Capítulo 11 - Apenas Amigos

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[Nicolas]


-Então... é aqui que eu me realizo. – Disse a ele, olhando pros lados depois de lhe mostrar os quatro cantos da pequena escolinha. – Durante a semana eu dou aula em um bom colégio, mas sabe, é aqui e aos finais de semana que a mágica acontece.

-Que demais Nico! Eu entendo sua alegria, isso tudo é incrível, o trabalho que você tem feito com as crianças é muito bonito.

-Eu ainda estou conversando com alguns professores, a idéia é de preencher todas essas outras salas de crianças que realmente precisam de reforço escolar.

-Vai dar certo. E se eu puder ajudar de alguma forma, estarei aqui. – Sua animação era quase tão grande quanto a minha.

-Eu estou andando muito rápido? Você precisa de ajuda, Martin?

Perguntei a ele, notando que caminhava com um pouco de dificuldade do meu lado e tentando acompanhar meus passos. Sua muleta, pressa em um dos seus braços, o ajudava a caminhar, mas mesmo assim ele ainda mancava um pouco.

-Não, eu tô bem. Só os meus músculos que ainda estão um pouco travados, afinal, foram anos sem andar. – Ele tentou fazer graça com aquilo como se não fosse nada demais. – Mas me mostra onde é a sala que você da às aulas.

Seguindo minha promessa de que iríamos ser amigos, eu e ele vínhamos nos aproximando muito bem ao longo dos dias e desde o mês passado, ao qual nos reencontramos, mantínhamos contato constantemente. Sinceramente, eu achava que causaria um pouco de trabalho manter o Martin em minha vida depois de tanto tempo, nossa historia foi complicada e nem tinha acabado bem, mas a sintonia que tínhamos, um tipo de sintonia diferente daquela de antes, era tão boa que nos adaptamos instantaneamente. E foi por isso que eu o convidei para vir comigo, no sábado, conhecer a escolinha em que eu dava as aulas.

-E essa é a sala!

-Que lindos esses desenhos.

Ele disse, assim que entrou na sala, indo até a parede para olhá-los mais de perto. Fui até a mesa, coloquei as coisas que eu tinha preparado pra aula ali em cima e fiquei admirando-o passar de um desenho pra outro e sorrir.

-Daqui a pouco eles chegam. Eu quis ter essas aulas em um horário mais tarde porque assim eles têm tempo pra dormir mais.

-Nenhuma criança gosta de acordar cedo. – Ele concordou, se virando pra mim e me olhando. – Eu posso ficar aqui pra assistir uma aula sua? Ia ser demais, alem do que, eu preciso mesmo me atualizar de umas coisas que mudaram de uns tempos pra cá.

-Claro.

Eu respondi, tentando imaginar como seria ter o Martin ali assistindo a minha aula. Certamente meu nervosismo, que quase não existia nessas horas, viria e eu teria que me concentrar duas vezes mais.

As crianças foram chegando aos poucos, visivelmente animadas por um novo dia e isso fez com que eu fosse me soltando e deixando de lado a tensão de ter o Martin ali.

-Meninos, esse aqui é o tio Martin e ele vai assistir a aula com a gente hoje.

Disse a eles, apontando pra figura sentada em uma das cadeiras da frente e parecendo estar bem concentrado. E foi assim durante as duas horas que se seguiram, a matéria que eu tinha preparado para aquele dia era sobre acentuação, vírgulas, a variedade de entonações e como empregá-los em frases. Ele, percebendo que algumas coisas haviam mudado desde que estudara isso, pegou uma folha com um de seus novos coleguinhas e passou a anotar tudo com muito entusiasmo, não que eu estivesse prestando atenção só nele ali, mas foi inevitável não me dar conta disso.

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