Eu ainda estava meio tonta sentia a minha pressão baixa e os meus olhos meio pesados.
Recuperava os sentidos aos poucos.
— Keid! - A minha voz soa fraca. — O quê que aconteceu? Eu perdi o nosso filho? - Pergunto preocupada.
— Não, foi apenas uma ameaça de aborto. O estresse e o esforço não são bons amigos da gravidez, ainda mais nos três primeiros meses que são os de mais risco. - Uma voz grave explica.
Tento me sentar na cama para encarar o dono da voz e sou ajudada pelo Keid, que com todo cuidado do mundo me ajuda a sentar.
Encaro o homem com o semblante amigável e forço um sorriso para ele, de forma a retribuir.
— Com tudo, precisa descansar por agora e comer qualquer coisa. - O padrasto do Keid dá continuidade as suas palavras.
— Não precisa se preocupar. - O Keid aperta a minha mão e beija a minha testa carinhosamente. — muito obrigado por cuidar dela. - Ele agrade ao padrasto e o mesmo assente com um sorriso enorme no rosto.
— Ricardo pode nos dar licença, por favor. - A mãe do Keid diz e o mesmo sai do quarto, deixando apenas eu, o Keid e mãe dele.
Olhei para o Keid e o mesmo me encarou sem dizer nada. A mãe dele buscou uma cadeira e sentou-se à nossa frente.
— Bom! - Ela começou por dizer. — Ainda bem que você está melhor, minha querida. Eu queria muito falar com vocês, sei que o Keid se sente desconfortável com relação a isso, mas de qualquer uma das formas eu irei falar. - O Keid endireita-se do meu lado. — Eu sei que eu não fui uma boa mãe, mas eu tenho me esforçado para tal. Isso não vai limpar o que eu fiz, não vai me trazer de volta o sono que perco todos os santos dias, mas talvez contribua para que algo mude, e mude para melhor. Eu sei que você pode ser um pai maravilhoso, e você Mahália - Ela me encara. — Você pode ser uma excelente mãe. O que eu quero dizer é que, vocês não precisam esperar uma tragédia acontecer para serem bons um para o outro, para entenderem um outro, para compreenderem um ao outro, será que vocês me entendem? - Ela desvia o olhar para ambos. Eu abraço o meu corpo e desvio o olhar para o chão enquanto o Keid a encara sério, mas em nenhum momento se atreve a dizer nada. — O que eu estou a tentar dizer é, que vocês não têm feito o esforço de compreenderem-se. Como vocês pensam em casar se nem conseguem conviver? Como querem ser bons pais se só pensam no vosso filho depois de quase perdê-lo? Como pensam em formar uma família se pensam em carregar uma nuvem negra? E um lar? Um lar não é uma casa como vocês pensam, um lar é um ambiente harmônico, um ambiente onde reina o amor e a compreensão, ninguém forma um lar sem passar por certas dificuldades. Se vocês não estão prontos para passar por elas, melhor nem pensar em ter um relacionamento, melhor nem pensar em casar porque vocês nunca se compreenderão. Vocês precisam conversar! - Ela diz e levanta-se da cadeira. — Fica bem, cuida bem do meu neto e descansa bastante querida. - Ela beija a minha testa e caminha até a porta.
Eu continuo abraçada ao meu corpo sem dizer nada e ele continua com o seu maxilar travado e o olhar distante, enquanto tem a aparência séria. O silêncio corrói ambos dentro do quarto. Era indiscutível, a mãe dele tinha razão. Não estávamos prontos para formar uma família, quanto menos um lar. Como poderíamos pensar em nos casar se mal sabíamos o que significava um casamento?
Estavámos ambos pensativos, aquelas palavras nos tinham atingido de uma forma que não estávamos à espera. Nesse momento eu só conseguia pensar se era mesmo isso que eu queria, talvez estava equívoca por ele ter sido o primeiro e o que me fez sentir coisas. Se calhar estava confusa com algumas ideias que ainda possuía dos ensinamentos vindos do meu pai.

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Mahália
RandomEles eram três e eu apenas uma. Poderia eu repartir o meu coração e dividi-lo em três partes iguais? Ou poderia eu tirar um pedaço enorme e escolher a quem deveria dar? Era um triângulo, um triângulo equilátero, enquanto eu não sabia o que fazer...