Catarina

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"Helena." Sua suave e cansada voz ecoou pelo quarto fazendo Helena se sentir mais aconchegante, pois era sua mãe. E diferente de outras mães, Catarina era sábia e para quase tudo tinha resposta, cuidava da filha com carinho e não permitia que ficasse totalmente triste. Seus calmantes sorrisos conseguiam acalmar até o mais perturbado dos corações, o que omitia de todos é que aquele sorriso caloroso e gentil era forçado, Catarina conseguia se forçar ao máximo para não demonstrar seu cansaço. Sorrindo verdadeiramente apenas na presença de Helena ou de Ricardo. A animava, mas também se culpava por não poder ter dado uma vida melhor para sua filha, Catarina gostaria que aquele modelo de governo não existisse.

"Mãe, bem vinda."
"Prepararei seu banho, a janta trarei daqui a pouco." Após o término de sua ligeira explicação Catarina ocupou-se apenas no ato de trazer água quente de cima despejando-a em uma bacia. assim que o banho estava pronto Helena apanhou seu sabonete caseiro e quando totalmente nua permitiu que a água quente a acolhesse.

Seus músculos relaxaram lhe dando a sensação de leveza, rapidamente se lavou e em instantes já estava totalmente vestida. Sentia-se bem mais leve e descansada, andar por aí e pintar eram tarefas cansativas. Enquanto sua mãe preparava um grande jantar para no mínimo seis pessoas Helena, que estava sentada na beirada de sua cama, ficava a tentar adivinhar de que seria a sopa de hoje. Como empregada e amante do príncipe Catarina tinha mais recursos do que os outros plebeus, e como sempre fora extremamente gentil todos os dias Catarina fazia comida extra para quem não tem ou tem demasiado pouco. Por essa e mais razões que todos os plebeus a consideravam como sua guardiã ou enviada de Deus, Catarina ria sozinha de seus apelidos mas nunca se queixava deles.


Pelos poucos ruídos que vinham lá de cima Helena podia imaginar como seria cozinhar, nunca havia feito nada doméstico além de arrumar e limpar a poeira que acumulava em seu quarto, sempre quis saber como seria ser "normal". Mas seu rosto não pode ser visto por ninguém, como ruiva é caçada pelos religiosos como se fosse de satã, por todos seria caçada por ser filha de um amor proibido. Por mais que seu cabelo a diferencie drasticamente de seus pais Helena carrega os traços de seus pais nitidamente formados e perceptíveis. Medo ela não tinha, mas seus pais tinham o suficiente para mantê-la escondida. Por tanto tempo que ficou escondida geralmente ela teria atrofiado, mas seus pais a faziam realizar diversos exercícios para que seu corpo não atrofiasse e ela pudesse se movimentar normalmente. Algo que Helena agradecia de joelhos.


Os barulhos costumeiros da preparação da comida havia cessado, sinalizando que a sopa já estava pronta para ser servida. Passos foram se aproximando até que parassem e uma mão abrisse o alçapão, só que diferente de antes do corpo de Catarina apenas suas mãos ficaram à mostra. O prato de sopa estava suspenso pelas mãos de sua mãe, utilizando o baú em que guardava seus poucos objetos Helena subiu e pegou o prato de sopa. Deu um rápido agradecimento à mãe e quando o alçapão tornou a fechar atacou o prato como se não comesse a dias.


Antes não tinha sido possível saber qual era o sabor da sopa, mas agora era, era uma sopa de peixe. Alimento considerado nobre antigamente, só que Catarina possuía seus contatos e uma ótima experiência na cozinha. O gosto da sopa lembrava-a de quando a achava nojenta, apenas não reclamava para não parecer mal agradecida, o que era muito, então continuou a comê-la até que se acostumou com o gosto e a sopa tornou-se num de seus pratos preferidos. Após comer afastou o prato para o lado e ficou estudando seu reflexo. Nele podia ver que em sua bochecha esquerda tinha um arranhão, sua mãe com certeza deve ter notado mas teve a bondade de não comentar. Alisou o arranhão percebendo que não era fundo e que se curaria rapidamente.


Terminada suas conclusões medicinais ela deitou e tentou dormir sem sorrir para que sua mãe não desconfiasse quando viesse buscar o prato.



A Fantasma RuivaOnde histórias criam vida. Descubra agora