[Martin]
"Então... seu nome é Martin, né? Que diferente."
"Sabe, eu gostei de você desde o momento em que te vi."
"Olha, então eu quero que você saiba que eu sempre vou estar junto com você, tá?"
"Eu te amo!"
"Martin, você quer vir morar aqui comigo?"
Aquelas frases circulavam de um lado pro outro na minha cabeça e era como se eu voltasse pro momento em que cada uma delas foi dita, ali o tempo não tinha passado e eu me lembrava até do tom de sua voz quando me dissera cada palavra. Nicolas. Sorri ao pensar em seu nome. Já não era mais tão doloroso pensar em todas as coisas que aconteceram com a gente, e o rumo que nossas vidas levaram como antes. Quando não se tem mais o que fazer, você simplesmente aceita o que o destino aprontou. Eu fui obrigado a aceitar no inúmero tempo que tive que ficar me recuperando e nas semanas que passei tomando coragem até ligar para reencontrá-lo. A vida tinha que ser assim. Afinal, ele tinha que seguir em frente, não é?
Mas como nem tudo na vida vem com um manual, os dias que se seguiram com nós dois tentando ser amigos, eu percebi que não conseguiria levar aquilo pra frente. Era ele ali. Éramos nós de novo ali. Simplesmente não tinha como ignorar aquela realidade, por isso, havia pedido uma chance para darmos continuidade ao que nos foi interrompido.
Não nos falamos durantes aqueles dias que sucederam ao meu pedido, eu sabia que ele havia ficado balançado, perdido e desnorteado, mas sabia também que havia muita coisa envolvida e ele, como sempre, pensaria mil vezes em tudo antes de tomar alguma atitude e ferir as pessoas a sua volta.
Pensar em nós dois me fez ter vontade de ir pra um lugar que era só nosso, sempre seria e sempre eu iria me lembrar dali, e de todos os momentos em que passamos juntos, com mais intensidade. A praia não estava tão deserta como nos outros dias em que eu estive ali, a noite caía, e com o calor que sempre rolava por ali, aquele era o melhor momento pra se aproveitar. A minha sorte era que pouca gente conhecia o lugar que eu buscava, então eu pude ir pra lá e apenas ficar sozinho pensando em tudo.
Lembrei do dia em que acordei no hospital, desorientado, sem saber o que tinha acontecido e com dificuldade de me mexer e falar. Eu fiquei desesperado com aquilo, porque, até onde me lembrava naquele momento, era de estar muito feliz para uma nova etapa na minha vida. Tudo tinha virado pó e eu só descobri isso muitos dias depois.
"Aquele rapaz desapareceu depois de um tempo, Martin, não deu explicação, simplesmente sumiu."
Disseram meus pais em resposta a uma das primeiras perguntas que fiz depois de me recuperar totalmente, mas o Nicolas, aquele que eu conhecia, não me abandonaria assim do nada, nem há dez anos e nem agora, pensei. Dando fim a todos aqueles meus pensamentos, eu ouvi passos de alguém se aproximando e vindo em minha direção.
-Oi.
-Eu sabia que você viria!
Minha felicidade era incontida vendo ele ali diante de mim, eu simplesmente não conseguia esconder meu sorriso. Imediatamente eu acabei com a distância que nos separava, dando três passos e o puxando para abraçá-lo.
-Sabia mesmo? – Ele perguntou, com a voz abafada em meu pescoço e me abraçando tão forte quanto podia. Como eu sentia saudades daquilo!
-Coloquei na minha cabeça que aquele meu Nico viria. Afinal você não mudou tanto assim, né?
-É... acho que não.
Nos afastamos e eu, apesar da pouco luminosidade, pude olhar em seus olhos negros e brilhantes. Ele estava prestes a chorar, e ter essa confirmação, me fez começar a ter o mesmo sentimento. Eu sabia que toda a nossa história estava se passando em sua cabeça, não era pra ser diferente e pra ele com certeza tinha uma carga ainda mais dramática por tudo que ele havia passado e sofrido depois do meu acidente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Recomeçar
Short StoryNicolas se apaixonou por Martin no mesmo momento em que o viu pela primeira vez, porém, os pais do menino estão bem dispostos a fazer com que esse relacionamento seja interrompido, tentando mil maneiras de afastá-los. Mas, sem que ninguém mais preci...