Noite Difícil

453 35 19
                                    

Mesmo tatuando meu antebraço na parede uma lista de horários, não cumpro nenhum. Fico zanzando pelos corredores. Não tenho ânimo para fazer nada e quando passo próximo a sala de treinamento sinto uma mão firme segurar meu braço. Não é um gesto muito amigável depois de tudo pelo que passei e quando eu me virava para dizer umas verdades meus olhos se encontraram com alguém que já me é bem conhecido.

- Gale? – digo encarando.

- Oi Catnip, você anda sumida.

- Eu estava por aí... por que não tentou me procurar no hospital, talvez me achasse lá. – digo sem muita expectativa.

- Hum... certo e como você está? – pergunta apreensivo.

- Os médicos dizem que estou com falta de vitaminas, mas vou sobreviver. - digo de cabisbaixo.

- Entendo. – ele parece sem jeito - Reunião no Comando às 18 h. – diz com um ar superior.

- Falou como um soldado da Coin, Hawthorne. – digo indiferente.

Ele nada diz apenas segue um rumo oposto ao meu, fico ali parada observando-o dobrar o corredor antes disso ele grita:

- Não se esqueça da reunião.

Apenas bufo e sigo em direção ao refeitório. Sinto um cheiro bom, mas acredito que seja a forte vontade de me alimentar. Depois do almoço procuro minha mãe e digo a ela para me preparar um chá de camomila.

- Katniss, não se sente bem? – pergunta preocupada.

- Me sinto cansada de tudo, mas se não puder fazer não tem problema. – digo.

- Vou fazer. Aonde vai agora? – inquere.

- Para nosso compartimento descansar um pouco. – ela assente e vou em direção ao quarto.

Ao chegar escovo meus dentes e paro de frente para o espelho. Levanto a bainha da minha camisa e deixo minha barriga exposta, pouso minha mão direita ali tentando sentir algo, mas está tão novinho, tento pensar em uma conta rápida – acho que um pouco mais de um mês - respiro fundo e tento não pensar em Peeta. O que é quase impossível não pensar já que estou carregando um pedacinho dele aqui dentro. Sento em minha cama secando as lágrimas que insistem em cair.

- Filha, seu chá.

Informa minha mãe parada na porta e eu nem tinha percebido sua presença. Ela me entrega o chá e bebo um pouco sentindo um pequeno alívio percorrendo meu corpo.

- Obrigada mãe, está ótimo como sempre. – digo.

- Eu ia adoçar com um pouco de xarope sonífero, mas você tem reunião no comando então resolvi adoçar apenas com um cubinho de açúcar. – diz delicadamente.

-Tudo bem, agora tentarei dormir um pouco. – digo já deitando.

Ela se aproxima e puxa o cobertor cobrindo-me.

- Querida, sei que não está sendo fácil para nenhuma de nós, mas acredite vai passar. – ela deposita um beijo na minha testa e quando se retira durmo profundamente.

- Katniss... – ouço ele gritar muito, muito longe.

- Peeta! – elevo minha voz para ver se alcança ele, mas não faz a menor diferença.

- Katniss, me ajude! – implora e tento correr até ele, ao invés dos galhos, arbustos ou árvores da selva me atrapalharem me deparo com uma porta de aço. Sinto que Peeta está do outro lado clamando por minha ajuda, mas não consigo alcançá-lo – Katniss... Katniss!

Eu, você... nósWhere stories live. Discover now