LUKE

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Denver, Colorado
2015

Mordo a tampa da caneta distraidamente. Estou alheio a tudo. O professor Williams fala sobre determinada guerra que ocorreu muito antes de Deus sequer pensar sobre a minha existência. Minha mente bloqueia sua voz grossa que preenche o ambiente silencioso e percebo que mais tarde precisarei pegar o conteúdo com Ashton, pois Calum está quase babando na carteira ao lado. Não tenho saco para história, nunca tive; nem quando Michael insistia que era a pessoa mais inteligente do mundo em humanas e tentava me ensinar a matéria. Tenho pena dele por ter repetido o ano.

O sinal bate, despertando-me de um momento de pensamentos banais e posso ver Calum se assustando com o repentino barulho estridente que chega a seus ouvidos sem aviso. Rio enquanto pego meu material e vejo Ashton fazer o mesmo antes de se aproximar de nossos lugares. Os outros alunos saem da sala; alguns arrastam os pés, deixando o sono conduzi-los, mas outros caminham apressadamente, deixando o local sem ao menos olhar para trás. Típico fim do dia.

– Cara, você precisa se manter acordado – diz Irwin com um sorrisinho provocador, confirmando a teoria de que ele é o único do bando que se preocupa com essa aula. Calum rola os olhos e pega suas coisas que ainda permaneciam sobre a carteira.

– Entendo nosso garoto. Estou com ele, é difícil prestar atenção nessa aula – defendo. Hood dá um tapinha leve em minhas costas, aproveitando o momento para me empurrar pelos ombros. Ele faz o mesmo com Ashton e ambos somos direcionados para fora da sala de aula vazia.

– É melhor não repetir isso ou Michael pode ficar com ciúmes – provoca Calum. Arqueio as sobrancelhas, um sinal de que não entendi, e viro-me para encará-lo. Ele para em frente a nossos armários e ri ao bater em sua própria testa. – "Nosso garoto" – ele faz aspas no ar enquanto explica.

Ouço Ashton rir e faço o mesmo.

– Você é um falso – declaro.

– Claro que não – se defende. – Todo mundo sabe que ele tem a queda das Cataratas do Niágara por você.

Tenho vontade de dizer que todos sabem que ele é apaixonado por Ashton há dois anos, mas o garoto estava logo atrás de nós e isto seria uma enorme mentira. Calum sabe esconder muito bem seus sentimentos; quando contou a mim e a Michael sobre isso, pensamos que estava brincando. Mas Clifford é diferente... está nos olhos dele, nas atitudes e nas palavras o quanto gosta de mim. Ele nunca precisou dizer a nenhum de nós sobre isso. Não é necessário. É um amor palpável. Às vezes me sinto culpado por não correspondê-lo.

Como se fosse apenas fruto de minha imaginação, o garoto aparece em minha frente, substituindo Calum com uma animação que só ele possui. Michael sorri e suas bochechas crescem de modo fofo. Seu olhar encontra o meu e retribuo o sorriso por instinto; posso ver seus olhos verdes brilhando quando me observa. Michael é muito bonito com qualquer cor de cabelo e está excepcionalmente bonito com o estilo galaxy. Novamente quase me entristeço por não corresponder seu amor.

Não o vejo desde ontem, no mesmo horário. Às vezes ele costuma chegar atrasado para o primeiro tempo e, mais tarde, passa o intervalo enfiado na biblioteca numa tentativa de melhorar suas notas – o que, diga-se de passagem, falha miseravelmente, já que Clifford constantemente se distrai com o Candy Crush. Hoje é um desses dias.

Michael me abraça e eu sinto seu cheiro misturando-se ao meu. Seu perfume é adocicado e eu quase sinto falta quando ele se afasta. Gosto de abraços e, desde que contei a ele sobre isso, ele sempre me abraça quando vê uma oportunidade. Isso já faz algum tempo. Calum diz algo em seu ouvido, baixo o suficiente para que apenas Michael possa ouvir e solta uma risadinha logo em seguida, levando um tapa no braço direito. Michael não cora ou se envergonha, mas não é preciso ser um gênio para adivinhar que Hood havia dito algo sobre mim e o abraço.

blurry • mukeOnde histórias criam vida. Descubra agora