, eu apenas derramava lágrimas silenciosas por ter um coração partido e um melhor amigo que quase se tornou um assassino.
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arzaylea nao está morta troslei jkkkkkkmas isso nao significa que nao terão mortes
vou começar a dedicar capítulos, esse é pra nina que eu conheço há pouco tempo mas é minha fav e meu bolinho szsz
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blurry • muke
FanfictionMichael aparentemente estuda em um internato em Denver, Colorado. Seus pais morreram em um acidente de carro e, logo depois, seus amigos desapareceram misteriosamente, reaparecendo semanas depois do primeiro dia de Michael no colégio interno, agindo...