A grama sob seus pés nem tinham tempo de fazer cócegas em seus pés tamanha a velocidade de Helena, sua rapidez aos olhos dos outros era pequena, quase a de uma criança. Mas para ela era uma velocidade incrível, mais do que sempre pôde correr. O caminho de pedras estava intacto e nem sinal de Ricardo, logo pôde avistar os filhotes e o corpo de Brisa. Dirigiu-se até o lado da ursa e começou a cavar, seu ritmo era lento e nada produtivo, seu corpo latejava em várias regiões e suava muito. Não consigo ir mais rápido, sou muito fraca. Ai, ai. Sua mão estava com bolhas e sangrava bastante, olhando de seu ferimento para o buraco que escavara era deprimente. Mal cabia um dos filhotes, e já havia feito tanto estrago no corpo de Helena.
Correu até o rio e lavou o ferimento, ardia bastante. Rasgou uma beirado do vestido e amarrou com a ajuda de seus dentes em volta do ferimento. O sangue já havia parado de escorrer mas ainda assim a tira de pano ganhou uma coloração vermelha. Helena andou pesadamente de volta ao local do futuro túmulo. Os filhotes de certa forma aninharam-se perto do corpo da mãe e dormiam não muito tranquilos. E mais uma vez Helena estava cavando com o máximo de força que possuía e que tentava obter, parou um pouco para retirar o suor de sua testa e se sentou olhando para o céu que já demonstrava sinais do fim do dia.
Um barulho a retirou de seu estado de transe e foi aí que ela percebeu que os dois filhotes haviam compreendido o que Helena queria fazer e a estavam ajudando, de maneira muito mais eficiente que a dela, a cavar o túmulo. Obrigada, acho que devo me juntar a vocês. Pegou a pá e recomeçou a cavar, com a ajuda dos ursos o processo foi bem mais rápido. As estrelas já cobriam completamente o céu quando o trabalho foi terminado. Com cuidado Helena derrubou a ursa no túmulo e ao ver o corpo inerte de Brisa caído à sua frente chorou, alto, muito alto. Helena gritava a plenos pulmões expulsando toda a mágoa, remorso, culpa e solidão que sentia.
Os ursos também gritavam pela perda da mãe. O céu também os acompanhou derramando sobre eles pesadas gotas de chuva. Por quê? Por que pai? Por quê? Pai..
" Brisa... Brisa! BRISAA! Vamos! Levanta! ABRE OS OLHOS! ACORDA! Você não precisa mais dormir. VAMOS, LEVANTA. LEVANTA...Levanta... Por favor... Só por agora... Nem precisa se mexer, só abre os olhos... " Helena tentava se convencer de que não passava de um engano, que a Brisa ia acordar, ia voltar. Visto que nada disso aconteceria Helena gritou, o último grito da noite. Olhou para os filhotes e viu que eles estavam aconchegados entre si debaixo de uma árvore, chegou perto deles fez uma pequena carícia se levantou e começou a enterrar Brisa completamente. Enquanto enterrava percebeu que só havia tido um dia de convivência com ela, como ela poderia tê-la afetado tanto? Como apenas uma hora de convivência com uma ursa poderia tê-la feito gritar e chorar à sua morte? O que que a Brisa tinha que ela não pôde perceber mais que de alguma forma a afetou tanto assim?
Quando deu por si novamente brisa já estava totalmente coberta por terra e seus filhotes não estavam mais à vista. Olhou para o céu quase como que implorando por respostas, mas tudo o que recebeu foram pesadas e geladas gotas de chuva em sua pele pálida. E então se entregou a um choro silencioso.
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A Fantasma Ruiva
Historical FictionNa época do feudalismo um fruto de um amor proibido tentar desvendar o mundo desconhecido por seus olhos cheios de curiosidade. Obs: Fotos provenientes das internet.