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Ficamos deitados por um bom tempo, eu pensei em mostrar a carta para Felipe mas resolvi guardar aquilo como o meu pequeno segredo. O abraço dele não era tão bom quanto o de Marc, porém era algo reconfortante e preenchia um pequeno espaço do meu coração.

- Posso te fazer uma pergunta? – ele disse me encarando.

- Claro...

- Tem alguma possibilidade de você me amar?

Fiquei imóvel, nunca tinha pensado que poderia amar outro homem depois que conheci Marc. Felipe deve ter percebido o meu desconforto, porque logo completou.

- Quero dizer, com o tempo? Nunca substituirei o seu amor por Marc, mas prefiro saber que a minha futura esposa pode me amar algum dia...

- Com o tempo, quem sabe...nunca pensamos nessa possibilidade de casamento, então temos que começar a nos acostumar.

Ele olhou para baixo com um olhar triste, assim como o dia cinzento lá fora.

- Desculpe ter te beijado, você estava triste e eu nunca havia beijado uma menina antes.

- Nunca?

- Eu sei que isso soa ridículo, não era bem assim que eu queria que tivesse acontecido.

Pude perceber que aquele beijo havia mexido comigo também, ele havia me beijado porque uma hora ou outra isso iria acontecer – a

gente querendo ou não. Não era certo fazer isso, eu amava Marc, mas teria que amar Felipe de qualquer maneira.

"Perdão meu amor, mas não quero perder mais uma pessoa que eu amo" – pensei depois de lembrar da ameaça do rei em matar Aurora se eu não fosse uma boa esposa e princesa.

- Você não beijou mal – segurei a mão dele – Só me pegou desprevenida.

- Eu mesmo estava desprevenido. Queria poder ter outra chance...

Perdão meu amor. Perdão. Eu só conseguia pensar em não perder a Aurora; então me aproximei de Felipe e o beijei. Ele correspondeu ao beijo e segurou na minha cintura; quando tive a leve sensação de estar beijando Marc, me afastei um pouco.

- Me desculpe – falei enquanto olhava para baixo tentando voltar a realidade.

- Se desculpar? Você não fez nada de errado.

Continuei fitando o nada. Tudo era confuso, tudo parecia errado.

- Ayla – ele se aproximou e levantou o meu queixo – Não quero força-la a nada.

- Você não me forçou, eu só...

- Eu sei, não precisa se forçar a fazer nada – ele me abraçou forte eu pude sentir as batidas tranquilas de seu coração.

- Mesmo isso sendo uma loucura, eu quero ser uma boa esposa para você, uma boa princesa...mas eu não faço ideia de como fazer isso.

Felipe olhou nos meus olhos e sorriu.

- Seja apenas quem você pode ser.

Aquelas palavras tiraram um pouco de peso dos meus ombros e ao mesmo tempo me fez questionar: Quem eu era?

O príncipe sabia que esse era um paradoxo que todos – principalmente eu – queriam desvendar; portanto ele me deu um beijo na testa e deixou o quarto.

Eu gostava de ficar sozinha, era uma boa hora para pensar e fazer listas. Fui até o meu baú e peguei um caderninho velho que eu tinha desde os oito anos, ele dourado e tinha capa dura; ganhei de uma das clientes da minha mãe – Madame Lingston era uma senhora carinhosa e viúva, sempre trouxe as roupas que ela comprou para as filhas que nunca vieram para dar a mim e para Aurora, esse caderno era algo antigo, mas muito valioso para mim – Nele eu escrevia uma serie de listas como:

Coisas para fazer antes de morrer (mórbido, eu sei)

1. Fazer o antigo "Festival das luzes flutuantes" – era um festival aonde milhares de pessoas acendiam lanternas de papel, faziam um pedido e as lançavam no céu.

2. Beijar em baixo d'água – acabei riscando esse porque, Marc realizou esse sem querer.

3. Superar meu medo de altura;

4. Tomar um sorvete tão gelado que congelasse o meu cérebro;

5. Ver neve – olhei para a janela coberta de neve e risquei mais esse item;

Eram desejos bobos, mas o que uma garota pobre, sem pai e que não conhecia nada além de cem metros de uma cazinha de madeira pode sonhar? Pensei no que eu desejaria agora e resolvi escrever mais algumas coisas:

6. Viajar para o máximo de países que eu conseguir;

7. Ajudar as pessoas direta e indiretamente;

8. Rever Marc.

Eu não sabia se esse último desejo realmente se realizaria, mas eu estaria mentindo se eu não o colocasse.

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