Ciúmes? Ciúmes.

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Mare estava certa sobre as visitas. Todos queriam saber como a "garota do relâmpago" havia escapado das mãos do Maven e sobrevivido após isso. Ela obviamente não queria falar nada. Prática como sempre, dava respostas curtas mesmo aos amigos mais próximos e ignorava o restante dos curiosos nas áreas de convivência do abrigo. Eu não confiava nessa gente, apesar de termos passado por tudo que passamos, e fiquei grato por Mare também estar com um pé atrás. Mais tarde naquele mesmo dia, Kilorn veio vê-la. Eu ainda estava no quarto dela e não me incomodei nenhum pouco quando ele ficou desconfortável ao me ver aqui.

— Você mudou para esse cômodo também? Hm.

Ergui a sobrancelha e encarei Mare por um instante antes de respondê-lo.

— Na verdade... não — dei de ombros — Mare precisava da minha ajuda.

— Ela parece bem para mim.

— Eu estou bem — Mare nos interrompeu, surgindo ao meu lado e indo trancar a porta, para minha infelicidade, com Kilorn dentro do quarto — E não preciso de nenhum de vocês para se preocuparem comigo.

Seu olhar atravessou o meu, e eu estranhei logo de cara. Kilorn parecia vitorioso, com aquele sorriso ridículo na cara. Bufei, então me virei para pegar o casaco que estava sobre a mesa.

— Tudo bem, eu vou embora.

— Você fica — a voz dela me surpreendeu e virei para dar de cara com Mare, baixinha e ao mesmo tempo tão mandona.

— Mare, eu preciso falar com você — Kilorn deu um passo à frente, e eu observei ela também dar outro passo, mas para trás.

— Conversaremos amanhã. Eu estou cansada, então...

Kilorn ficou com o rosto vermelho, algo que acontecia com frequência ultimamente.

— É... — pigarreei, tentando amenizar o clima desconfortável que surgia — Eu posso preparar outro banho para você,Mare. Se quiser.

Sugeri, olhando sério para Mare e então sorrindo para um Kilorn raivoso e muito ciumento perto da porta.  Algo estava errado com ela, e eu não ia bancar o louco agora. Baixei a guarda e ergui os braços em sinal de rendição, então me joguei numa cadeira velha. Dessa vez eu sorria para o pescador com um tom de sarcasmo no olhar.

— Até amanhã, Kilorn.

Ele deu as costas para mim e saiu, mas não antes de deixar um aviso silencioso: essa disputa teria um fim. Dei de ombros, totalmente confortável na cadeira esperando Mare trancar a porta novamente. Quando ela voltou, levantei e aproximei o rosto do dela pronto para lhe dar um beijo, mas ela me impediu colocando a mão sobre meus lábios. Seu olhar era sério, o que me deixou mais gelado que um Samos.

— Mare?

— Você tem dois minutos para se explicar.

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Não acredito que discutimos por causa daquilo...

Respirei fundo. Não durou dois minutos. Durou horas. O motivo? Minha namorada é ciumenta.

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Eu nem havia entendido sobre o quê era para me explicar, mas achei mais sábio não perguntar isso. Minha testa estava franzida, e eu procurava algo que pudesse acalmá-la antes que ela conjurasse um raio na minha cabeça.

— Seja lá o que você acha que eu fiz, quero que saiba que é mentira.

Foi a pior coisa que eu poderia ter dito.

Recebi um tapa forte no rosto, e tive a sensação de que seria muito melhor perguntar.

— OK, eu posso ao menos saber o que é, para me defender?

— Se você começar a inventar desculpas para se defender, eu vou bater mais. E talvez não seja algo tão misericordioso como esse tapa.

Passei a mão no cabelo e consegui andar alguns passos, aparentemente pensando nas besteiras que eu poderia ter feito para magoá-la, mas na verdade só estava ganhando tempo - e espaço, é claro. Duvido muito que a mão dela consiga me alcançar agora sem aviso.

— Eu não consigo pensar em nada que possa ter te ofendid...

— Você me traiu!

— O quê? — eu ri. Só podia ser piada.

— Não venha rindo para cima de mim, Tiberias Calore. Depois de ontem eu comecei a pensar no que me perguntou sobre eu ser virgem. É claro que eu era, mas e você? O princepezinho não podia se segurar até o casamento?!  

— Fala sério, Mare. Eu nem conhecia você!

— Então me diga! Quantas? Com quantas você dormiu antes de me conhecer? Ah, não... — a vi tomando tanto fôlego, que pensei que fosse explodir quando veio pra cima de mim — Você dormiu com a vaca da Evangeline?

— NÃO! Mare... — segurei os ombros dela sem muita força, apenas para que ela olhasse no meu rosto. Não tive forças para discutir com ela, seu olhar triste ameaçava chorar a qualquer momento. Eu precisava fazer alguma coisa — Quer saber a verdade? Tudo bem — respirei fundo e aliviei o aperto nos seus ombros — Eu não era virgem quando tivemos nossa primeira vez. 

Eu tinha a completa atenção dela, e pude sentir quando ela pareceu abalada com essa informação. Engoli em seco e continuei:

— Mas eu gostaria que você tivesse sido a minha primeira em tudo. As outras... 

— Ah, o plural.

— Mare...

— Cal.

Balanço a cabeça negativamente e acaricio os braços dela. Eu conhecia esse tipo de desconfiança e ciúmes porque eu mesmo sentia por ela. Limpei a garganta e abaixei minhas mãos para segurarem as dela.

— Nenhuma delas é digna de ser comparada a você. Sei que é estúpido, mas...

— Mas?

— Meu único medo é perder você.

Por um breve momento, vi os olhos dela brilharem. Não sei se foram lágrimas, pois o tempo não foi suficiente para decifrar. Logo ela largou minhas mãos e agarrou meu pescoço, me forçando a inclinar a cabeça e receber seu beijo. Fechei os olhos e deixei minhas mãos se acomodarem nas costas dela, a abracei e mordi seu lábio. Quando paramos, vi que ela estava sorrindo.

— Do que está rindo?

— Eu...

— Você...?

Ela entrelaçou seus braços ao redor do meu pescoço, me fazendo inclinar ainda mais para ouvir o que ela tinha a dizer, em sussurros, no meu ouvido. Eu havia imaginado que ela diria isso. Passei a língua umedecendo o lábio enquanto pensava em como poderia ajudá-la.

— Ah — falei, sorrindo com o canto da boca.

— Ainda está doendo um pouco...

— Eu sei o que fazer.

Cal e Mare (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora