Capítulo 4 - Planos Destruídos

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[Martin]


-O que?

Perguntei meio perdido e sem saber se realmente tinha ouvido direito. A postura dos dois tinha mudado, estava claro que eles ali eram donos da situação, e eu, só queria entender o que estava acontecendo.

-Sua mãe e eu conversamos e vimos que não está certo obrigarmos você a fazer o que não quer, por isso, estamos dispostos a dar uma chance a você e pagar um dos melhores cursos de Artes, na melhor faculdade, com os melhores professores e com tudo que há de melhor fora do país pra que você concretize esse sonho.

-Fora do país?Porque isso?

-Achamos que seria melhor assim, além do mais, todos nós sabemos que o Brasil ainda deixa a desejar na educação. Você não teria muitas opções nessa área aqui e nós queremos que você seja o melhor.

Ele disse e acabou de jogar a última pá de terra na esperança e alegria que começava a se formar em mim. Fora do país. Longe de tudo. Longe dos meus amigos. Longe do Nicolas. Chegaria a ser cômico, se não fosse trágico, que a realização do meu maior sonho só pudesse acontecer caso eu deixasse pra trás a pessoa que eu jamais imaginei encontrar, e que fazia todo o resto ter sentido. Me vi diante de uma situação que eu jamais pensei estar, um nó se formou na minha garganta e eu começava a me sentir estranho. Eu não queria ter que decidir entre meu sonho e o Nicolas, os dois eram pra estar andando lado a lado, fazendo com que nossas realizações fossem motivo de alegria entre a gente. Definitivamente eu não podia ficar sem um dos dois.

Mas não, de repente me veio um estalo que fez com que eu começasse a entender todo aquele show que eles haviam dado. Havia muito mais por trás daqueles dois sentados ali na minha frente como estivessem dado a grande chance da minha vida. Eles não estavam querendo simplesmente que eu fosse feliz e seguisse meu sonho, havia algo por trás daquela súbita mudança de opinião e proposta pra sair do país. E esse algo era exatamente isso, me verem longe do relacionamento que eles tanto odiavam, eles estavam dando a chance para que eu mesmo sabotasse meu namoro em troca de viver meu sonho. Tudo não passava de um teste, ridículo! Talvez eu até ficasse balançado se o verdadeiro motivo não fosse aquele, mas naquele momento eu só conseguia sentir desprezo pela oferta.

-Não, muito obrigado. – Disse me levantando de repente e sentindo uma súbita raiva por ter como pais pessoas que eram capazes daquilo.

-Como que é garoto?

Meu pai de levantou na mesma rapidez e deu pra perceber, pelo tom de sua voz, que aquela tranquilidade e total domínio da situação tinham sumido.

-Eu estou dizendo que fico agradecido, mas não vou aceitar a proposta de vocês. – Falei com convicção, tirando uma força de dentro de mim que eu jamais imaginei.

-Posso saber o porquê, meu filho?

Minha mãe perguntou alheia ao olhar fuzilador que meu pai me lançava, estava mais que claro que ele perdia total controle da sua serenidade costumeira e já começava a transparecer raiva me vendo ali os enfrentando.

-Vocês acham realmente que eu sou bobo? Eu sei onde esse joguinho todo vai parar, e vou adiantar, estão perdendo tempo. Nada vai me fazer viajar e me afastar do Nicolas, nem mesmo essa proposta ridícula disfarçada de boa ação de vocês, ele é o cara que eu escolhi pra ficar... quer vocês queiram ou não. Então, acho melhor poupar seus tempo e dinheiro com essa palhaçada.

-Escuta aqui seu moleque! Você tá pensando que é quem?

Meu pai esbravejou, completamente fora de si, me pegando pelos braços com muita força e me chacoalhando. Nunca tinha o visto daquela maneira, logo ele que sempre dizia que pessoas de classe como nós deveríamos saber como nós comportar, estava perdendo a razão agora. Tentei me soltar com o pouco de dignidade que ainda me restava, mas foi em vão, ele só fez me apertar ainda mais. Seus olhos ardiam de fúria e me encaravam de um jeito assustador, passei a ter medo daquilo.

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