MICHAEL

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Denver, Colorado
2016

Estou deitado na cama de Luke, aspirando seu cheiro enquanto leio um livro. It, Stephen King. A biblioteca do colégio é uma das únicas coisas legais por aqui. Os livros são a minha única companhia às vezes, fazem com que eu sinta minha alma e mente flutuarem, abandonando meu corpo e indo para bem longe daqui. Posso ser qualquer coisa e estar em qualquer lugar quando estou lendo. Posso ser uma princesa ou um cavalheiro; um assassino ou uma vítima. Apenas deixo de ser Michael Clifford e isto basta.

Ouço a porta se abrir e sorrio ao pensar que seja Luke, não o vejo há algum tempo. Nem ele, nem os outros. Calum e Ashton devem estar se pegando em algum lugar e Luke provavelmente estava estudando para os testes. Quando levanto meus olhos do livro, tenho uma surpresa desagradável; não é Luke.

– Eu devia ter batido? – questiona Casey Moreta ao me ver revirar os olhos. Seu nome havia permanecido em minha mente por um longo tempo antes que eu finalmente conseguisse me distrair.

– Você nem devia ter vindo aqui, pra começar – respondo.

– Queria pedir desculpa – ele dá de ombros, sentando-se na cadeira em frente à mesinha de Luke. – Talvez tentar um recomeço, quem sabe? Preciso de amigos.

– Procurou a pessoa errada.

– Dá pra sair da defensiva, Michael Clifford? – ele retruca, cruzando os braços e passando a língua pelos lábios.

– Como soube meu nome?

– Seu psicólogo é namorado da minha tia. Acho que agora ele é meu psicólogo também, acham que eu sou daqueles malucos que roubam as coisas sem perceber. Não me lembro do nome.

– Cleptomaníaco – respondo.

– Isso. Valeu, Mikey – ele piscou pra mim. – Acham isso por causa do meu histórico, mas é mentira. Não importa, essa é a única coisa que me mantem aqui. O reformatório comum é horrível.

– Por que você acha que isso aqui é um reformatório? – sento-me na cama para ouvi-lo.

– Pensei que você não estivesse interessado nas minhas histórias – ele provoca, soltando uma risadinha.

– Nunca disse isso – dou de ombros.

Ele me olha de uma forma esquisita.

Não me lembro muito bem do que disse a ele. Só me lembro de gritar e correr. Algumas palavras soltas vieram a minha mente mais cedo – seu nome, roubar, Rena e algo sobre a prisão.

– Isso aqui é um reformatório, Michael. Chamem do que quiser, mas é uma prisão para menores. Não nos deixam usar celulares ou dinheiro, só podemos falar com os nossos pais uma vez por mês e coisas do tipo; não li todas as regras. Mas todos aqui cometeram um crime por causa de alguma coisa psicológica. Qual o seu crime, Michael Clifford? Qual o seu transtorno?

Encaro Casey por alguns segundos.

Não sei do que ele está falando, realmente não faço ideia.

Nunca cometi um crime. Nunca ao menos quebrei as regras de meu antigo colégio – não que eu me lembre. Além do mais, sou perfeitamente normal. Não tenho nenhum problema psicológico. Não sou louco. Sou apenas uma pessoa comum que nunca cometeu nenhum crime. Não sou louco.

Só posso imaginar que Casey esteja brincando, pois é isso que tudo parece, uma grande brincadeira de mau gosto para me confundir. Ele quer me pregar uma peça porque quer que sejamos amigos agora.

– Fiz um massacre na minha antiga escola, matei vários alunos usando armas – respondo, dando um sorrisinho no fim.

– Também assisti American Horror Story, Tate – ele ri.

blurry • mukeOnde histórias criam vida. Descubra agora