Preto e branco II

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Julie está algumas cadeiras atrás da minha. Anda em minha direção e senta ao meu lado. Tenho que puxar algum assunto. Afinal, tirei a sorte de estar no mesmo trem que ela...

-Oi

-Acho que já passamos dessa parte- diz dando um sorriso.

-Ah, pois é- dou uma risada- Mas... você estava doente?

-Não. Por quê?

-Bom, você faltou o restante da semana, então pensei que...

-Sentiu minha falta?- pergunta me interrompendo.

-Ah... eu... Bom, é que...

-Brincadeira- mais risos- suas reações são impagáveis. Na verdade, tive que sair com minha família... fomos visitar um parente doente.

-A sim, desculpe perguntar algo pessoal, a gente mal se conhece- Trocamos nossos números. Dizer isso vai afetá-la de alguma forma

-Mas é claro que nos conhecemos direito, trocamos até números de telefone... poxa, estou surpresa que você não pense assim- Deu certo!

-Ah, não é isso... desculpa, só não queria que me achasse intrometido.
-Não precisa ficar tão na defensiva. Em fim, está indo dar um passeio?

-Na verdade estou indo... fazer um check up de rotina- Espera, Como assim "defensiva" ?

-Entendo. Por causa do braço né?

-Pois é- Deixei o assunto morrer denovo... Pensa, pensa, pensa... Já sei!

-E quanto a você? Resolveu dar um passeio?

-Na verdade, estou indo ao oftalmologista. Ando com a visão um pouco debilitada.

-Nossa, espero que não seja nada sério.

-Obrigada- dá um sorriso- bom, é aqui que eu desço.

O trem para em uma estação, Mas meu ponto é um pouco mais a frente. Ela se levanta e anda em direção as portas. Como o vagão não está muito cheio, ela para bem na saída e diz...

-Foi bom conversar com você Josh. Mesmo que só por...- dá uma olhada no relógio em seu pulso- quinze minutos.

Ela se afasta e o trem segue em frente. Aquela pessoa tinha mesmo razão, foram apenas quinze minutos. Isso significa que sabia aonde a Julie iria parar. Será que ele ou ela, seja lá quem for, vigia também a Julie?

Tais pensamentos ficam rondando minha cabeça. Me sinto estranho agora que a Julie não está aqui... meio aflito. Como se não fizesse mais sentido perguntar algo ao Doutor Valieri. Como se o passado tivesse se tornado algo... trivial. Quero ir atrás dela...

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Finalmente chego na estação. Desço do trem e avisto o local onde vendem os bilhetes. Subo as escadas, ando mais à frente até a entrada do hospital. Por algum motivo, fico parado no portão observando a entrada da UTI.

Resolvo entrar de uma vez. Ando uns 6 metros pelo pátio externo que dá acesso a recepção, quando escuto uma voz dizer: "Não acredite neles Enfield". Olho para trás e vejo algo que parece ser um vulto passando em frente ao portão. Rapidamente, corro de volta em direção ao mesmo, na espera de alcançar... aquilo, mas ao chegar lá, dou de cara com o Doutor Valieri.

-Opa! Você está bem?

-Estou sim, obrigado.

-Você é o rapaz do acidente de ônibus não é? Se não me engano, seu nome é Josh.

Remember meOnde histórias criam vida. Descubra agora