Brisa

18 6 6
                                    

   Helena não teve coragem de encarar o urso após atirar a pedra, a resposta para suas dúvidas surgiu quando o urso grunhiu de dor. Subitamente Helena foi tomada pela sua curiosidade e espiou. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto que expressava surpresa.

   O urso chorava sangue, ela soube então que sua mira era melhor do que esperava. Desesperada Helena olhou ao redor, foi em vão. Pensou em alguma escapatória. O rio. Correu até o rio seguindo sua trilha de pedras e com as mãos em forma de concha pegou um pouco de água.
 
   Correndo de volta à árvore seu desespero aumentava cada vez mais ao ver a água escorrer pelos seus dedos. Chegou ao urso  e despejou o pouco que havia sobrado da água em seus olhos. O urso parecia ter se aliviado um pouco, mas seus altos grunhidos ainda tomavam conta daquela parte da floresta.

   Helena repetiu este processo algumas vezes antes de rasgar uma parte da baia do seu vestido. Ela já havia ganhado um pouco da confiança do urso, então com o máximo de cuidado presente nela naquele momento Helena amarrou a tira de pano nos olhos do urso.

   Parando pela primeira vez Helena não resistiu e o abraçou, suas lágrimas caíam sobre o pelo do urso e logo desapareciam.

   "Desculpa. O que que eu fui fazer, eu não vou me perdoar se você ficar cego." O urso parecia que compreendia Helena. "Meu pai! Tenho que ser rápida, mas antes lhe darei um nome. Precisas de um, certo?"

   Que nome deve servir? Hoje é sete de agosto, verão. Sol. Vento. Flor. Mas qual será o sexo? Hum... Então é menina. Já sei.

   "O que você acha do seu nome ser Brisa? Bom não sei se você vai me responder então te chamarei de Brisa.  Agora preciso ir, não deixe que meu pai a veja. Corra, corra brisa."

   Pesadamente, Brisa caminhava farejando o local, quando pareceu se localizar cheirou Helena para guardar seu cheiro e foi embora. Desolada, Helena novamente seguiu sua trilha e resolveu não desmarcá-la a fim de percorrer este mesmo caminho para ver Brisa.

   Helena estava tão distraída que nem notou que já estava na gruta. Olhou para seus pés, não estavam tão sujos. Molhá-los apenas os faria juntar mais terra no caminho de volta, tentou retirar galhos e folhas de seus cabelos e de seu vestido e dobrou a barra da saia para que o rasgo não transparecesse.

   Lavou seu rosto com água corrente pois sabia que seu rosto devia estar inchado e vermelho, a água gelada a fez crer que realmente ela saiu para fora. Sorriu tolamente como se estivesse em um sonho. No caminho de volta tentou ser o mais silenciosa possível, embora daquela distância ninguém a escutaria.

   Chegou na porta e a atravessou o mais silenciosa que era possível (novamente). Claramente aliviada por perceber que estava só no aposento ela depositou a chave debaixo de seu travesseiro e sentou-se frente a frente com si mesma, Helena parecia outra pessoa, ela parecia... Feliz. Quase não se reconheceu no espelho.

   Uma porta se fecha atrás de Helena que pelo reflexo do espelho pode ver um vulto com a forma de seu pai, ele carregava um animal inerte com uma das mãos e a outra estava apoiada na rica bainha de sua espada. Seu olhar vagou pelo quarto até encontrar sua filha.

   "Olá Helena. Partirei agora." Ele sorriu um pouco para ela esperando uma retribuição. "Ah e por favor sem reverências."

   Helena sorriu para o pai o mais lindamente possível e acenou enquanto sua figura fechava a outra porta deixando o aposento. Uma vez por semana Ricardo mandava empregados caçarem pelo menos uns cinco animais, então quando Ricardo ia visitá-las ele dizia que ia caçar. Assim ele levava alguma presa de volta como prova de que ele realmente caçou.

   É por esse motivo que seu quarto possui duas portas, uma para a entrada do pai e outra para os animais. Pai, obrigada. Sorte que ele possui duas chaves, obrigada. Helena estava radiante, mas tentou não demonstrar isso. Resolveu pintar, pintar sempre a acalmava.

   Um dos motivos para Helena apreciar a pintura é que na pintura Helena era livre, ela podia pintar o que quisessem que ninguém a julgaria. Embora seus quadros sempre expressassem escuridão e tristeza eles ainda transbordavam esperança.

    O pincel em sua mão esquerda passeava pela tela com movimentos suaves, a cada pincelada mais felicidade a inundava. Sem perceber Helena estava sorrindo, cada simples traço de tinta era vivo e intenso. Era como se o pincel trabalhasse sozinho. Quanto tempo ela ficou ali apenas pintando Helena não sabia, mas reparou quando sua mãe chegou.

   A magia de pintar foi finalizada e Helena estava ofegante, nunca havia ficado em tamanha excitação enquanto pintava, o que ela sentia era algo novo que por ela não podia ser explicado com mesas palavras. Sua obra estava finalizada em apenas algumas horas.

   Ainda estava admirando sua obra quando ouviu um ruído vindo de cima, mamãe

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


   Ainda estava admirando sua obra quando ouviu um ruído vindo de cima, mamãe. Virou a tela de costas e semi-escondeu seu material de pintura. Ajeitou mais ou menos seu estado implorando para que não deixasse transparecer nenhuma mancha de tinta, por precaução apagou uma das velas mais próxima impedindo que sua mãe mesmo que quisesse enxergasse qualquer "defeito".

   O alçapão foi aberto e por ele desceu uma bela mulher vestida em nobres roupas de empregadas, se estas roupas eram consideradas nobres pelos plebeus as da realeza nem chegavam perto. Quando terminou de descer a escada aprumou suas vestes e virou para encarar a filha.

A Fantasma RuivaOnde histórias criam vida. Descubra agora