Prazer, medo e suspense... - Parte 01

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Esse causo é um ocorrido em alguma cidade bonita do Alto Vale do Itajaí em Santa Catarina. Começa em 31 de outubro no horário de verão, estaria claro se não fosse o tempo fechado, céu cinza com algumas nuvens densas e negras. Sopra um vento quente, mas relampeja, fazendo o jovem trabalhador do cartório subir ainda mais apressado querendo escapar da tormenta. A subida parece interminável, a escuridão não condiz com o horário, 18:30 quando um dia antes e um dia após faz sol na mesma hora.  

José é apenas mais um dos muitos Josés pelo Brasil. Um cidadão comum que trabalha em horário comercial, mora em um bairro bem estruturado perto do centro e a rua onde mora, sobe ladeira. O morro foi recém-calçado, não é íngreme, mas torna-se cansativa a subida todo santo dia.

Ele tem medo de tempestades e muito mais medo de passar em frente ao cemitério que fica na outra rua, é obrigado a desviar-se de um carro que perde o controle não o atropelando por um triz. O veículo sai cantando pneu e desaparece em outra rua por ali.

Quando se flagra está caído de costas na calçada de uma casa de madeira velha e sem nenhuma pintura onde mora um casal de pessoas idosas que sempre lhe cumprimentam de forma alegre. Mas hoje as duas cadeiras de balanço estão vazias, balançando como se uma pessoa invisível aí estivesse sentada.

Podem ser coisas da cabeça de José, que se levanta muito rápido e no susto toma rua oposta que levaria a sua casa.

Na metade da rua longa de calçamento, José se dá conta que se aproxima do Jardim das Memórias, o cemitério. Desde sua infância cemitérios lhe trazem amargos pesadelos. Não há vestígios de pessoas nas varandas vazias, o trovejar ruidoso cessou e o único som agora é o de seus passos, seus sapatos produzem sons que ecoam naquele silêncio perturbador.

No peito de José, um misto de alívio com a insegurança se dá, ao notar que outro som de passos se juntou ao seus. O som está tão perto dele que basta virar para ver de quem se trata. Na insegurança ele não o faz. Seja quem for deve estar tão perto que logo o alcançará.

José se apressa, bem como os passos que o seguem, não são mais dois, são quatro ou seis, seja quem forem, devem estar ouvindo o seu coração bater forte.

José se vira e pensa em enfrentar o inimigo sozinho, pois a sua frente tudo está vazio, nem almas penadas, nem vivas, nada. Vazio. Seus arrepios são tão doloridos, seu corpo gelado está completamente suado, suas pernas trêmulas não lhe obedecem.

José sente medo de se virar de volta, fica paralisado, pois não sente mais o vento morno e sim gelado, sons de murmúrios de vozes e uma força que está sobre a sua vontade o faz se voltar.

A rua longa e calçada, tão solitária, com névoa baixa, trouxe convidados, pessoas paradas nas beiras das calçadas, perto do meio fio.... Não são pessoas conhecidas, muito pior, estão mascaradas, imóveis, mesmo assim parecem ver José por dentro, com seus medos. Ele continua parado, pensa ter ouvido sons de risos, mas não sabe de onde vem. As pernas se movem bem lentamente, para frente, mas sua alma parece ter lhe fugido, se fugiu foi ao limbo, já que o medo é o seu pior inimigo.

Ele passa lentamente por uma plateia de máscaras de palhaços, Meyers, Jasons, Dráculas, bonecas de louça. É Halloween, será que alguém quer brincar com ele? José pensa que a brincadeira é sem graça e quando acha um resquício de coragem se volta, seus observadores sumiram outra vez. Um pouco de calor volta ao seu corpo, mas a adrenalina ainda não diminuiu, seu caminhar não o leva a lugar algum, nunca tomara aquela rua, muito menos poderia imaginar que no final desta encontraria uma placa de: sem saída, e uma mureta mal rebocada, manchada de verde escuro de limo velho.

Seu corpo congela, pensa em voltar pela extensa rua e quando se volta suas "estátuas" lá esperam como se fossem peças de um jogo, estáticas. Um pio de coruja, entra por sete vezes pelos ouvidos... Medo.

Coleção de Contos CarochinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora