Por quê?

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   Por quê? Por que logo agora? O que eu faço?  De forma rápida e sorrateira Helena se escondeu atrás de uma grande árvore, de lá podia observar a causa de sua tristeza. Ricardo estava a sua frente. De costas para ela apoiava a mão direita na cintura enquanto a outra descansava na bainha da espada, estava pensativo e encarava o céu de forma nostálgica. Não pensem que ele era o vilão da história, nunca teria matado Brisa se soubesse da importância dela para sua filha que tanto amava. Mas se soubesse disso as fugas de Helena seriam descobertas. 

   "Bom agora vamos pegar aquela carne, uaah!" Disse se espreguiçando. Helena não tinha mais tempo, aproveitou que seu pai estava tomando água do riacho a sua frente e subiu na árvore, nunca havia subido em uma árvore antes, mas quando menor costumava escalar as vigas de seu quarto, pelo visto a memória muscular lhe favorecia um tanto. Olhou em volta e logo formulou um plano, quebrou um galho seco tentando fazer pouco ruído, e juntando sua pouca força partiu o galho ao meio, como o galho estava seco o estalido foi alto. Sem saber se ia funcionar ou não Helena jogou o graveto a sua frente e rugiu.

    Em um rápido reflexo Ricardo virou para a origem do som. "Ursos." Foi o que falou antes de correr na direção de Helena passando direto por ela. De que forma ele não me viu? Estava tão óbvio, esperava mais, embora esteja agradecida. Assim que os barulhos de passos se tornaram mais fracos Helena começou a descer, olhou em volta para ter certeza de que estava fora de vista de seu pai. Assim que constatou que seu pai não podia mais vê-la andou seguindo a trilha de pedras, chegou na gruta e fez o caminho de casa. A chave que havia enterrado na entrada foi pega e usada para abrir a porta de seu quarto. De volta ao seu tão conhecido cômodo destravou a porta que lá tinha para procurar uma pá.

   Ela sabia o que fazer, mas seu corpo não a obedecia. Caiu de joelhos, estática, com nojo, com medo e surpresa. Nunca havia tido curiosidade de adentrar aquela porta, mas hoje era necessário. Se sentiu grata por não ter aberto essa porta antes. Em sua frente vários animais estavam pendurados no teto, todos mortos por seu pai. Seu pai havia feito isso, era só horrível, apenas... Triste. Secou o início de lágrimas que não deixaria cair de nenhuma maneira e se levantou, não iria baixar a cabeça para isso. Olhou ao redor e achou uma pá, já havia visto seu pai usá-la uma vez para esconder um presente de Helena para ser surpresa no dia seguinte, falhou miseravelmente pelo visto. 

   Se aproximou da pá e tentou levantá-la, pesada. Tentou puxá-la mas não conseguiu. O seu máximo era levantar a pá a poucos centímetros do chão. Ajoelhada naquele chão imundo e  usando toda a sua força levantou a pá com as duas mãos, assim que a pá se suspendeu poucos centímetros do chão Helena passou sua cabeça por baixo do cabo da pá apoiando este em seu pescoço. Isto dói, ai, ai, ai. Tudo bem, eu consigo. Mas mesmo que eu consiga levar a pá de que adianta se eu não terei forças para usá-la? Talvez se eu quebrá-la, ou parti-la. Sim isto deve dar certo.

   Largou a pá com um estrondo chamativo e tratou de olhar ao redor novamente, achou um machado, muito pesado. Perto do machado se encontrava uma machadinha, menor e de fácil manuseio. A pegou e olhou a pá novamente, era preciso encontrar um bom lugar para cortar, o que escolheu foi deixar só um pouco de cabo. Como justificaria isto para seu pai depois não sabia. Tentou cortar, era difícil e pouco produtivo, mas era nítido seu esforço. Sua mão escorregou e a machadinha atingiu a madeira de lado, instantaneamente uma lasca de madeira soltou e caiu longe. Na diagonal talvez? Está funcionando, que ótimo, mas acho melhor fazer no sentido contrário também. Ops. 

   A pá foi empurrada para o lado com o impacto da machadinha. Então tenho de manter a pá parada enquanto estiver cortando, mas como? Hum, vou apoiar a ponta do cabo na parede e a outra eu seguro com o pé. Funcionou melhor, mas depois de um tempo o corte começou a ficar mais exaustivo e menos produtivo, seus braços clamavam por uma pausa. E assim Helena concedeu, parou e observou o que havia feito, definitivamente havia tido um progresso. Após pensar chegou a conclusão de que seria melhor virar a pá, virou e começou a cortar na mesma reta que o outro corte. O cansaço a chamava para parar, e quando estava quase desistindo um estalido encheu o cômodo. 

   Ela tinha conseguido, ela fez o corte. Isto era ótimo. Sem esperar mais guardou a machadinha escondeu o cabo cortado e retirou as lascas do cômodo. antes de deixar o tão temido cômodo recolheu uma bolsa bem do fundo daquele lugar e lá colocou a pá. Seu pai talvez não sentisse a falta dela por ser velha e esquecida. Assim que pronta Helena saiu.

A Fantasma RuivaOnde histórias criam vida. Descubra agora