A sós. (2)

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- Não lembro como isso aconteceu.

- Antes de prosseguimos o senhor precisa saber de algo. -disse a senhora se direcionando a Davi. - Desde pequeno o Jorge não se lembra direito das coisas, as memórias dele podem sumir de repente, voltar em alguns dias, ou sumirem para sempre.

- Agora as coisas fazem mais sentido. -afirmou o advogado. - Então o momento do assassinato foi mais uma de suas memórias que sumiu?

- Sim, mas eu tenho certeza que não matei aquele homem, para começar nunca vi ele na vida e jamais faria mal a uma mosca. -disse Jorge.

- Ok, nesse caso sugiro que reúna os laudos médicos, que confirmam essa falta de memória de Jorge, se a polícia o deixou livre não deve haver provas para confirmar a participação dele no assassinato, preciso ficar informado sobre a investigações...

Davi começou a explicar várias coisas, Jorge parecia nem estar ouvindo, já que cada vez que tentava fazer cara de sério acabava dando um sorriso bobo.

- Entenderam?

- Sim, obrigado. -os pais de Jorge se levantaram para sair, ele foi atrás olhando para Davi.

- Tchau.

  Davi fechou a porta e começou a se lembra do dia que conheceu Jorge, ele estava muito abatido naquele dia e levou um susto ao perceber que estava sendo fotografado por um desconhecido, mesmo impressionado com as palavras do homem, Davi saiu o mais rápido possível, com medo de onde aquilo poderia parar.

Cansado e esperando passar o final de semana sentado no sofá, sozinho e tentando ter um momento de paz, Davi saiu do escritório e andou até um mercado próximo ao local, foi direto para a sessão das bebidas, talvez um bom vinho afastasse um pouco dos problemas.

- Então você gosta de vinho? -perguntou uma voz familiar, imediatamente Davi se virou e ao seu lado estava Jorge encarando ele.

- Um pouco...

- Que pena, amo vinho. -Jorge falava de um jeito, que o fazia parecer um grande pensador.

- Legal... até. -Davi estava saindo, mas Jorge o segurou pelo braço.

- Para que tanta pressa? -ele o soltou.

- Preciso voltar para minha casa.

- Alguém está lhe esperando? -perguntou olhando no profundo dos olhos de Davi, aquilo o deu um ligeiro calafrio, o fazendo demorar a responder.

- Qual o propósito dessa pergunta?

- Saber, se eu tenho alguma chance de o convencer, a me acompanhar até qualquer lugar, onde possamos conversar.

- Se é sobre seu caso fique tranquilo, darei meu melhor para o resolver.

- Não é isso, quero falar sobre aquele dia, em que o vi pela primeira vez, sinceramente, não esperava o reencontrar, mas que bom que isso aconteceu!

Davi travou, argumentar não era algo difícil para ele, mas naquele momento seus sentimentos tornavam seus pensamentos uma bagunça.

- Não se preocupe, se você usar minha imagem em algum lugar eu o processo. -Davi se virou novamente para ir embora, Jorge foi atrás dele.

- Claro que não vou usar sua imagem, eu fotógrafo as coisas para não esquecer dos acontecimentos, por isso tirei aquela foto sua, não queria tirar sua imagem da minha mente.

Eles pararam na fila do caixa, Davi encarou Jorge, respirou fundo e parecia estar elaborando um discurso.

- Por que quer falar desse dia?

- É óbvio. -Jorge pegou no queixo dele, que imediatamente ficou vermelho, os óculos começaram a ficar embaçados e a respiração forte. - Eu... não me lembro o que ia dizer... -Davi se afastou incrédulo, com o que havia acabado de acontecer.

- Sério?

- Mas por favor, queira me acompanhar.

- Para onde?

- Um restaurante aqui perto, aposto que você não tem nada de mais interessante para fazer.

Davi pensou em recusar a proposta, porém realmente não tinha nada melhor para fazer aquela noite e talvez aquilo fosse bom, para esquecer um pouco dos problemas.

- Tudo bem, eu janto com você, mas só isso e mais nada.

- Sim senhor!

Ao saírem do mercado, Jorge guiou Davi até um restaurante, na rua ao lado, havia um letreiro feito de madeira enorme na frente escrito o nome "A sós" várias pessoas diferentes se reunião no local, conversavam e comiam.

Jorge e Davi se sentaram em uma mesa no canto, próxima a janela que dava vista a rua, Jorge tirou algumas fotos ao entrarem.

- Gostaria de avisar, que envolvimentos pessoais com meus clientes vão contra meus princípios como profissional.

- Mas tecnicamente você me conheceu antes de virar meu advogado, então não a problemas. -disse Jorge enquanto pegava o cardápio.

- Se continuar argumentando desse jeito nem vai precisar de advogado.

- Vou adorar ser defendido por você.

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