flashback 001

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  Seokjin acordou com a testa encharcada pelo suor. Havia acabado de ter o pior pesadelo de sua vida, sem qualquer tipo de comparação a qualquer filme de terror que tivesse visto sem a permissão de seus pais em alguma madrugada sombria.

  Havia sonhado que uma chuva de facas afiadas caía em cima do berço do seu irmãozinho.

  Seokjin passou a ponta da coberta no rosto grudento e se levantou, ligando a fraca luz do abajur para checar se seu pequeno TaeTae estava bem. Sorriu consigo mesmo ao se certificar de que ele dormia sereno no berço, com os dedinhos se mexendo um após o outro, a chupeta que o garotinho mantinha na boca acompanhando o movimento dos lábios.

  Jin ficou na pontinha dos pés, se inclinou sobre Taehyung e depositou um beijo em sua testa. Ele amava o irmãozinho mais novo mais que tudo no mundo.

  — Jinnie? – Namjoon se encostou na porta aberta do quarto dos garotos, olhos ainda pregados pelo sono recém interrompido. – Já tá tarde, meu anjo. Vai dormir.

  — Eu tava checando o Tae, Appa. – ele disse, antes de direcionar um sorriso ao pai, que retribuiu.

  — Tudo bem. Mas agora desligue o abajur e deite, okay? Amanhã é a formatura da mamãe, não está ansioso para vê-la? – ele disse. Seokjin assentiu com a cabeça. Assim Namjoon sussurrou um boa noite aos filhos e voltou para sua cama.

  Mas Jin não conseguiu parar de pensar em seu pesadelo. E se aquelas facas realmente caíssem em cima de Taehyung, e ele estivesse tão adormecido que nem pudesse perceber?

  Não podia deixar isso acontecer.

  Antes de se deitar, Seokjin pegou todos os seus bichinhos de pelúcia e travesseiros e os colocou em cima de seu irmão, certo de que aquilo o protegeria de uma possível enxurrada de facas afiadas.

  Sem ter nenhuma consciência de que aquele ato talvez matasse Taehyung sufocado.

  Se Namjoon não tivesse voltado para checar se Seokjin estava mesmo na cama, talvez ele não tivesse chegado a tempo de tirar seu bebê de quatro meses roxo e sem ar debaixo de todas aquelas pelúcias. Talvez não tivesse chegado a tempo de soltar alguns gritos e levar Taehyung direto pra emergência, ligar para a esposa que estava a oitenta quilômetros de distância aos prantos, deixando que Seokjin ficasse totalmente confuso com tudo aquilo acontecendo ao mesmo tempo.

  Por poucos segundos Namjoon não perdeu um dos filhos naquela noite. Mas ele perderia muito mais.

  A autoestrada para o inferno estava apenas começando.

  Tanto Namjoon quanto Jihyun estava perdidos em relação ao que fazer com Seokjin depois daquilo. Se sentaram juntos com o filho mais velho, enquanto lhe faziam carinho nos cabelos e colocavam-lhe colheres de sorvete de creme na boca, para conversar. Falaram com ele, mas o garoto não pareceu mostrar consciência do que havia feito, ou arrependimento. Estava agindo como se não houvesse feito nada demais.

  Jihyun perguntou diretamente ao filho por que ele havia colocado todos aqueles travesseiros em cima do irmão mais novo. Este respondeu exatamente o motivo que o levou a tal ato, deixando ambos os pais preocupados.

  Uns meses mais tarde, levaram Seokjin ao psiquiatra. O Kim não entendeu muitas das perguntas feitas a ele, não entendeu por que estava ali e muito menos os remédios que seus pais lhe fizeram tomar todos os dias.

  Ele entendeu menos ainda quando teve de se mudar para uma casa toda revestidinha de branco – bonita, de certo modo, mas nem sua mãe, nem seu pai, e nem seu irmão mais novo se mudaram com ele. Ele passava os dias e as noites na companhia de homens e mulheres todos vestidos de branco. E, claro, de seus pesadelos.

scars to your beautiful ¡! vminOnde histórias criam vida. Descubra agora