Estava frio. Estava escuro. Em volta dele havia uma escuridão tão espessa que quase podia senti-la tocando sua pele. Parecia sólida, enchendo seu nariz e sua garganta e mesmo quando conseguia respirar, sentia-se sufocando.
Sentia algo duro pressionando suas costas e cordas apertando seus braços e pernas. Tentou se soltar, em vão, pois estava muito apertado. Então tentou gritar, porém apenas um gemido abafado saiu de sua boca, que estava tapada com uma mordaça de pano sujo.
Nada parecia muito claro, estava levemente ciente de seu corpo e muito menos de espaço a sua volta, mas uma coisa era bem clara. A sensação de estar sendo observado, de medo e agonia.
Sabia onde estava. Estava novamente naquele maldito cemitério, como havia estado todas as noites antes dessa. Quando havia tido uma noite de sono descente ultimamente? Nem conseguia se lembrar. Apenas queria ficar em paz.
Uma risada fria soou ao fundo, como ecos em uma caverna.
- Você é meu, Potter. -Calafrios subiram de seus dedos do pé até os fios de cabelo ao ouvir a voz medonha e vazia.
Mais uma vez tentava lutar contra as cordas, que pareciam apertar seu peito mais e mais, impedindo a passagem de ar.
Foi quando o corpo de Cedric apareceu a sua frente estendido no chão... Não sabia se já estava ali o tempo todo, mas só agora se dava conta disso. O garoto tinha a pele morbidamente pálida e suja de terra, os olhos amendoados completamente vidrados no além. Se uma vez fora bonito, agora a beleza não era mais do que uma vaga lembrança.
- É sua culpa... Um rapaz tão bom...
Já não lutava tanto contra as cordas, sentia-se dormente preso no olhar perdido do cadáver. Então, mais dois corpos se juntavam ao primeiro, estendidos no chão. Um homem e uma mulher ruiva...
- Sua culpa...
" Não, eu não queria..." Tentou dizer. " Eu nunca quis..."
"Mãe... Pai..." Sentia algo ruim preso em sua garganta.
E a risada que cortou a escuridão conseguiu arrancar-lhe a ultima gota de juízo.
Um grito de desespero subiu por sua garganta, esse porém, não foi detido pela mordaça, conseguia ouvir sua própria voz em agonia em alto e bom som. Foi então que acordou. Suado e gelado em sua cama dura na casa de seus tios na rua dos alfeneiros. Só agora se dava conta que tinha gritado de verdade.
Desejou não ter feito isso e mais ainda que seu tio Valter não viesse lhe pedir satisfações, ou qualquer coisa pior. Por pelo menos dois minutos nem ousou respirar muito alto, mas quando finalmente sentiu que ninguém viria, suspirou pesadamente tocando a cicatriz que latejava dolorosamente, não forte demais, porém mais do que seria agradável.
Enquanto tentava normalizar sua respiração acelerada, mesmo que não tivesse feito esforço algum, buscou alguma calma, pensando sobre o último sonho. Estavam cada vez piores, concluiu.
Se já achava ruim antes, quando vez ou outra tinha um sonho esquisito com uma luz verde que o fazia acordar suando frio, agora que Voldemort voltara a vida, aqueles sonhos de antes pareciam um passeio no parque. Sentia-se tão impotente. Como Voldemort podia brincar com ele desta forma? Sendo que a única coisa que ele poderia fazer era... Nada. Isso não era justo. Nada era, afinal.
Se fosse, ele não estaria naquela casa, com fome e cansado por varrer o jardim inteiro.
Tentando se distrair um pouco, olhou para o relógio em sua cômoda, se surpreendendo ao ver que ainda faltavam 5 minutos para meia noite, não achou que fosse tão cedo. Não sabia se ficava feliz com isso, já que dormir não era mais uma ideia tão acalentadora.
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Herança Veela (2 Vesão)
FanfictionO quinto ano de Harry em Hogwarts foi realmente um ano muito turbulento, mas e si além de tudo aquilo, ele ainda descobrisse que é um Veela? Como isso isso é possível? Descubra aqui.