Eu, você... nós

É uma Menina

Quase quatro meses se passaram desde que voltamos da capital e sinto-me mais inchada do que nunca. Estamos no fim do inverno, no final mesmo, quase toda a neve derreteu e faz uma semana que minha mãe e Prim retornaram da Capital. Peeta sugeriu que nos mudássemos para sua casa, para assim termos privacidade e constituirmos nossa família. Pensei que seria mais doloroso para ele, mas não foi. Depois daquele sonho que tive contei assim que acordamos, ele transbordava de alegria ao imaginar um futuro assim para nós, em seguida me disse que aquilo poderia ser real, pois agora tínhamos um ao outro.

Comecei a ter fortes contrações, mas no final não era sinal de que nosso bebê estava chegando. Peeta ficou muito preocupado e seu cuidado comigo triplicou. Eu acabava por ficar zangada com tudo isso, comecei a brigar com ele.

- Peeta já disse, estou bem! – ele não saía do meu encalço e, em mais uma manhã eu já estava com os nervos à flor da pele.

- Katniss desculpa, mas só quero te ajudar – diz segurando em meu antebraço enquanto eu descia os últimos degraus da escada.

- Sabe como pode me ajudar? – o encaro com fúria - Me deixando em paz! – rosno entre os dentes próximo ao seu rosto.

Ele suspira profundamente antes de me lançar um triste olhar que há muito tempo eu não via e se retira indo ao escritório.

Fui em direção à sala e sentada ao sofá permaneci o que me pareceu horas. Comecei a sentir um grande incomodo no peito como se tivesse cometido um crime, e talvez realmente tivesse. O toque do telefone me tira dos pensamentos e antes de atender lembrei que Peeta estava no escritório e poderia pegar a extensão que tinha lá, mas não o fez então tive que atender. Era da Capital avisando que os materiais para iniciar a reconstrução da padaria já estavam liberados e precisavam falar com Peeta. Pedi para que aguardassem na linha e fui até o escritório chama-lo. Quando entrei o vi sentado atrás da mesa que ficava próximo à janela com um semblante pra lá de triste.

- Peeta é da Capital, querem falar com você – disse parada na porta e quando ele levantou o rosto para me encarar seus olhos estavam em uma tristeza profunda e não duvido que tenha chorado. Imediatamente baixei meu olhar ressentida pelo que causei. Ele afirma com a cabeça pegando o telefone e eu saio para dar-lhe privacidade.

O que eu fiz? Como fui capaz de magoa-lo assim? Ele só está com medo de que algo aconteça comigo e com o nosso bebê. Me sinto uma completa idiota em fazê-lo chorar. Ele que sempre foi tão paciente comigo e nunca me dirigiu com grosserias ou com palavras pesadas agora, o magoei de verdade. Sempre foi assim e parece que sempre será. Eu o magoo, jogo tudo em sua cara sem ao menos ter compaixão. Não permitirei que isso aconteça nunca mais. Não agora que temos um ao outro. Preciso conversar com ele, e é isso que vou fazer.

Dou uma leve batida na porta, mas não tenho resposta mesmo assim adentro e o encontro na mesma posição de minutos atrás.

- Peeta, precisamos conversar – digo com um tom suave na voz e me aproximo dele, que se encontra intacto. - Pode me perdoar? – passo minha mão por seu rosto e noto que está quente. - Eu fui uma boba, idiota e insensível, sinto muito – minha voz embarga ao final da frase e ele levanta o rosto para me olhar.

- Tudo bem, Katniss – ele concorda com a cabeça e respira fundo.

- Não, não está tudo bem. Eu errei em ter falado com você daquele jeito – ele afasta a cadeira da mesa e eu sento em seu colo e passa seus braços em volta da minha cintura, ou melhor da enorme protuberância. – Amor, você é perfeito e a perfeição não é algo fácil de alcançar. Eu entendo que você, assim como eu, está ansioso pela chegada do nosso bebê, mas o efeito em mim tem se tornado uma tortura. A cada dia que passa me sinto mais irritada com tudo e com todos. Você lembra semana passada quando gritei com o Haymitch por causa dos gansos que invadiram nosso quintal, né? – ele ri ao se lembrar daquele dia em que Haymitch nem deu importância para meu nervosismo.