Androceu - Parte 01

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Existem meninos que são como flores, pois sua aura multicolorida alegra e encanta.

Pessoas de espírito bom que nascem em qualquer tipo de configuração familiar, tem todo o tipo de educação, classe social ou etnia.

Andróginos optam por serem eles ou elas, assim como se sentem melhor. Não necessariamente amam alguém do mesmo sexo. Nem são o que parecerem. São eles parecendo fisicamente elas, como as flores delicadas que possuem gametas masculinos.

A religião quer julgar e a ciência quer curar. Nós só queremos admirar.

Porque esses meninos são assim?

*

Me chamo Narciso, recebi aquele tipo de educação onde ensinam que a homossexualidade é errada e pecaminosa.

Antes, ninguém tivesse falado nada, pois desde muito jovem amo outros rapazes, cuidando para ser discreto e nunca descobrirem esse meu grande segredo.

Moro numa cidade portuária e sou sócio em uma empresa no ramo de importação. Importamos e comercializamos carros e autopeças. Desde o desembaraço até o momento da saída para o comércio interno temos uma infinidade de processos que nos fazem contratar muitos profissionais, sejam formados em logística, administração, contábeis, economia e demais cursos.

Me aconteceu algo incomum quando minha auxiliar digitadora foi promovida e mudou de setor. Pedi ao RH que me separasse alguns currículos, pois eu mesmo queria dar uma selecionada e dentre estes, chegou em minhas mãos um perfil que me chamou a atenção.

Nome: Alisson Rosa; idade 24 anos; formação: Bacharel em Administração. Sim, haviam outras informações pessoais e endereço, bem como referências. No final gostei também de sua aparência, um belíssimo rosto que aparentava muito menos idade do que aquela informada.

No dia da entrevista chegam as oito candidatas pré-selecionadas e Alisson estava entre elas. Seu corpo era muito magro e mirrado, os cabelos castanhos claros um pouco abaixo dos ombros, nariz pequeno e arrebitado, um sorriso tão perfeito que me deixou encantado e seu olhar me transmitia tranquilidade.

Quando chamei seu nome, eis que uma grave voz sai de seus lábios carnudos e róseos:

- Bom dia, sou Alisson e estou muito interessado em ocupar essa vaga. Espero que me deem esta oportunidade.

Um cara andrógino. Alisson tinha aspecto feminino, mas nem por isso era afeminado. Vestia-se na ocasião com calça jeans, uma blusa preta colada com echarpe salmão com fios brilhosos e seus cílios estavam pintados, ou não?

Fiquei curioso e intrigado com Alisson, o rapaz andrógino.

Lembro de cada detalhe da entrevista onde fui pego de surpresa com sua pergunta.

- O senhor, sabendo que possuo graduação em administração de empresas, sei falar espanhol fluente, fiz cursos de oratória e vários outros pagos com meu próprio dinheiro, deixaria de me contratar por alguma coisa em minha aparência?

Diante dessa indagação me vi desafiado. Como contratar alguém de cabelos que longos, cílios pintados, rosto feminino e com uma voz grave e retumbante?

Alisson me lembrava aqueles garotos dos anos 70 que víamos em clipes musicais do estilo Glam, mas nunca havia esbarrado com um. Por isso a surpresa, pois ele era novo demais na minha vida real.

Nunca se candidatou a uma vaga em minha empresa alguém com suas características e contrariando meu sócio eu decidi contratá-lo.

Alisson. O nome de uma flor, tal como o meu. Flores nos lembram feminilidade e delicadeza, mas o jovem a quem contratei apenas por fora parecia-me uma flor. Por dentro ele era um homem misterioso, de personalidade forte e dono de uma perspicácia ímpar. Ele não era do tipo que se via debatendo sobre a vida de um ator ou cantor da moda, mas falava sobre a arte e música de maneira culta.

Coleção de Contos CarochinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora