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Guardei o bilhete no meu baú antes que o visitante que bateu na minha porta entrasse e pudesse fazer várias perguntas. Demian e Aurora entraram segurando um pote com morangos.

- Como está a futura princesa? – Demian se aproximou e segurou meu rosto – Nossa você está mias branca do que as pérolas do colar fajuta da Rocksell.

- Se começar a me chamar de princesa, os saltos no meu armário vão voar – aponto o closet e ele arregala os olhos.

- Sou muito jovem para virar purpurina, obrigado.

Damos risada, era motivador ver como a autoestima dele sempre estava impecável. Aurora senta ao meu lado na cama e mostra o pote que eu estava louca para atacar o conteúdo.

- Trouxe morangos para você, achei que ia gostar – pego o pote e sorrio para os dois.

- Obrigada! Estou sem fome mas morangos sempre são bem-vindos – ouço conversas baixas no corredor e sem dificuldade reconheço as vozes de Lucie e Rocksell – Aconteceu alguma coisa que eu perdi?

- Bom, você apagou por sete horas perdeu o aviso sobre a prova das estampas que foi adiada para amanhã, as fofocas sobre você não ter aguentado a pressão do povo e desmaiado, o jantar...- Demian enumerava tudo com os dedos enquanto eu tentava não demonstrar a confusão dentro de mim.

"SETE HORAS? Esse pesadelo durou sete horas! Como não acordei antes? " Pensei e não acreditei quando olhei a escuridão da noite entrar pela minha janela.

- Teve o boato – Aurora lembrou e Demian bateu palma me tirando dos meus pensamentos sobre um pesadelo que durasse sete horas.

- Bem lembrado! – os dois se aproximam de mim como se fossem contar que assaltaram um banco ou confessar um assassinato – Os pais de Rocksell faliram.

- O que? – exclamei um pouco alto de mais – Como vocês sabem?

- Ouvi a rainha do gelo gritar com uma das empregadas – minha irmã sorriu orgulhosa.

- A família dela é do tipo que não consegue ficar sem dinheiro – comentei.

- E faria tudo por ele – Demian completou – Por isso, cuidado.

Todos me pediam para ter cuidado e eu estava ficando tão paranoica que por mim, não sairia do quarto por medo de ser ameaçada por mais pessoas.

Terminei os morangos pouco depois de Demain e Aurora saírem do quarto. Não estava com sono, então resolvi pegar uma coberta e ler "Sonhos de uma noite de verão" sentada na sacada; um livro curioso onde Shakespeare Puck (um elfo) confunde o casal de apaixonados fazendo que uma confusão seja formada; um clássico. Eu já estava no décimo capítulo quando alguém bate na porta.

- Posso entrar? – ouço a voz doce de Felipe.

- Claro, está aberta – elevo o tom da voz para que ele também me escutasse.

Felipe estava vestindo um pijama cinza de seda e segurava um pote de sorvete nas mãos.

- Muito sorvete? – deixei o livro na prateleira e olhei para ele.

- Claro! O de chocolate é o melhor. Quer dividir comigo?

- Sorvete é sempre bom, obrigada.

Sentamos na beira da cama e ficamos tomando colheradas atrás de colheradas, até que resolvi quebrar o silêncio.

- Então como está?

- Bem – ele sorriu de lado – E você, meu bem?

- Estou melhor do que antes – suspirei e peguei uma colher cheia de sorvete – Então você gosta de sorvete?

- É o meu segundo alimento favorito!

- Frango – senti os olhos dele sobre mim – E o seu?

- Pizza – olhei para a cara de nojo dele – Não me diga que não gosta de pizza...

- É uma coisa tão sem graça e sem sentido – ok, príncipes não gostam de pizza; isso significa que eles não são perfeitos como nos livros – Não sei como eu posso amar de uma garota tão linda e com gosto tão sem graça.

Parei de comer. "Ele realmente estava apaixonado por mim? Mesmo eu sendo totalmente o oposto do que uma princesa deve ser?" Meus pensamentos congelaram quando ele deixou o sorvete de lado e passou a mão no meu rosto.

- Eu estou me apaixonando por você Ayla, cada dia mais – A voz dele era tão doce que me fez largar o sorvete e sentir o toque quente a mão dele – Se você me der uma oportunidade, farei você feliz e te amarei mais do que tudo nesse mundo.

Enquanto ele falava, pensava em tudo que havia acontecido até agora: meus sentimentos por Marc, os momentos que vivemos juntos e as palavras ditas...eu o amava; mas ele foi tirado de mim e eu nunca mais o verei. Eu poderia aprender a amar o Felipe, poderia ao menos tentar seguir em frente e ser amada de novo. Porém independente de tudo, Marc sempre estará no meu coração.

- Olha, eu sinto algo forte por você, não sei se é amor – olhei nos olhos dele que já estavam fixos em mim – Mas se você tiver paciência, eu descubro o que é te amar...

- Não precisa descobrir, eu te ensino - e então nossos lábios se juntaram de um jeito que não consigo explicar, era calmo e gentil, do tipo de beijo que damos em alguém quando estamos tristes e aquele beijo fosse tirar toda a tristeza. E para isso ele teria que ser o mais calmo o possível para não acabar tão rápido.

Poderíamos estar pensando em outras pessoas naquele momento, mas éramos exatamente um para o outro o que precisávamos, e isso foi o bastante.

- Posso ficar aqui esta noite? – ele perguntou quando o beijo acabou.

- Por favor – respondi colocando o sorvete na pequena geladeirinha que ficava no canto do meu novo quarto e depois deitei na cama.

- Vai ficar tudo bem, querida – Ele deitou e me abraçou e por um momento pude me sentir segura de alguma forma.

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