[Martin]
-Nico?
-Oi amor. – Ele respondeu meio alheio.
-Como você imagina o futuro? O nosso futuro?
Perguntei ao lembrar que passei horas pensando nisso na noite anterior. Nicolas pareceu parar pra pensar um pouco, levantando seus olhos do livro que lia e finalmente dando total atenção a mim. Observei por um momento seus lindos e brilhantes olhos negros olhando pra mim, e pensei no quão sortudo eu era por tê-lo e que não podia perdê-lo nunca, tudo que fosse possível eu faria parar ter aquele lindo rapaz pra sempre em minha vida. Antes de me responder, suas mãos começaram a deslizar gentilmente pelos meus cabelos e eu acomodei minha cabeça em seu colo.
-Nossa que pergunta! Bom, eu consigo ver claramente a gente na nossa casinha bem simples e aconchegante, nós vamos ter um cachorro, um gato... Ah, eu quero uma tartaruga também. Você provavelmente vai trabalhar na empresa do seu pai porque, nessa altura, se cansou de fugir e vai chegar em casa todos os dias reclamando do velho. Eu vou dar aulas como sempre sonhei e por isso nós só vamos nos encontrar no final do dia, cheios de saudade e histórias pra contar. Enfim, não vamos ser o casal perfeito de comercial de margarina, mas vamos estar juntos e felizes, e isso é o que importa. E eu te amo!
Era por esses e outros motivos que eu o amava tanto. Ele disse tudo aquilo de uma forma tão doce, mas ao mesmo tempo com uma certeza tão grande, que eu já não tinha mais duvidas que assim seria. As minhas neuras com aquele assunto tinham sido totalmente dissipadas com a confiança que ele conseguia me transmitir. Nada e ninguém conseguiriam acabar com nosso amor, iríamos ficar juntos pra sempre.
-Eu também te amo, Nico! Muito... Muito!
Levantei rapidamente, tomei o livro de suas mãos, jogando-o em cima da cama e envolvi seu rosto com minhas mãos. Ele sorriu pra mim de forma doce, fazendo suas covinhas que eu tanto amava aparecerem e sua pele negra ganhar um tom diferente. Beijei-o lentamente, fazendo com que nossos lábios se selassem e senti-o sorrir com isso, seu beijo era calmo, doce, viciante e sempre tinha o dom de me deixar como se houvesse borboletas no meu estômago. Eu amava isso! Nossas respirações se aceleraram no meio do beijo que começava a ganhar intensidade e eu sabia que estava prestes a perder o controle, então, ele nos obrigou a parar e esperou até que eu voltasse a abrir os olhos pra realidade novamente.
-Tá com fome?
-Um pouquinho desde que acordei. – Respondi meio envergonhado e mentindo sobre a intensidade da minha fome que era enorme.
-Quantas vezes eu já te falei que você pode sair do quarto e pegar alguma coisa pra comer quando estiver com fome!? Minha mãe não morde.
Recebi essa bronca mais que merecida dele, todas as vezes que eu dormia lá era sempre assim, mas eu não conseguia vencer a vergonha e encarar a mãe dele logo pela manhã, ainda mais pra pedir comida. Ele então me puxou pela mão e foi me arrastando pra fora do quarto até a cozinha, onde sua mãe já estava lá mexendo em algo.
-Bom dia, Dona Sônia.
-Bom dia Martin!
Ela respondeu simpática como todas as outras vezes.
-Ei mãe, tem alguma coisa de comer para dar pra esse menino faminto?
Nico proclamou em alto e bom som. Apertei mais sua mão como sinal de alerta e que era pra ele parar imediatamente com aquilo, mas ele só fez rir da minha cara.
-Calma, o menino faminto sou eu. – Ele me disse com deboche.
Nos sentamos juntos ali na mesa posta para o café da manhã e ele, como sempre, me serviu de tudo aquilo que ele sabia que eu gostava e começamos a comer como uma família. Não consegui deixar de reparar na paz e harmonia que era estar sentado naquela mesa com os dois, ali sim eu me sentia acolhido de verdade, tão diferente da minha casa e o caos que lá podia se transformar ás vezes. Agora sim eu entendia que ter dinheiro e viver bem nada tinha a ver um com o outro.
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Recomeçar
Short StoryNicolas se apaixonou por Martin no mesmo momento em que o viu pela primeira vez, porém, os pais do menino estão bem dispostos a fazer com que esse relacionamento seja interrompido, tentando mil maneiras de afastá-los. Mas, sem que ninguém mais preci...