O quarto.

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   Por mais claro que estivesse o dia nenhum raio de sol penetrava o sombrio quarto de Helena. A luz de velas a mesma encontrava-se olhando para o seu reflexo. Nele ela via uma garota pálida, de longos e ondulados cabelos acaju, olhos esverdeados tristes e sem vida, poucas sardas que nem a marrom chegavam, um pequeno nariz herdado de sua mãe, lábios brancos e como sua alma sem vida.

   Sua pele experimentou a luz do sol apenas quando bebê, por isso era fraca e necessitada de vitamina D. Seu quarto escuro e frio era tudo o que ela conhecia. Sua única felicidade além de ver os pais era pintar. Seu pai como Rei era rico, portanto lhe trazia vários presentes, entre eles materiais de pintura apreciados pela sua única filha.

   Sentada em frente a sua ornamentada penteadeira ela chorou, suas quentes lágrimas escorriam sem rodeios pelo seu pálido rosto. No dia seguinte seriam quinze anos sem sair de seu confinamento. Ela segurava a borda de seu vestido branco- pérola com força como se isso fosse resolver todos os seu problemas. Agora seu vestido estava molhado, as marcas de gota quase não eram visíveis pela falta de luz.

   Helena secou os olhos e para ver se ainda estavam vermelhos aproximou o candelabro de si. No instante em que a luz bateu em seu rosto seus olhos mudaram de verde-água para verde. Esta peculiaridade ela não conseguia explicar, na luz seus olhos eram verdes, na pouca luz verde-água e no escuro azul.

   Por mais que ela secasse o rosto as lágrimas não paravam de sair, mas pararam imediatamente assim que ela ouviu um barulho vindo de uma das portas de seu quarto. A última lágrima escorreu e foi rapidamente secada por Helena.

   Um vulto entrou no quarto e foi reconhecido por Helena.

   "Olá majestade." Ela sorri, mas seus olhos não.

   "Oi filha."Ele responde cordialmente com um sorriso e recebendo uma breve reverência de sua filha. Ele encara tristemente seus olhos agora azuis.

   Ele atravessa o acolhedor e sombrio quarto ficando embaixo de um alçapão. Ricardo estende a mão e ao puxar uma corda a escada cai e é por ela que ele desaparece. Helena percebe algo caindo e com excelentes reflexos para quem passou a vida inteira em um quarto recolhe o objeto.

   Ela estava desacreditada, em seus olhos o gosto de liberdade começou a surgir. A porta que seu pai cuidadosamente trancou foi aberta por Helena. Ela deu de cara com um escuro túnel quase todo recoberto de tábuas e alguns pilares.

   A partir que andava mais úmido ficava, ela sentia sob seus pés a terra úmida. O túnel começou a apresentar uma leve inclinação que estava recoberta de pedras escorregadias.

   Até então Helena não tinha reparado no som de água, era um som calmo, mas forte. Ela avistou a luz, e mesmo antes de chegar à total claridade a luz já ofuscava sua vista.

   Ela piscou várias vezes para acostumar-se com a luz, esfregou seus olhos e quando pode ver tudo claramente seus olhos tinham brilho, seus olhos estavam vivos.

A Fantasma RuivaOnde histórias criam vida. Descubra agora