O Excesso de Singularidades

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  Já faz algum tempo que eu não tenho tido boas noites de sono. Eu adormeço, mas quando acordo, ainda é noite. Se fosse colocar na ponta do lápis, acho que seriam no máximo umas duas a três horas de sono por dia. Isso tem me afetado muito. Percebi isso quando meu telefone tocou e eu achei que era o maníaco.

  O resultado disso? Tive que pedir várias desculpas para a moça da recepção do hospital. Eu a xinguei de muitas coisas, e ela só queria me informar que Sam havia acordado do coma. Agora estou na sala de espera enquanto algumas enfermeiras me encaram disfarçadamente. Provavelmente elas estão comentando sobre a minha grosseria. Abaixo o meu boné na intenção de esconder o rosto.

-Josh Einfield?

  Uma voz masculina chama o nome que eu pensava ser meu. Olho para frente e vejo um médico segurando uma prancheta.

-Você é Josh Einfield?

-Oh! Não. Desculpe.

-Tudo bem- ele sai andando.

  Volto a minha posição de disfarce, mas acabo me tocando que as pessoas ainda acham que me chamo Josh. Levanto e saio correndo atrás do doutor. Uso a desculpa de estar muito distraído na hora em que ele me fez a pergunta e mostro meus documentos para provar o que digo. Ele acredita e me leva até a entrada do quarto de Sam.

-Por favor, seja breve. Ele precisa descansar.

-Tudo bem. Obrigado.

  Entro no quarto e vejo Sam deitado. Puxo uma cadeira e me sento ao lado dele. Me disseram que ele tinha acordado, mas ele está dormindo!

-Tem tanta coisa que eu queria te perguntar... Pai.

-Eu estou ouvindo... Filho.

  Olho para seu rosto e o vejo com os olhos abertos e úmidos. Um longo silêncio toma conta do ambiente enquanto nos encaramos. Só o que se ouve é o barulho da máquina que monitora os batimentos cardíacos de Sam. Ele leva a mão na direção do meu rosto. Os barulhos, que já eram poucos, somem. Sinto minhas lágrimas começando a rolar...

-Você finalmente se lembrou. Estou feliz. Agora você sabe quem é.

-Pai... Eu não sei quem ou o que eu sou. Me explique o motivo de tudo isso estar acontecendo... Me salve, me-

-Dwayne!

  Ele me interrompe chamando meu verdadeiro nome e se senta encima da cama.

-Pai! Não se esforce! O senhor tem que descansar... Tem que-

-Dwayne!- me interrompe novamente.

-Sim, pai. Eu estou aqui!

  Ele começa a rir olhando para cima enquanto as lágrimas simplesmente escorrem dos seus olhos.

-Meu filho, você não sabe como me faz bem ouvir você me chamar de pai. Você não costumava fazer isso. Para falar a verdade, você me chamava de muitas coisas, exceto de "pai"

-Por que? O que eu fazia? Que tipo de pessoa eu era?

-Você já deve ter feito essa pergunta inúmeras vezes, não é? Nos seus dias frios, sozinhos... Escuros. Seja sofrendo ou duvidando, você sempre se fez essa pergunta.

  Olho para ele com olhar de confusão. É como se ele soubesse das coisas pelas quais eu passei. Mas isso é impossível, pois ele estava em coma esse tempo todo.

-Não fiquem tão confusos. Precisam manter a mente no lugar... Vocês dois.

-O QUÊ? O SENHOR SABE DO OUTRO?

Remember meOnde histórias criam vida. Descubra agora