Capítulo 28

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Caminhávamos para a porta de casa apreensivos enquanto um monte de gente saía pela mesma porta. O Henrico como sempre, muito prestativo queria ir connosco, mas eu impedi-lhe, disse que era um assunto de família e que nós conseguiríamos resolver aquilo sozinhos.

Quando todas as pessoas acabaram de sair eu , o Luigi e a Georgia entramos a tremer. A verdade é que todos nós tínhamos medo e ninguém sabia exactamente o que falar ou que explicação decente dar.

Lá estávamos nós, com a casa revirada dos pés a cabeça. Lá estávamos nós no meio da lixeira, fumo e confusão. Lá estávamos nós de frente a um homem furioso, que a qualquer momento podia perder a cabeça. Aí estávamos nós sem explicação nenhuma que prestasse para dar ao nosso pai.

O Luigi estava nervoso, muito nervoso, era sinal de que ele havia feito algo errado e ele sabia, a única coisa que ele não sabia era como se safar como sempre fazia. Também consiguia sentir a Georgia meio inquieta e não conseguia parar de olhar para o chão, acho que eu era a única que conseguia olhar para o rosto do meu pai naquele momento. Então, como ninguém se pronunciava decidi começar a falar.

— Pai... - Rapidamente fui cortada.
— Vai para o teu quarto Mahália, que a conversa não é contigo. - O meu pai diz num tom severo.

Eu queria pronunciar-me mas o olhar repreendedor do meu pai e os sinais do Luigi fizeram-me recuar.

Então decidi subir sem falar nada, quando ouvi o meu pai dizer: — Tu também. - Ele referia-se a Georgia, que começou a seguir-me de imediato.

Caminhei até a porta do meu quarto abri e fechei, mas não cheguei a entrar. Em bicos de pés caminhei até a escada e sentei-me para que pudesse ouvir a conversa.

— Pai... - O Luigi tenta falar.
— Cala a boca Luigi! - O meu pai grita com ele. — Eu sinceramente não sei o que dizer, eu não sei... - Ele parece desapontado.
— Desculpa... - O Luigi valentão havia desaparecido.
— Desculpas?! Isso é tudo o que tens a dizer? Já não basta influenciares a tua irmã também tens que trazer o mundo que vives para dentro da nossa casa?! Da nossa casa Luigi? O quê que as pessoas vão pensar? O que elas vão falar? - O meu pai parece muito zangado.
— O senhor está preocupado com o que as pessoas vão pensar? - O Luigi finalmente manifesta-se.
— Não, eu estou preocupado com a educação que eu e a sua mãe demos e você parece não ter recebido. Porque pessoas normais, por mais que não frequentam uma igreja ou não sejam tementes a Deus, eu não acredito que lhes passe pela cabeça dar uma festa em casa enquanto têm um irmão hospitalizado ou pais que não dormem a dias por causa desse irmão. - Essa doeu até em mim. Meu pai tinha razão e o Luigi sabia. Era indiscutível.
— Pai, foi mal... - A voz do Luigi sai num sussurro.
— Foi mal? É tudo o que você tem a dizer Luigi Júnior Salvatore? - O papá pergunta.
— O que o senhor que eu faça? Não vê que já estou a me sentir mal o suficiente? Quer que eu fique pior? Que eu me ajoelhe e peça perdão ou como é que é? - O Luigi explode.
— Quer saber, estou farto dessa tua irresponsabilidade e falta de educação, acho melhor pegares nas tuas coisas e saíres daqui. - O meu pai diz sem paciência.
Assim que ouvimos aquilo ficamos em pânico. Eu estava atônita com o que acabara de ouvir, eu não queria acreditar que eu tinha ouvido aquilo sair da boca do meu pai.
— O quê? - O Luigi pergunta incrédulo.
— O que você ouviu. - O meu pai diz severo.

Neste momento não aguento e desço as escadas. Quando o fiz até eu fiquei surpresa comigo.
— Pai... - Chamo por ele que se enfurece de imediato por me ver ali.
— Eu não mandei você ficar no quarto? - Ele pergunta chateado e o Luigi me encara.
— Pai, não foi o Luigi, fui eu. - Digo sem pensar duas vezes. O Luigi estava de boca aberta e queria manifestar-se.
— Eu não acredito. - O meu pai diz e tenta ignorar.
— Mahália... - Corto o Luigi.
— Luigi, não precisas mentir mais por minha causa. Eu posso, eu sou capaz de assumir a responsabilidade dos meus próprios actos. - Todos naquela sala estavam surpresos, incluindo eu, afinal eu é que era sempre salva pelo Luigi e não ao contrário.

Meu pai olhou para mim, olhou bem no fundo dos meus olhos por segundos e abanou cabeça. Ele não disse nada. Apenas olhou e não disse absolutamente nada e foi o que mais doeu. Receber aquele olhar de desapontamento, não era uma coisa que estava a espera, não era uma coisa que queria ver ou receber nunca do meu pai, do homem que moldo-me a vida inteira, não era. Eu estava à espera que ele explodisse e grita-se comigo como fez com o Luigi, mas infelizmente não foi isso que aconteceu.
Eu estava com lágrimas nos olhos, mas manti-me firme.
— Pai! - Chamei-lhe e tudo que ele fez foi subir as escadas e ir para o quarto dele. Naquele momento tudo o que eu mais queria era desaparecer.

— Tu não precisavas ter feito isso Mahália, eu iria resolver. - O Luigi diz finalmente.
— Resolver? Resolver como? - Perguntei.
— Eu não sei, eu ia dar um jeito, só não precisavas fazer isso. - Ele diz.
— Dar um jeito? Tal como tu sempre dás? A fugir dos problemas ou arranjar mais? Dar um jeito como fizeste quando a mãe tocou no assunto do emprego ou dar um jeito tal igual ao que fizeste quando foste parar na cadeia? - Nesse momento eu não me reconhecia mais, cadê as correntes que me prendiam o pensamento? Porque elas não estavam a prendê-los agora?
— Mahália...
— A Mahália tem razão Luigi, tudo o que devias fazer era agradecê-la por livrar-te. - A Georgia desce.
— De uma certa forma eu me sinto culpada, porque se eu estivesse aqui eu podia ter impedido. O pai tem razão, nós temos um irmão no hospital e eles não dormem a dias por estarem lá no hospital e nós aqui a viver dessa forma, a fazer essas coisas. - Digo. A culpa me corroía por dentro.
— Mahália todo mundo faz besteira, tu nunca fizeste uma merda?
— Todo mundo faz merda luigi, é claro, mas nem todo mundo é inconsequente e irresponsável. Eu já fiz merda, mas as merdas que eu fiz nenhuma delas levou-me a cadeia ou...
— Eu percebi. - Ele diz rendido.
— Eu vou arrumar a casa. - Digo sem fazer mais comentários. Eu estava acabada por dentro e eu não sabia o que fazer.
— Eu te ajudo. - O Luigi diz.
— Não precisa.
— Mas fui eu o responsável.
— Já disse que não precisa. Tudo o que o tens que fazer é ir chamar o Rocco e a Marlene onde quer que eles estejam.

O Luigi não discute e sai.
— Eu posso te ajudar? - A Georgia pergunta meio apreensiva.
— Você pode sim. Você arruma a cozinha e eu arrumo a sala e depois podemos ir juntas lá para fora recolher o lixo. - Digo. A Georgia entende bem quando eu não quero conversar.
— Não se corrói não, o Luigi estava a precisar desse choque de realidade. - Ela diz ao perceber que estava mal por falar assim com o Luigi.

Dou um sorriso leve para ela e ela caminha até a cozinha enquanto eu limpo a sala.

"Será que eu fiz certo?"

MaháliaOnde histórias criam vida. Descubra agora