Fraquezas

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   Suas pernas fraquejaram e cederam caindo no chão, os olhos estavam arregalados e marejados. Sabia quem havia feito, mas quanto a isso não podia fazer nada. Helena assistia imóvel à cena, seus olhos vagando entre um filhote e outro. Olhando nos olhos dos filhotes percebeu que compartilhavam dos mesmos sentimentos, medo, desespero, incredulidade e tristeza. Os pequenos ursos cutucavam e chamavam a mãe morta. Brisa estava morta.  Tudo o que Helena conseguia pensar era que perdera sua única amiga. Não lhe importava que fosse um urso, o que lhe importava era saber que seu pai havia a matado e que não poderia fazer nada em relação a isso. 


   As lágrimas não desciam devidamente, pareciam congeladas. Ajeitou-se tentando se recuperar e caminhou até onde descansava Brisa. Quando tocou em seus pelos os mesmos estavam quentes, mas não a ponto de parecer recente. Seus dedos passearam por entre seus pelos, os pequenos ursos pareciam não se importar com a aproximação de Helena, pelo contrário. Se aconchegaram nela apoiando suas cabeças cada uma em uma perna. 


   "Brisa, Brisa. BRISA!" Tentando chamar inutilmente a ursa Helena gritava e se agarrava desesperadamente nela. Seu corpo estava tombado por cima do de Brisa que estava de lado, ajoelhada e debruçada Helena chorava junto aos filhotes. Mesmo não podendo compreender a dor que os ursos estavam sentindo tentava não demonstrar tanto desespero, e como eu disse uma mera tentativa. Nunca esteve em tal estado antes, parecia que conhecia Brisa desde que nasceu, sendo que a havia conhecido ontem.


   Cogitou a ideia de que pela sua extrema necessidade de se socializar ela se apegaria a qualquer um sem pensar duas vezes. Mas este pensamento logo foi afastado e deletado. Pensou no quão inútil seria ficar apenas se lamentando, em um relutante movimento desencostou do enorme corpo do animal limpando sua face o máximo que podia. Olhou para os pequenos ursos da perspectiva de um urso e sentiu pena, medo e culpa. 


   Queria ajudá-los, queria discutir com seu pai, queria protege-los do mundo que os rondava. Ainda não estavam prontos para a floresta, não estavam prontos para adentrar no ecossistema como predadores, não passavam de meras presas prestes a servirem-se de bandeja para a morte. O que farei agora? Brisa necessita de um enterro adequado mais discreto, o que fazer? Pá, tem pá em casa, uma que papai usa para enterrar animais podres. Preciso pegá-la. Irei retornar.


  "Hey pequenos, preciso ir, mas voltarei. Disso tenham certeza."  Até daria um sorriso para os "pequenos" se soubesse como, não tinha muitas oportunidades para usá-lo, então este se tornou desnecessário. Acariciou o topo da cabeça dos ursos e enrijeceu os músculos para se levantar. Ao perceberem que Helena ia se afastar, os ursos subiram em cima de seu colo, como não cabiam apenas apoiaram as patas dianteiras, e a olharam com olhos tão necessitados e saudosos que Helena não pode não se derreter sob eles.


   Para como os acalmar Helena lhes deu um olhar maternal e acolhedor, os passando segurança e confiança. Tentou sorrir e parecer bem, algo um pouco complicado já que estava com o rosto manchado de lágrimas e toda suja. Olhou para o peso morto a sua frente reparando na faixa que cobria seus olhos. Como se a ursa fosse de cristal Helena tirou a faixa de seus olhos e acariciou a ferida que a mesma havia feito. Olhou para as costas da ursa e fechou sua mão ao redor de uma flecha de prata adornada pelos símbolos da realeza, com cuidado e sem pressa retirou a flecha do coração de Brisa. A flecha pingava sangue, o sangue caia de gota em gota no colo de Helena, seu vestido agora tinha recebido uma estampa, uma estampa triste mas quente. Observou cada traço do rosto da ursa e pensou o que teria acontecido se não tivesse recolhido a chave de seu quarto. Afastou o pensamento e se levantou, olhou para os ursos e sorriu para eles, como quem diz para esperar. Sua comunicação com os ursos não necessitava de palavras ou vestiu extravagantes, tudo podia ser dito apenas pelo seu sorriso.


   Retomou a trilha que havia feito no caminho ouvindo tudo atentamente. Mas algo a intrigava, porque seu pai iria matar um bicho e deixá-lo no meio da floresta em vez de levá-lo e usufruir de sua carne e pele?  Naquele momento não tinha tempo para pensar nisso, apenas seguiu a trilha de pedras. Chegando no riacho se deparou com algo que estava fora de seus planos, uma gota de suor escorreu pela sua testa.  O que fazer? Essa era a pergunta que mais queria resposta.

 O QUE FAZER?



A Fantasma RuivaOnde histórias criam vida. Descubra agora