Capítulo 8 - O Adeus

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[Nicolas]


-O que aconteceu? Como ele está? - Perguntei assim que ele chegou perto de mim. Ele pareceu respirar fundo e tomar coragem antes de me responder. Eu nunca tinha visto o Murilo daquela forma, por isso sabia que não viria coisa boa.

-Ah, Nicolas... Desculpas, eu não posso... Desculpa.

-Do que você tá falando?

Perguntei, estranhando o fato dele parecer meio embaraçado e choroso. Eu não queria pensar no pior, sempre tive a sensação que pensar coisas ruins só atraiam mais coisas ruins, mas vê-lo ali daquele jeito foi inevitável chegar a conclusão de que tudo havia acabado. Ele então me puxou pelo braço, me afastando da entrada do hospital e mal me olhou nos olhos quando voltou a falar:

-Eles... eles não querem que eu passe mais informações sobre o estado do Martin pra você ou que eu fale de você pra eles.

-O que? - Questionei em choque, tentando entender o que estava rolando ali.

-Desculpa, Nicolas. Mas eles não querem mais ouvir de você, nem querem que eu te passe mais informações. Levei uma bronca por isso.

-Você não vai fazer isso comigo, né?

Perguntei meio perdido e custando a acreditar que aquilo era real, não podia ser verdade as coisas que ele estava me dizendo. Simplesmente não podia.

-Eu não posso ir contra... Minha família os conhece há muito tempo. Meu pai tem negócios com o pai dele, eu não posso... - Ele disse outra vez.

-Negócios, Murilo? Vai virar as costas pra gente por causa de negócios que nem seus são? Você sabe que o Martin te tem como um melhor amigo, né?

-Eu sei.

Ele respondeu caindo de repente no choro. Nunca pensei que pudesse me decepcionar daquela forma com uma das pessoas mais próximas de mim e que eu considerava como um verdadeiro amigo. Eu podia esperar tudo dos pais do Martin, e estava claro que eles não iam com minha cara, mas não podia imaginar que fossem convencer o Murilo de uma coisa tão baixa como aquela.

-Pela amizade que eu achei que a gente tinha... só me diz, como ele tá agora? Eu juro que não te peço mais nada.

Falei com o restinho de orgulho que ainda me sobrava, eu não iria mesmo lhe pedir mais nada, depois eu arranjaria um jeito de conseguir mais informações. Agora, eu precisava focar no mais importante. Ele suspirou antes de me responder, se recompondo e assumindo de novo o ar preocupado.

-Parece que está na mesma... Os órgãos estão funcionando, o cérebro está ativo, mas ele não acorda. Os médicos não têm mais o que fazer, agora é só esperar pra ver se ele acorda do coma... parece que.... que... quanto mais demorar, menos chances dele acordar.

Foi como se tivessem me acertado um soco no estomago ao ouvir aquelas suas ultimas palavras, a minha respiração ficou mais pesada, minhas pernas vacilaram e eu fiquei tonto por uns segundos. Não! Aquilo não podia ser verdade. Não, não podia. Meu Martin. Precisei me sentar outra vez no chão pra que não desabasse a qualquer hora, coloquei a cabeça entre os joelhos e isso pareceu amenizar um pouco a tontura. Eu simplesmente não podia acreditar que tudo aquilo que eu ouvi ou que estava acontecendo pudesse ser real. Ele estava tão cheio de vida a ultima vez que nos vemos! Como? Como de uma hora pra outra tudo pode ter desmoronado? Como de uma hora pra outra eu talvez não pudesse ver mais o dono daquele sorriso que me fazia perder a cabeça? Isso não podia acontecer.

A dor que eu sentia fazia com que meu peito ficasse apertado e doesse de uma forma que me deixava sem forças pra mais nada. Não sei se o tempo havia mudado, mas eu sentia um frio percorrer por toda a minha espinha, me deixando arrepiado e fazendo com que eu cruzasse os braços pra me proteger. Nunca em toda a minha vida havia me sentido tão desamparado como estava naquele momento e eu só conseguia pensar na única pessoa que poderia me ajudar naquele momento, mas ele não estava ali e, talvez, nunca mais estivesse. Recusei qualquer tipo de ajuda ou qualquer palavra que fosse do Murilo e deixei que ele fosse embora, eu não queria ter comigo alguém que havia me traído e se aliado a outras pessoas pra me manter longe de quem eu amava.

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